Os portugueses têm de salvar-se de si próprios, para salvarem Portugal

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

2882. O sportinguista

A quele, sim, era um sportinguista de verdade, de grande valor.

Um verdadeiro, integral, anti-benfiquista.
Sempre fora assim.

Se fosse possível, teria pintado o próprio sangue, só para lhe tirar aquela coloração de ignomínia.

O anti-benfiquismo foi o leit-motiv de toda a sua longa vida.

Sonhava, comia, trabalhava sempre com a mesma contrariedade: a existência do Benfica e, principalmente, de perigosos benfiquistas, raça com que gostava de ter acabado.

Já no leito de morte, aos cento e tal anos, arquejante, pediu ao filho que lhe trouxesse urgentemente uma camisola do inimigo e também um gorro, um cachecol e uma bandeira.
Surpreendido, o filho correu a satisfazer o pedido e, num ápice, voltou com o que o velhote lhe pedira.
Este, logo se apressou a solicitar ajuda para vestir a camisola, enfiar o gorro, pôr o cachecol e embrulhar-se na bandeira odiada.

– Mas, pai, toda a vida foste um indefectível sportinguista! Por que razão viraste agora benfiquista?
– Qual quê! Sportinguista, eu?! – agitou-se o súbito “lampião” – Ora, ora... Benfiquista, isso sim!
– Pronto, está bem, não te exaltes. Mas… Não estou a compreender…
– Mas é muito simples, filho, muito simples mesmo. Assim, quando eu me for, é mais um benfiquista que morre. É a raça maldita que estará a extinguir-se.

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