Os portugueses têm de salvar-se de si próprios, para salvarem Portugal

sábado, 25 de julho de 2009

2450. O "coligatório"

À atenção dos lisboetas, principalmente dos que se preparam para depositarem os seus votos em favor de Costa/Roseta ou vice-versa.


Nem a própria Helena Roseta deve ter-se apercebido bem do quanto acertou quando, à sua recente "amigação" com António Costa, para concorrerem à Câmara Municipal de Lisboa, fez questão de não chamar de coligação, mas sim de espécie de "coligatório".

Ou seja, preferiu chamar-lhe uma coisa que não existe.

Ora, nada mais adequado como nome para algo que não existe do que um termo que ele próprio também não existe.

Se existissem - o termo e a conjunção de esforços - seriam algo pouco produtivo, para não dizer mesmo meramente destrutivo. Porquê? Porque tem como única finalidade tentar destruir a possibilidade de Pedro Santana Lopes vencer o prélio por Lisboa. O que é efectivamente muito pouco e realmente destrutivo. Por outro lado, é o "coligatório" do medo do desemprego. Será que Lisboa não merece mais do que objectivo tão pífio, tão pessoal, tão interesseiro?

No entanto, por mais que procuremos, na realidade nada mais contempla, como a seguir se explicita.


Confrontados com a terrível - para eles, evidentemente - possibilidade de Santana Lopes vencer as eleições autárquicas em Lisboa, reeditando assim magnífico êxito anterior, aqueles "novíssimos e mútuos amigos", postos perante a dura realidade de ficarem completamente "desempregados", engoliram os sapos que a cada um couberam e tentam agora dar a entender que uniram o que jamais unido esteve, o que jamais unido poderá estar.

É sabido que o programa que Helena defende para Lisboa está muito mais próximo do que defende Pedro Santana Lopes do que o que Costa segue. Entre os projectos de Roseta e de Costa vão léguas e léguas de interposição. Tantas que mais propriamente deles se poderá dizer que são diametralmente opostos.

Ora, assim sendo, como compatibilizar um e outro, de forma a que o "coligatório" - que é apenas negativo como só não percebe quem, além de "ceguinho", seja destituído de outras faculdades também - se torne positivo para a cidade de Lisboa?

É evidente que não há a mínima possibilidade de aquilo resultar. E não resultará, não apenas pela circunstância de as linhas mestras de ambos os programas serem diametralmente opostas, não. Não resultará também pela incompatibilidade de idiossincrasias entre os cabeças de lista.

São ambos bem conhecidos. E de tal forma que toda a gente está cansada de saber que nem Roseta é mulher para aguentar a mínima contrariedade sem partir a louça toda e cortar cerce relações, "abandonando o lar", como já tantas e tantas vezes fez ao longo destes trinta e tal anos, em que se amancebou e desamancebou com este e com aquele, ao sabor dos mais variados apetites de ocasião, como se sabe igualmente que Costa não é homem que se vergue a qualquer ditame, por mais enfeitado que se apresente. Como é que uma "mancebia" destas pode não terminar em muitos gritos, choros, ódios, ruidoso espalhafato e cenas canalhas, com o custo das favas a ser apresentado aos lisboetas?

À mínima contrariedade - e elas vão começar a aparecer na semana seguinte às eleições, Helena Roseta irá bater estrondosamente com a porta, abandonando Costa à sua sorte. É fatal como o Destino. É o que ela sempre fez; é o que sempre fará. Está-lhe na massa do sangue. É superior à vontade da própria utente. Quanto maior for a instabilidade, mais Helena Roseta se sentirá no seu elemento, viva, enfim.

Estão, pois, lançados todos os dados para um previsível e violento confronto, com declarações sobre declarações de incompatibilidade de feitios e práticas e inevitável completa impossibilidade de coabitação, a ser marcado para de seis meses a um ano após eleitos, no caso de vencedores da disputa eleitoral.

* * *

É acerca desta certeza que os lisboetas devem ponderar até ao momento em que depositem o voto, lá para Outubro.

É que, para além da incompatibilidade de programas, a incompatibilidade de feitios é um mare nostrum de intransponível afastamento. E não é verdade que, neste caso, os contrários se atraiam. Repelem-se. Violentamente. Di-lo a política, pela impossibilidade de fusão de projectos, tal como o diz - e decerto ainda mais assertivamente, tendo em atenção as já faladas idiossincrasias - a impossibilidade de cada um deles em pessoalmente abdicar de algo de seu para encontrar o parceiro a meio caminho. E, sobretudo, di-lo a história de ambos, com especial relevo para a de Helena Roseta, que, no panorama político português não tem quem lhe faça frente em instabilidade psíquico-política.

Os lisboetas estão, pois, obrigados a reflectir bem antes de se sentirem tentados a entregarem-lhes os votos.

Se, mesmo depois de avisados, persistirem na insanidade, faltar-lhes-á qualquer resquício de legitimidade para lamentações futuras.


Os eleitores, todos os eleitores, têm que aprender a assumir-se como cidadãos conscientes e lúcidos que efectivamente devem ser, abandonando a muleta do alijamento do peso de responsabilidades próprias para ombros alheios. Atitude do maior civismo, aliás.
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