Os portugueses têm de salvar-se de si próprios, para salvarem Portugal

quarta-feira, 13 de maio de 2009

2186. Sampaio, ele próprio

Causas e Consequências
O Bloco Central

O dr. Sampaio, usando da sua proverbial sabedoria, decidiu animar uma velha e enrugada novela, revelando ao País que é a favor de um rejuvenescido Bloco Central. Obviamente, o dr. Sampaio não perdeu tempo com pormenores: fiado na bondade intrínseca da sua proposta, não se dignou a explicar como se concretizaria esse santo milagre. À semelhança de outros ventríloquos, o dr. Sampaio limitou-se a acenar com um cenário impossível que procura, antes de mais, justificar a reedição da actual maioria. Ao contrário do que possa parecer, não é a crise que os move, mas sim a crença irracional de que o engº Sócrates é insubstituível.

Nos tempos que correm, desprovidos das imposições do FMI e de outras contingências do passado, o Bloco Central não chega a ser sequer uma solução de Governo. Como se tem visto, é apenas um expediente eleitoral através do qual se procura estabelecer a impossibilidade de qualquer alternativa às condições únicas que determinam hoje o poder socialista. Traduzindo por miúdos, o que fica por detrás de todas as boas intenções anunciadas, é a ideia de que, sem a maioria absoluta do PS, o País se tornaria de tal forma ingovernável que, mais tarde ou mais cedo, seria obrigado a equacionar o seu próprio suicídio através dos bons ofícios do recomendado Bloco Central. Assim sendo, a ‘solução’, longe de ser uma solução, transforma-se rapidamente na prova de que o País não tem solução.

É por isso que o Bloco Central não aparece nunca como uma prova da vitalidade do regime: mesmo para os seus defensores, ele é, acima de tudo, um mal necessário que decorre de uma situação anómala que idealmente não deveria existir. Se a democracia fosse perfeita, o engº Sócrates teria a sua maioria absoluta assegurada e o dr. Sampaio, em vez de sacrificar a sua frágil coerência, dedicaria o seu tempo a outro tipo de actividades. Nomeadamente, a chorar a frente de esquerda que, ainda há pouco tempo, tentou impulsionar para impedir a eleição do dr. Santana Lopes, em Lisboa. Infelizmente, o povo não oferece garantias de maior.

Daí que o dr. Jorge Sampaio defenda harmoniosamente o mesmo e o seu contrário. Para as legislativas, não vão os eleitores tecê-las, o dr. Sampaio é a favor de um Bloco Central que junte num só Governo o PS e o PSD. Já para as autárquicas, que se realizam umas semanas depois (ou no próprio dia, não se sabe), o dr. Sampaio preferia uma união de todos os partidos de Esquerda contra um dos elementos do seu Bloco Central. Para o dr. Sampaio, como se vê, tudo é possível. O que já é estranho é que nada disto tenha causado estranheza.

Constança Cunha e Sá, Jornalista

CM 2009.0512

Gentileza de José F.Faria

* * *

Constança é como eu. Também entende que Jorge Sampaio continua o mesmo, sem tirar nem pôr. Já não há remédio que lhe valha. E por que haveria de haver? O homem sempre foi assim. Um poço de coerência, perdão, um poço para a coerência, ou seja, um poço onde a coerência desastradamente cai e irremediavelmente se afoga. O que não surpreende ninguém.

Ainda bem que voltou. Sem ele, a política em Portugal perdia muito da graçola que tem. E como é que a gente depois se divertia, não me dizem? Com os cinzentões que por aí andam? Ao menos com Sampaio, é uma festa pegada. E colorida, musicada e bailaricada que se farta! Vá de roda!...

Amanda-les, carago, pá!

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2 comentários:

Isabel Magalhães disse...

Caro Ruben;

Ando com a leitura atrasada. Agradeço-lhe ter publicado o artigo da Constança.

Infelizmente os que concordam com o Dr Sampaio continuam autistas nem lêem o que por aí se publica.

Um abraço

I.

Ruvasa disse...

Viva, Isabel!

Deixe-os concordar com o homem, que estão a concordar bem. São, quiçá, do mesmo clube, o das coerências elásticas...

Abraço

Ruben