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quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

3058. As infâmias do Expresso


Esclarecimento de Nicolau Santos, director-adjunto do jornal Expresso sobre o caso Artur Baptista da Silva que se diz ser das Nações Unidas. O Expresso resolveu despublicar a entrevista datada de dia 15 devido às fortes suspeitas de burla que recaem sobre Baptista da Silva.

1. O Expresso publicou na sua edição de 15 de Dezembro no caderno de Economia uma entrevista com Artur Baptista da Silva, suposto membro do PNUD e supostamente encarregue pela ONU de montar em Portugal um Observatório dos países da Europa do sul em processos de ajustamento.
2. O primeiro contacto entre Artur Baptista da Silva e eu próprio ocorreu a pedido dele para me apresentar as linhas gerais da conferência que iria proferir no Grémio Literário a 4 de Dezembro, o que aconteceu, tendo sido introduzido pela presidente do American Club, Anne Taylor.
3. O Expresso, e eu em particular, errámos ao dar como adquirido que a informação que nos estava a ser prestada era fidedigna e não carecia de confirmação. Pelo facto, peço desculpa aos leitores e aos espectadores por este falhanço profissional inadmissível ao fim de 32 anos de jornalismo.
4. É na sequência desse encontro que o Expresso entrevista Artur Baptista da Silva e a publica a 15 de Dezembro. A 21 de Dezembro, a meu convite, Artur Baptista da Silva participa no programa Expresso da Meia-Noite da SIC Notícias.
5. A entrevista ao Expresso tem repercussão internacional e a Reuters traduz uma grande parte para inglês. O jornal norte-americano "Chicago Tribune" dá também relevo à entrevista.
6. Tudo indica que Artur Baptista da Silva não exerce os cargos e as responsabilidades que dizia ocupar e que as declarações que fez não vinculam nem a ONU nem o PNUD. Investigações conduzidas pelo Expresso e por outros órgãos de comunicação social indicam que Artur Baptista da Silva não faz nem nunca fez parte dos quadros de nenhuma daquelas organizações.
7. Artur Baptista da Silva intitula-se também professor em "Social Economics", na Milton Wisconsin University, nos Estados Unidos da América. Consultados os sites alusivos aquela universidade constata-se que ela encerrou em 1982.
8. O Expresso e eu próprio assumimos este erro e iremos reforçar os mecanismos que permitam um controlo acrescido sobre a credibilidade das fontes com que lidamos diariamente.

– Comunicado de Nicolau Santos e do Expresso –


* * *

Vejamos, ponto por ponto, para bem se avaliar a patifaria em todo o seu esplendor, com continuação no comunicadelho:

a) “O Expresso, e eu em particular, errámos ao dar como adquirido que a informação que nos estava a ser prestada era fidedigna e não carecia de confirmação. Pelo facto, peço desculpa aos leitores e aos espectadores por este falhanço profissional inadmissível ao fim de 32 anos de jornalismo”.

Pois é, a sanha é tão grande, a vontade de denegrir tamanha, que tudo vale, não se olha a meios. O que é preciso é bater no governo… A ética profissional que se lixe!

b) “Pelo facto, peço desculpa aos leitores e aos espectadores por este falhanço profissional inadmissível ao fim de 32 anos de jornalismo”.

Na verdade, o “falhanço” (?!) é inadmissível. E mais, devia ser punido. O facto de ter 32 anos de jornalismo só pode constituir agravante. Há evidente animus injuriandi.

c) “Pelo facto, peço desculpa aos leitores e aos espectadores”

Mas os leitores e espectadores não deviam desculpar, porque “falhanços” destes e outros é o que mais vem acontecendo no Expresso que já foi um jornal de referência e hoje é um pasquim igual a tantos outros que por aí se arrastam pelo lodo.

d) “Pelo facto, peço desculpa aos leitores e aos espectadores”

 
E ao governo, que é o principal atingido pela patifaria que tens a lata de rotular de “falhanço”, pá?

e) “Por este falhanço profissional”

Por este “falhanço”, de tal modo grosseiro que logo ficou desmascarado – mas não pelo Expresso nem por Nicolau Santos e, isso sim, por outros jornais, o que é sintomático… – foram apanhados. E por tantos outros que em qualquer outra edição do jornaleco aparecem, em quantos casos foram igualmente apanhados? E quantos pedidos de desculpa devem já?

