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sábado, 18 de abril de 2009

2122. Ó sorte maldita!...

"Gaffe" do Vaticano convida à canonização de 'Alvarez'

Começou a distribuição dos ingressos para a Praça de São Pedro, onde D. Nuno será canonizado dia 26. E a novidade é que, afinal, se chama 'Alvarez'. Um nome espanhol, povo a quem ganhou a batalha de Aljubarrota.

Os convites para a canonização de D. Nuno Álvares Pereira, domingo, 26 de Abril, começaram a chegar. E, com eles, uma novidade. Afinal, D. Nuno não se chama Álvares, mas "Alvarez". É o que vem escrito nos ingressos enviados pela "prefeitura da casa pontífice Bento XVI". Uma gralha? É o que parece ser, mas não deixa de ser uma estranha coincidência. O Condestável surge com um nome espanhol, precisamente o povo contra quem sempre se bateu. E os defensores da sua canonização até dizem que foi por vontade de Espanha que D. Nuno não foi santo mais cedo.

"Recebi os convites anteontem. Agora, está feito, não há tempo de corrigir, têm de ser distribuídos, mas o que interessa é que vamos lá estar [em Roma] e assistir à canonização de D. Nuno Álvares Pereira. Não é por causa de uma letra que deixa de ser canonizado." É a reacção do padre Francisco Rodrigues ao que diz ser um erro tipográfico. O sacerdote pertence à Ordem do Carmo (a que pertenceu D. Nuno) e é vice-postular da causa da canonização do beato Nuno de Santa Maria.

O nome de Nuno de Santa Maria "Alvarez" Pereira surge entre outros quatro beatos, cujas canonizações estão previstas para as 10.00 de domingo na Praça de São Pedro, em Roma, Itália. É o único português numa lista de mais quatro italianos, mas até parece espanhol.

D. Duarte é descendente de D. Nuno e, também, não atribui demasiada importância à alteração da ortografia. Embora reconheça, não ser uma coisa simpática. "Mas o mais importante é que é um santo nosso, o que é um motivo de orgulho", justifica. Ainda não tem o ingresso para a Praça de S.Pedro, mas conta levar a família para assistir à canonização.

"Deve ser mãozinha dos espanhóis, que sempre se opuseram à canonização. Se há pessoas que os espanhóis detestam, essa pessoa é D. Nuno Álvarez", ironiza João José Ferreira, um entusiasta da vida do Condestável. Mas acaba por condescender: "Não fica muito bem, mas penso que o erro não terá sido intencional. Claro que deveriam ter lido o convite com mais atenção antes de ser impresso."

João José Ferreira é um dos muitos portugueses que se estão a organizar para viajar até Roma na próxima semana. O padre Francisco Rodrigues diz que 700 pessoas lhe pediram um convite para aceder ao palco das cerimónias.

O vice-postulador da causa pensa viajar já na terça--feira para Itália, para acompanhar os preparativos finais e velar para que não existam mais incorrecções a ensombrar as cerimónias. "O que posso fazer é garantir que os textos oficiais estejam correctos, esses ainda poderei corrigir. Mas penso que não haverá problemas porque foram escritos por mim", sublinha.

A canonização de D. Nuno Álvares foi anunciada há dois meses, tal como a de outros nove beatos. E vai ser canonizado no primeiro grupo de cinco.

O Santo Condestável, como sempre lhe chamou o povo, embora tal só seja rigorosamente verdade a partir de domingo, viveu entre 1360 e 1431, tendo ingressado na Ordem do Carmo em 1422. Bento XV beatificou-o em 1918, mas foi a partir do momento em que os carmelitas e o patriarca de Lisboa agarraram nesta causa que a canonização se tornou mais rápida. O processo foi reaberto a 13 de Julho de 2004, nas ruínas do Convento do Carmo, em Lisboa, numa cerimónia presidida por D. José Policarpo.

Carmelita, mas também guerreiro, D. Nuno Álvares Pereira e D. João I comandavam as tropas portuguesas quando derrotaram o exército castelhano de D. Juan I de Castela, na batalha de Aljubarrota. Foi no dia 14 de Agosto de 1385, e o confronto deu-se no campo de S. Jorge. Com a derrota definitiva das tropas castelhanas, acabou a crise 1383-1385, o que coincidiu com a consolidação de D. João I como rei de Portugal, o primeiro da dinastia de Avis.

DN - 2009.04.18

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