Os portugueses têm de salvar-se de si próprios, para salvarem Portugal

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

2836. A lusa "coitadice"


As nossas responsabilidades
e a lusa “coitadice”


A ideia prevalecente em Portugal de que o Estado tudo tem que dar e os cidadãos nada têm que retribuir, de que o Estado, que são todos os Portugueses, tem deveres para cada um, mas cada um apenas tem direitos que devem ser integralmente satisfeitos, além de abusiva e, mais do que isso, profundamente desestabilizadora, chega a ser terrorista.

É contra essa onda destruidora da força de uma nação que temos de lutar. É desse propósito que este grupo pretende ser uma parcela.

Porque, se todos se compenetrarem do lugar que na sociedade envolvente lhes cabe e dos direitos, mas primeiro que tudo, dos deveres a que estão moral e civicamente obrigados, a vida será mais fácil para todos, o País será logo outro, mais justo, mais social, mais democrático.

Não é, como tem sido ao longo de décadas já, uma sucessão de erros de educação cívica, de facilitismo, de demissões do papel de pais, de educadores, de governantes, de gerações de jovens habituados a ter tudo sem que se lhes exija o mínimo esforço – daquele que gente de princípios sociais e morais, cívicos, enfim, sabe que deve despender – que vai mudar o nosso futuro, em ordem a que, pelo menos, inverta o rumo que leva e se aproxime um pouco daquilo que deve ser.

Os milhões da UE, que desde há um quarto de século (repare-se, há um quarto de século!) têm jorrado sobre o País, sobre todos nós, foram, a um tempo, bênção e maldição.

Bênção, porque deles muito precisávamos para darmos outra cara ao País, modernizando-o e colocando-o entre os realmente civilizados e progressivos. Isso foi feito até determinada altura.

O problema manifestou-se quando se caiu no laxismo, no despesismo, no deixa-andar, na indolência, no xico-espertismo da vida fácil à custa do dinheiro e dos recursos postos à disposição do esbanjamento, no vício do subsídio justificado e injustificado, no bodo a todos, carenciados ou não, sem qualquer filtro, na ausência de fiscalização dos abusos e punição dos abusadores, na falta de condenação de corruptos e corruptores, por força de normativos iníquos, na inoperância dos tribunais, por estruturas anquilosadas e legislação permissiva ao ponto do absurdo, que criaram na sociedade portuguesa um clima de impunidade sem precedentes. “Se todos fazem, porque não eu também? Acaso serei menos do que todos, porventura, mais estúpido?”

Chegámos então à maldição. Maldição porquê? Porque, com tantas benesses, com tanta fartura sem um mínimo de esforço honestamente suado, convencemo-nos e, bem pior, deixámos que os nossos filhos se convencessem de que o "el dorado" dos fundos comunitários constituíam "direito a que tínhamos direito" só pela circunstância de termos nascido.

Uma tal postura tinha que resultar em desastre. Que foi agravado até ao absurdo por governantes mal preparados e muitas vezes cheios da arrogância própria dos ignorantes, metidos nas vestes da prepotência, do descaramento inaudito, da completa imoralidade, enfim.

Maior desastre não podia ter-nos acontecido.

Mas – e aqui bate verdadeiramente o ponto – temos gravíssimas responsabilidades no sucedido e delas não podemos eximir-nos. Não só pelo comportamento pessoal, como pelo que tiveram ou têm os nossos políticos, “maxime” os governantes.

É que eles mais não são do que nós com a fatiota política envergada. Eles somos nós uma vez eleitos, quantas vezes sabe-se lá como. Ou alguém pensa que não tem havido e continua a haver, entre eles, muitos que pensaram como tantos de nós pensam agora (“os políticos são uns malandrins, nós somos outra gente…), enquanto aos degraus do Poder não chegaram e, uma vez chegados…?

A massa de que são feitos é a massa que nos enforma. Não são melhores nem piores do que nós. São "nós".

Isto fica dito de forma muito linear, devendo-se a opção à intenção assumida de chegar ao maior número de pessoas e não apenas às mais privilegiadas.

Uma vez aqui, não restam alternativas.

Ou corrigimos o nosso actual rumo e corrigimos as crianças que estão à nossa guarda, incutindo-lhes noções de fraternidade, igualdade e solidariedade, com a devida correspondência no comportamento social perante o outro, o semelhante, e perante todos, a sociedade, e, com isso, mudamos de vida de uma vez por todas, podendo aspirar a um futuro menos opressor – porque seremos melhores cidadãos e cidadãos melhores formaremos – ou estaremos condenados às chamas eternas do inferno de uma apagada e vil tristeza, de que, há séculos já, falava o Poeta.

Se o fizermos, se nos esforçarmos, acabaremos por ter políticos mais preparados e decisores mais competentes, construindo a sociedade justa e verdadeiramente democrática que até hoje não lográmos obter. Está apenas nas nossas mãos porque, aceitemos ou não, para lá da circunstância envolvente, o homem é produto de si próprio, isto é, faz-se por si, pela sua vontade.

Tudo isto sem esquecer, evidentemente, a famosa e, a todos os títulos, ridícula e assassina, “coitadice dos Portugueses”, que nos leva a responsabilizar o “outro” por tudo quanto de mau nos acontece e a nós, coitadinhos… coitadinhos…, dispensa de muitos trabalhos e esforços.

Ruben Valle Santos
2011Jan11

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