Os portugueses têm de salvar-se de si próprios, para salvarem Portugal

domingo, 3 de agosto de 2008

1691. A Blogosfera e o relacionamento humano


Que a Blogosfera veio revolucionar o mundo e a forma como nós, cidadãos desse mundo, nos encaramos mutuamente, é coisa fora de qualquer dúvida.

Como afirma Eduardo Lunardelli, em magnífico post intitulado Duas palavras no Varal, no seu excelente Varal de ideias, fazendo referência directa a um notável texto do italiano Marino Niola , lido no blog Psicocafé, "(...) a blogosfera é um espaço livre para toda a comunidade humana. É uma pequena e simples janela para entrever a realidade do outro, ou mesmo a verdadeira “porta aberta para entrar” aonde todos podem-nos visitar, dando as suas opiniões em redes sociais de livre escolha (...)".

E acrescenta, pondo uma questão extremamemnte pertinente:

(...) A unidade do género humano começa na blogosfera: Não mais comunidade local, e localizada, baseada na proximidade geográfica, residencial, citadina, mas na forma inédita de pertence”. Assim, nós bloggers, somos uma nova categoria de ser humano, os nossos comportamentos nos permitem verificar como toda a humanidade está mudando toda “categoria de identidade e de aparência: sempre mesmo material, substancial, fixo e sempre mais flutuantes, móveis, convencionais”. É isso que somos? Não teremos consistência relacional uns com os outros? Será que a lista de links aí ao lado, nada quer dizer na realidade (...)".

Na verdade, caro Eduardo, eu diria que a unidade do género humano recomeça na blogosfera. Depois de por milénios ter andado mutuamente afastada, por fronteiras, por ideias, pela diversidade de línguas, eis que a Blogosfera lhe veio dar os instrumentos de que necessitava para se reunir como nunca antes, para dialogar sem fronteiras, sem outras barreiras que não as impostas pela vontade de cada um per se.

Muito caminho há ainda para percorrer, mas a rota está finalmente traçada. Sim, Eduardo, meu amigo, é isso que somos, actualmente.

Evidentemente que temos consistência relacional uns com os outros, mas não a tendo perdido e, em inúmeros casos, tendo-a mesmo aprofundado e, sem dúvida alargado, ganhámos uma outra consciência de importância vital para a sobrevivência do homem enquanto animal de relacionamento social indispensável: a do relacionamento a nível global, a do relacionamento entre todos os homens.


Graças à Blogosfera e às suas virtualidades sem medida, tendo em atenção igualmente as novas funcionalidades postas ao dispor de qualquer um - como a tradução expedita de textos em número quase incontável de linguajares do mundo - é hoje fácil o relacionamento , geral e imediato, com qualquer cidadão do mundo e, desse modo, a possibilidade de confrontar ideias, partilhar alegrias e preocupações, conhecer o semelhante que a cada dia que passa o é mais.

A este propósito e abrindo um parêntese, tenho várias boas experiências de contactos através da Blogosfera, sendo que a mais tocante de todas aconteceu com um estudante universitário de Pequim, aqui há cerca de ano e meio.

Na altura, escrevi uns posts acerca da minha visita à China e da modificação da minha forma de encarar os seus cidadãos que essa visita me causou. E - note-se - eu não era, nem sou, dos mais fechados na minha concha, pois que, tendo vivido cerca de 16 anos numa sociedade plurirracial notável, em Moçambique, muito convivi com gentes de outras latitudes e longitudes, entre os quais inúmeros chineses...

Pois bem, essa troca de opiniões e informações com o jovem pequinense, feita em inglês mas também em mandarim, ainda que eu nada saiba da língua, processou-se com grande fluidez, sem impedimentos. Que outro instrumento teria oferecido tal possibilidade, que não a Blogosfera pelo que é em si mesma e através das suas inúmeras funcionalidades? Claro que esses contactos não se mantiveram por muito tempo. Porquê? A julgar pelo interesse que o meu interlocutor manifestava, estou em crer que terá sido a seu contragosto. Mas isso é já outra história... Que, diga-se em abono da verdade, estará em vias de acabar... por força da Blogosfera também.

Fechado o parêntese que nos desviou do tema central, mas que julguei apropriado, voltemos ao que nos traz a este escrito.


Porque a alegria que faz rir o chinês ou o patagónio, em que é que difere da que em mim provoca igual reacção? E a preocupação que amargura o meu quotidiano difere em quê da do texano ou do indonésio?
Talvez na intensidade? Talvez...

É evidente que um tal relacionamento global cria exigências sociais a que não estávamos habituados, pelo que deve ser com cuidado e muita atenção que o caminho deve ser trilhado. Mas, a moeda de troca vale a pena, porque está num relacionamento descomplexado, sem preconceitos, completamente open mind. E, com toda a franqueza, não conheço melhor antídoto para a misantropia do que um espírito bem arejado, aberto a novas ideias e conceitos, disponível para conceber a possibilidade de o outro ser diferente de mim, mas, ao mesmo tempo, tão semelhante, mesmo tão igual. Porque, raça humana há uma só: sim, ela mesma, a humana.

