Os portugueses têm de salvar-se de si próprios, para salvarem Portugal

segunda-feira, 15 de junho de 2009

2325. Constâncio na Comissão de Inquérito

Vítor Constâncio esteve a ser novamente ouvido na Comissão de Inquérito ao Sistema Bancário, a propósito do caso BPN.

O ar de enfado - e a espaços de nervosismo totalmente descontrolado - mereceriam bem um documentário bem filmado. Seria muito elucidativo. Espero que alguém o tenha gravado e o mande para o Youtube. Será um sucesso!

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Completamente entalado pelos deputados Nuno Melo, do CDS-PP, primeiro, e João Semedo, do BE, depois, a defesa do ainda governador do Banco de Portugal, em resumo, assentou nisto:

- O Banco de Portugal não viu, não soube, não esteve lá.


Trocado por miúdos, o Banco de Portugal não serviu para nada.

Para isso se paga a fortuna que se paga ao respectivo governador, o terceiro mais bem pago de todo o mundo, acima mesmo do da Reserva Federal americana?


Governador do Banco de Portugal que, como é sabido, já não define a política monetária do país, que é decidida pelo Banco Central Europeu, nem tão pouco tem a responsabilidade de emitir moeda, pelo que a suas funções se resumem à supervisão do sistema bancário, note-se!


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Posto ainda mais contra a parede pelo deputado João Semedo quando este definiu a actuação do Banco de Portugal, como ingenuidade ou complacência ou protecção ao BPN por parte dos dirigentes do Banco de Portugal, afastou as duas últimas e conformou-se com a primeira, admitindo expressamente que houve ingenuidade.

Ou seja, o Banco de Portugal, nas palavras do seu governador, foi ingénuo.

Como os bancos em si mesmos não são ingénuos nem deixam de o ser, já que são corpos inanimados, sem vontade própria, sendo, por conseguinte, conduzidos desta ou daquela maneira por pessoas, no caso os seus dirigentes, os ingénuos foram os dirigentes, Constâncio incluído.

Ora, Constâncio admitiu expressamente, pois, que não só os restantes dirigentes do Banco de Portugal teriam sido ingénuos, como ele próprio o terá sido igualmente, já que é o mais graduado de todos.


Admitindo que das três hipóteses (repito, ingenuidade, complacência ou protecção ao
BPN), Constâncio optou pela ingenuidade, a menos gravosa para si e os que no Banco de Portugal o acompanharam, cabe perguntar, admitindo a benévola opção:

- Gente de tal ingenuidade pode estar à frente dos destinos do Banco de Portugal?


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A determinada altura, falou-se numa questão que tem sido já muito debatida e para a qual Constâncio não tem dado respostas minimamente satisfatórias.

Trata-se do caso da pergunta que foi feita ao Banco de Portugal pelo DCIAP (Departamento Criminal de Investigação e Acção Penal) acerca do já célebre Banco Insular, em que a resposta de Constâncio raia o absurdo.


Para melhor compreensão de todos, mesmo de quem não está familiarizado com a terminologia usada, que em grande parte das vezes se destina a amenizar os factos, ou, como diria Eça talvez, a "cobrir a nudez crua da verdade, com o manto diáfano da fantasia", aqui deixo a explicação do que se passou, em versão muito benévola e acessível:

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Imagine que um tipo tinha morto outro a tiro de pistola. De pistoa, anote, por favor. O assassino era velho conhecido do Banco de Portugal e o acto dera-se precisamente no Banco de Portugal, onde as pessoas, que estavam de serviço, teriam tido o dever de ter visto o que se passara, ou seja, que o homicida rapara da pistola e disparara, colhendo mortalmente a vítima.

O DCIAP, que não assistira a nada, nem conhecia o homicida, teria sido incumbido de averiguar das circunstâncias do sucedido, para efeitos de procedimento criminal.

Como não sabia como as coisas se teriam passado, admitira todas as hipóteses possíveis, ou seja, que o homem assassinara o outro com qualquer instrumento que bem poderia ter sido um pau, uma faca, uma pistola, fosse lá o que fosse. O que importava era saber a verdade, TODA A VERDADE, para se actuar em conformidade.


Assim, sabendo que o Banco de Portugal estaria obrigado a ter informações privilegiadas acerca do assunto, oficiara-lhe - no âmbito do processo que estava em curso, o que o Banco de Portugal não desconhecia, note-se! - perguntando se o assassino dispunha, ou não, de uma faca. Simplesmente isso.


Perante o pedido, o Banco de Portugal teria respondido apenas que não constava que o assassino tivesse qualquer faca. Sem mais nada!

Perguntado sobre esta questão e por que razão o Banco de Portugal respondera apenas que o assassino não tinha uma faca, quando o Banco sabia que a faca era objecto irrelevante para o caso, pois que o homicídio tinha sido praticado com uma pistola, o seu responsável máximo, teria esclarecido:

- Como o DCIAP só perguntou isso, só a isso respondemos. Se a pergunta tivesse sido formulada de outra forma, teríamos respondido de outra forma...

E pronto. Nada mais acrescentara.

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Consegui esclarecê-lo/a sobre o modo como as coisas se passaram e a justificação apresentada para a resposta dada? Uma justificação deste teor foi apresentada em Comissão de Inquérito!

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Para terminar, porque as coisas não se ficaram por aqui:


A determinada altura, a arrogância era tal e a desorientação tamanha que, imagine-se!, o senhor governador não se dispensou de se levantar e deitar ambas as mãos às ilhargas (gesto que, pelos vistos, vai ganhando adeptos no Largo do Rato, quiçá por mimetismo...) tendo mesmo virado costas à presidente da comissão, Maria de Belém Roseira, sua camarada, que, estupefacta, ficou a falar sozinha e respeitosamente à espera que SExa se dignasse atendê-la.

É que Constâncio já nem queria responder a mais perguntas, tendo ameaçado a presidente com um:


- Eu vou-me embora!

Depois, pretendeu ser ele a determinar que se fizesse um intervalo. Por fim, lá caiu em si e acabou por permitir que fosse a presidente a ordená-lo, depois de consultar os restantes deputados, que aquiesceram.

A coisa atingiu tais foros que, após o recomeço, o próprio PS, pela voz de Ricardo Rodrigues, sentiu necessidade de se encrespar com o homem e "metê-lo na ordem", já que até aos camaradas ele já afrontava.

* * *

Tenho assistido a muitos debates
(no tempo em que tinha paciência para isso, que já não há quem aguente...) do hemiciclo e aos trabalhos de várias comissões de inquérito.

Confesso, porém, que como aquilo, nunca vi. É de antologia!


Por amor de Deus! Alguém que ponha isso no Youtube. É sucesso de bilheteira garantido! E, se tal não for possível, ao menos que se tente arranjar uma cópia da acta da comissão. Por mim, pago bem, já que infelizmente não gravei. ...
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