f) “iremos reforçar os mecanismos que permitam um controlo acrescido sobre a credibilidade das fontes com que lidamos”

E pela vossa própria credibilidade o que fazem? É que a credibilidade das fontes só nos afecta se a vossa o fizer, porque vocês é que amplificam as vigarices dos Baptistas da Silva deste mundo. Se não forem vocês, as vigarices dele e de todos os iguais a ele não passarão do restritíssimo círculo social de cada um dos autores. Pois, pela vossa credibilidade nada fazem porque já nada há a fazer, tantas têm sido as “sacanices”.

g) “A entrevista ao Expresso tem repercussão internacional e a Reuters traduz uma grande parte para inglês. O jornal norte-americano "Chicago Tribune" dá também relevo à entrevista”.

E até tens o desplante de evidenciar que o teu/vosso “pedido de desculpas” se ficou a dever apenas e tão somente ao facto de a entrevista ter tido a repercussão internacional que teve. Se tivesse ficado apenas pela audiência nacional, não teria havido qualquer comunicado de “desculpas esfarrapadas”. Foi apenas por ter tido repercussão internacional que vos levou a borrarem por completo as calças, por receio do ridículo e da descredibilização internacional que vos atinge e que tentam minimizar. Quantas aldrabices já publicaram para consumo nacional e não se sentiram no dever de retratação?

h) “despublicados” devias ser tu, pá, e o Expresso. Isso é que deviam. E há já muito tempo.

Por fim

i) Sabes, Nicolauzinho? Quando os meios de comunicação social se enxameiam de comissários políticos rotulados de jornalistas, é nisto que dá.

Acontece isto e acontecem também, por exemplo, espectáculos degradantes a que assistimos, de jornaleiros a entrevistar políticos e, em vez de perguntarem e esperarem pela resposta, para que o público ouça a pergunta e a resposta e. depois, avalie por si, aquilo a que invariavelmente assistimos (com Judite de Sousa, então, é uma vergonha…) é à pergunta e à imediata interrupção da resposta do entrevistado, quando este não diz o que aos mandantes do jornaleiro-comissário político convém. E desaparece o arremedo de entrevista, começando o debate. E, para cúmulo, a um debate desigual em que o jornaleiro, tendo a faca e o queijo na mão, despudoradamente se arroga o direito de se substituir à Oposição ao Governo que está – seja ele qual for – e contradita o entrevistado, em vez de REALMENTE o entrevistar, ou seja, “conversar com ele para o inquirir sobre os seus actos, ideias e projectos, a fim de publicar ou difundir o seu conteúdo”.

Uma situação miserável, tanto mais que o político tem de regularmente prestar contas aos seus concidadãos, ao passo que o jornaleiro disso está isento. Tem um poder imenso, antidemocrático, e que nem sequer alguma vez é escrutinado.

As regras deontológicas – se é que as há em Portugal, para os jornalistas – são completamente arrasadas por estes ditadorezinhos de algibeira, para cúmulo na maior parte dos casos completamente ignorantes e abstrusos, o que agrava o desmando.

Ao menos que, sempre que mijam fora do penico, fossem obrigados e assistir, em repetição e ad infinitum, a entrevistas da BBC, da CNN ou de outra estação em que a decência não é ofendida, para ver se aprendem a ser homenzinhos…

Se os políticos portugueses, de modo geral, estão mal vistos e deviam ser metidos na ordem, mesmo assim, não conseguem ser tão sacripantas como a esmagadora maioria dos jornaleiros que diária e impunemente por aí fazem porcaria da mais nojenta que alguma vez no país se viu.

1 comentário:

Ruvasa disse...

Afinal, a nojeira é ainda maior do que parecia!...

A aldrabice praticada com a entrevista e com o artigo do Nicolau não resultou de um lapso, de uma negligência, mas foi acto premeditado.

Nicolau Santos e o Expresso tinham a obrigação de saber que o burlão fora já desmascarado dois meses antes, ou seja, em Outubro!!!

Maior nojeira é difícil de conceber.

http://www.ionline.pt/portugal/baptista-da-silva-burlao-ja-tinha-sido-descoberto-outubro