E termina Marino Viola, afirmando que a Blogosfera é:

Un regime democratico, dove ciascuno è opinionista nel libero mercato delle opinioni, senza gerarchie di posizione, senza ruoli, senza il peso dell'autorità. Dove ognuno è quel che scrive, dove tutti hanno pari facoltà d'interlocuzione. È la nuova utopia della libertà e dell'eguaglianza. Compensazione simbolica al malessere attuale della democrazia in carne e ossa.

Um regime democrático, onde cada um é agente no livre mercado da opinião, sem hierarquias nem papéis distribuídos, sem a interferência do peso da autoridade. Onde toda a gente escreve, onde todos têm a faculdade de intervir. É a nova Utopia da liberdade e da igualdade. Compensação simbólica pelo actual mal da própria democracia.

É realmente isto a Blogosfera. Tão simples quanto isto. Tão indispensável ao entendimento geral entre todos os seres humanos, quanto a cada dia mais se nos evidencia.

Mister é que a saibamos conservar assim, sem adulterações criminosas. Porque só desta forma o mundo acabará por se tornar um sítio mais amigável, em que se possa viver e prosperar. Sem preconceito e medo do outro. Sem receio das nossas próprias reacções.
.

* * *.

Por indesculpável inadvertência minha, no texto acima fiz referência ao post de Eduardo Lunardelli e bem assim ao artigo de Marino Niola, mas não ao interveniente intermédio, Sam de seu nome, do Blog Fenix ad aeternum.

Ora, para ser justo e correcto, há que distribuir os méritos por quem a eles faz jus. Tal como a César deve ser dado o que César é e a Deus o que a Deus pertence, também Sam é merecedor de que se lhe faça justiça. É o que tento nesta adenda.

O amigo Eduardo Lunardelli reportou-se a um post de Sam, este: Uma aldeia chamada blogosfera
, pelo que ao seu autor daqui endereço um aceno de simpatia e comunhão de ideias.

Por sua vez, Sam baseara o seu escrito num outro da autoria do já referido Marino Niola. Como se pode ver, a cadeia de interligações começa a ser longa. Efeitos - bons efeitos, aliás - da Boglosfera...
...

6 comentários:

H. Sousa disse...

Super! Apoiado, apoiadíssimo!
Destaco também:
«A unidade do género humano começa na blogosfera»
Abraços!

Isabel Magalhães disse...

Ruben;

Meu Caro blogamigo, o meu sincero agradecimento pela partilha deste post.
Espero que a blogosfera se encarrega de levar as suas palavras aos 4 cantos do MUNDO.

Um bj do coração.

I.

Ruvasa disse...

Viva, Henrique!

Sim, resumido, é isso mesmo, meu caro amigo.

Abraço grande

Ruben

Ruvasa disse...

Viva, Isabel, my little sister!

Nada a agradecer pois que, pelo contrário, acho que eu é que devo agradecer, por ter-vos como leitores que não passam pelos posts à vol d'oiseau, sabendo, pois, criticar o que se escreve e as ideias que se pretende transmitir.

Sinceramente, também eu espero o mesmo, ou seja, que a Blogosfera leve estas palavras - e as do Eduardo e as de Niola aos quatro cantos do mundo. Confio que sim, pela pequena parte que me toca, tendo em vista quem por aqui aparece a ler-me com alguma regularidade, vindo da Europa e da América do Sul, principalmennte, mas também da América do Norte e de África e da Ásia. Só o continente australiano é que parece andar um pouco arredio do meu blog. Mas sei como chamá-los. Um dia, "posto" aqui algo a dizer umas quantas coiosas acerca deles. É certo e sabido: umas horas depois, estão por cá em bandos. Já fiz a experiência com os chineses e com outros e isso aconteceu. Ora, os australianos não são diferentes do resto do maralhal.

Obrigado pelo beijo, que retribuo com igual intenção.

Ruben

NB.- Com isto, ainda não meti o outro post de que lhe falei. Mais logo ou amanhã...

SAM disse...

De facto, não creio que quando o Sr. Niola publicou o seu texto, pensasse que ele pudesse circular tanto. A Giulietta o colocou no seu blog em italiano, eu o desenvolvi com as minhas ideias no meu blog, o Eduardo serviu de "publicitador" e por fim (será?), aqui foi feita nova análise com base nas análises anteriores.

Isso é a blogosfera: a prova que somos uma única raça de seres humanos realmente interligados pela primeira vez na história da humanidade. Veja só a que ponto o telégrado de 1844 evolui... Ao ponto em que podemos intercomunicar mundialmente.

Hoje, cada vez mais do que nunca, somos cidadãos de um único país chamado Terra!

Ruvasa disse...

Viva, Sam!

... e cada vez melhores pessoas, porque mais compreensivos e tolerantes para com o outro, acrescentarei.

Foi um prazer, Sam, tê-lo por cá. O "convite" que fui fazer lá no seu blog não foi tempo perdido.

Abraço e vá voltando, ok?

Por mim, vou linká-o aqui.

Ruben