(...) o PSD (...) É um (...) predador (...)
Pode-se concordar ou discordar de Luís Filipe Meneses em muitas das suas atitudes passadas e até presentes. O que não pode negar-se-lhe é o seu apego ao partido e os inestimáveis serviços que lhe tem prestado, ao contrário de tantos outros que tanto e tão despudoradamente o atacaram.
Antes de prosseguir e para evitar interpretações não consentâneas com a realidade, declaro que nunca fui apoiante de Luís Filipe Meneses e não comungo de muitas das suas análises e rotas políticas.
O que LFM diz no artigo do Diário de Notícias de hoje, "Depois de mim virá..." (título que considero particularmente infeliz), para o qual acima faço o link, pode até ser encarado com uma mera vendetta por tudo quanto lhe fizeram passar, quando do seu consulado na direcção do Partido Social Democrata.
A uma primeira vista, assim é ou, quando menos, parece ser.
Quem se entrega à tarefa de ler, porém, deve sempre fazê-lo de modo a não se quedar pelas impressões que surgem mais na rama - até induzidas pelo inadequado título - mas procurar o real fundo da questão.
E, neste caso, fazendo-o, de imediato constatará que o "ataque" a Manuela Ferreira Leite e ao que ela representa e que, aqui, no blog e em anterior oportunidade, tive oportunidade de caracterizar, podendo ter sido evitado - até para que os leitores da "rama" não façam leituras apressadas e os adversários não se sirvam de uma ou outra frase menos cordata (embora de justificada presença, pelas judiarias de que foi alvo pelos actuais detentores do poder laranja) para provarem o que provar não podem, se bem que poderão, isso sim, iludir os desprevenidos - mais não é do que uma preparação para o que no artigo de opinião está para vir, ou seja, o verdadeiro tema do escrito, isto é, a característica de predador que enforma o PSD, também por força da sua indefinida matriz ideológica.
Predador de líderes, predador de tudo quanto mexe no partido, predador de si próprio, enfim.
E essa sua condição não é "qualidade" recente.
Começou logo com Sá Carneiro que só não foi predado porque soube, como ninguém, interpretar o sentido das bases, então ainda não contaminadas por interesses que não os do partido, e nelas se firmar inamovivelmente. Continuou com Francisco Pinto Balsemão, que acabou como se sabe e não mais quis passar pelo mesmo, tendo-se entregue aos negócios.
No entanto, nunca foi tão sentida quanto com a eleição e posterior consulado de Aníbal Cavaco Silva. E se é certo que nunca o partido teve tanta expressão eleitoral e força social como com Cavaco, não menos certo é que foi com o mesmo Cavaco que perdeu a "inocência" e se tornou predador e autofágico.
Os interesses instalaram-se e nunca mais deixaram o partido desenvolver-se em paz e harmonia, com todos a remar no mesmo sentido, mesmo na enriquecedora diversidade de opiniões, sempre que o essencial estava em jogo.
Com Cavaco, o partido julgou estar a chegar à vitória final e decisiva, quando, no verdade, se perdia. Irremediavelmente até hoje.
Esta constatação, sendo verdadeira, não pode, contudo, desviar-nos de uma outra, que Luís Filipe Meneses aborda e que é o tema principal do seu artigo, qual seja a de (...) o PSD nasceu com uma matriz ideológica difusa (...).
Ora, esta é uma constatação por demais evidente, para que não seja percebida - e reconhecida -por todos quantos se debruçam sobre o fenómeno político português dos últimos trinta e cinco anos.
Já em finais de 1983 ou princípios 1984, antes, portanto, do consulado cavaquista, quando de numa visita de Rui Machete, então um dos líderes do PSD, à cidade em que vivo, em sessão partidária tive oporturnidade de, dirigindo-me a Machete, afirmar a minha convicção de que o maior problema com que o partido se debatia já - e mais se debateria no futuro - estava na indecisão reinante entre a opção por uma matriz social-democrata, com uma vertente liberal, e uma matriz liberal, com uma vertente social-democrata.
Essa minha convicção nunca se esbateu e está, hoje em dia, mais reforçada. Com a agravante de que, entretanto, o partido perdeu a pureza da inocência bem intencionada, completamente dominado que foi por arrivistas prenhes de interesses difusos, pouco claros, que, à sombra de Cavaco, foram ingressando no partido.
Sabe-se o que aconteceu depois. O PSD inicial, já infectado desse pecado original, foi-se degradando cada vez mais, até que chegou ao estado a que assistimos impotentes. E impotentes, porque o poder laranja tem estado, salvo em raríssimos momentos - os de maior convulsão resultante de sacudidelas da canga... - em que militantes - atrevo-me a dizer mais genuínos - tentaram fazer regressar o partido ao seu espírito inicial, nas mãos de quem o acorrenta a um verdadeiro muro da vergonha.
Enquanto os seus militantes mais puros, porque mais libertos de jogos de interesses, não conseguirem triunfar das forças de bastidores que o manietam, o Partido Social Democrata muito dificilmente poderá ser útil a si próprio e ao país, aos seus militantes e aos portugueses.
E vou mesmo mais longe, reafirmando o que já em outras oportunidades dei a saber. Em minha opinião, o PSD necessita de se livrar, de uma vez por todas, da canga que lhe tem vindo a ser ajaezada por Cavaco Silva, com o precioso auxílio de Manuela Ferreira Leite, José Pacheco Pereira e Marcelo Rebelo de Sousa. Se há que dar nomes aos bois, pois então, eles aí estão. Os nomes, claro.
O diagnóstico está feito. De há muito. Há, pois, que tirar conclusões, traçar caminhos e agir.
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2 comentários:
Concordo sim senhor!
Um abraco de amizade dalgodrense.
Viva, Al!
Infelizmente, também eu concordo.
:-(
Abraço
Ruben
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