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quarta-feira, 30 de março de 2011

2767. O PSD, Cavaco e o vilarista


O PSD, Cavaco e o vilarista *

A propósito da notícia de sábado passado, salvo erro, do Expresso, de que Cavaco Silva terá pressionado o Partido Social Democrata para que trave na intenção de solicitar auditoria às contas, quanto antes, cumpre quedar atónito! No mínimo.

Na verdade, a intenção do PSD é justa e necessária, pois torna-se indispensável apurar a verdadeira situação económica e financeira do País – a social, sabemo-la já todos – de modo que as cartas estejam todas sobre a mesa, antes de se entrar em período eleitoral.

Por esse motivo defendi já que as eleições apenas deverão ter lugar em Setembro, sendo da competência, das atribuições e do dever do Presidente da República nomear governo de sua iniciativa, de largo espectro e, se possível, amplo apoio, que assuma o ónus não somente da condução da política nacional, como da gestão do período eleitoral.

Defendi e defendo essa via, porque considero que, não o fazer, será contribuir de forma decisiva para que a clarificação indispensável de toda a situação deprimente em que o País se afunda uma vez mais não se faça.

Por questão de transparência e democraticidade de actuação, tudo deve ficar claro, sem lugar a dúvidas e interpretações maliciosas.

A alegação de que a medida de auditoria das contas do Estado pode precipitar o resgate de Portugal, parece-me, no mínimo e para ser moderado, falaciosa. Os tão ameaçadores “mercados” odeiam situações pantanosas e, por outro lado, que mais poderiam fazer-nos que já não estejam a fazer?

Em jeito de brincadeira (que pode ser de mau gosto, mas adequada…), dá vontade de invocar aquela história do jovem, deitado em cama de hospital, após ter sofrido gravíssimo acidente de viação, sem pernas, sem braços, com a bacia muito fracturada e o peito esmagado, que invectivava fortemente o Destino e que, em resposta à mãe, que, preocupadíssima por vê-lo naquele estado físico e de desespero, tentava acalmá-lo, aconselhando-o a que não blasfemasse mais, pois que Deus podia castigá-lo, respondeu:

- E o que é que Deus me pode fazer mais? Despentear-me?!

Voltando à questão séria:

Ora, situação mais pantanosa do que a que vivemos não creio possível. Estamos de tanga, sem crédito – material e moral – na falência e nem sequer sabemos ao certo a dimensão da nossa desgraça.

Numa tal situação, racionalmente que se impõe que seja feito? Que primeira medida tomaria qualquer lúcida gerente de economia doméstica? Evidentemente que a de apurar a situação em toda a sua extensão e ramificações. Para, uma vez isto apurado, gizar adequado plano de recuperação.

Ora, sabermos que o Presidente da República, precisamente a pessoa que deveria ser a primeira a exigir tal medida cautelar, não a tem e, muito pelo contrário, em nome de uma moderação também alegadamente cautelar, pretende que tudo seja travado.

Francamente, não sei o que deva pensar. É certo que, de há muitos anos a esta parte, serei um tanto suspeito em relação às atitudes e acções de Cavaco Silva, por da maior parte delas discordar frontalmente, entendendo que não “acerta” com um único dos verdadeiros e mais ingentes interesses do País.

Mas, aqui chegados, que dizer de uma sua atitude como esta?

É que a sua tese cai como bênção no colo do vilarista. Pode não ser essa a intenção. Mas o que é certo é que acaba por revestir a forma de cobertura ideal de que o vilarista necessitava como de pão para a boca, para ir sobrevivendo à hecatombe que provocou. De que vale um isolado e arrancado a ferros discurso em jeito de bravata, perante acções subsequentes que o desmentem?

E, mais: não fossem coberturas como esta, vindas de vários quadrantes, mas também deste de agora, a criatura de Vilar de Maçada não teria afundado o país. Sim, o principal culpado é, sem dúvida, ele mesmo. Mas há outros. A começar pelas omissões e acções do actual Presidente da República. Infelizmente para todos nós!

A reforçar o que atrás fica dito quanto à necessidade de rapidamente se apurar a real situação das contas e à incompreensão da sua travagem, por todos os motivos já expendidos e mais o de que não pode ser dada ao vilarista a possibilidade de criar outros embustes eleitorais em que é especialista inultrapassável, surge a notícia de que o INE confirma que haverá "uma série de alterações contabilísticas" ao défice de 2010, ou seja, lá vai mais uma correcção de manigância anterior.

A girândola continua em movimento que parece eterno. E o Presidente da República, não mexendo um dedo no sentido de a parar, impede mesmo que outros cumpram um dever que é primacialmente seu.

Quod erat demonstrandum, quod est demonstratum.


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* Vilarista -. de Vilar de Maçada, é bom de ver

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