Aqui vão sendo deixados pensamentos e comentários, impressões e sensações, alegrias e tristezas, desânimos e esperanças, vida enfim!
Assim se vai confirmando que o Homem é, a jusante da circunstância que o envolve, produto de si próprio. 2004Jul23
Deanna Barroqueiro é, sem dúvida, um nome incontornável da Literatura Portuguesa.
Especializada em romance histórico, as suas obras
. D. Sebastião e o Vidente (venturas e desventuras do rei "Desejado") . O Navegador da Passagem(Bartolomeu Dias, o homem do Cabo da Boa-Esperança) . O Espião de D. João II (Pêro da Covilhã pelo Oriente e em busca do Preste João) . O Romance da Bíblia(Um olhar feminino do Antigo Testamento)
constituem marcos extremamente significativos das letras portuguesas.
Obras de grande densidade e, consequentemente, de leitura não muito fácil, são absolutamente indispensáveis à biblioteca de todos os portugueses.
Tendo já podido apreciar os excelentes três primeiros, vou começar a leitura do último, logo que o carteiro mo traga, já que o encomendei.
Deixe que lhe sugira que os não perca. Dão trabalho, mas vale bem a pena o esforço. Deanna Barroqueiro é uma mulher de garra e que sabe bem o que faz e por que o faz. Preencheu muito bem e por mérito próprio um vazio imenso que existia na literatura portuguesa. Em boa hora. ...
Não é meu hábito aconselhar a leitura de livros que eu próprio ainda não li.
Abro, porém, uma excepção para a obra de Deana Barroqueiro, "O Navegador da Passagem" - A história de um descobridor de mundos que o mundo ignorou.
E por que o faço? Por ter a garantia de que se trata de uma obra a reter e a divulgar.
Da autora conheço "D. Sebastião e o vidente" e essa é, para mim, a garantia de que qualquer obra saída dos estudos e capacidade de exposição de Deana Barroqueiro tem a marca da grande qualidade, do estudo aturado e cuidadoso, do desejo de narrar História para lá das versões oficiais e oficializadas, mais humanizada, mais perto, portanto, da compreensão e aceitação do cidadão comum, se bem que, forçoso é que se diga, mais dificilmente do cidadão comum das leituras do quotidiano.
Por todos os motivos históricos, mas igualmente pela singular forma de escrita, que tenta - e consegue plenamente - transportar-nos à data dos eventos narrados, Deana Barroqueiro tem um lugar ímpar na Literatura Portuguesa de todos os tempos.
Quedo-me por aqui, de momento.
Apenas mais uma breve nota, para informar que o livro será apresentado a 17 do corrente, pelas 19,30h, no Padrão dos Descobrimentos. E que local mais apropriado para a realização de tal evento, do que este mesmo?
Fique, agora, com um pequeno vídeo, em que a autora faz uma curta apresentação da obra.
Precisamente o romance "A Fórmula de Deus" (Die Gottes Formel), de um dos dois escritores portugueses do momento de minha preferência, o inimitável JoséRodrigues dos Santos - o outro é Miguel Sousa Tavares, de que li "O Equador" e estou a ler "Rio das Flores", este, até à fase em que vou, aí pela página 200, sinceramente bem melhor do que o primeiro.
Entretanto - e para absorver mais alguns ensinamentos e enquanto não me decido a escrever o meu próprio romance (uma epopeia de, para aí umas 800 a 900 páginas), que deixará o próprio JRS azul de sem fôlego e MST verde de invídia, mas também para disfarçar a minha indolência de escritor sem "aventura" e com certo "temor" reverencial e outros... -, tenho vindo a ler obras menores (em extensão e fôlego) que a capacidade de recepção já não é a que used to be...
No entanto, há cerca de dois meses atrás atirei-me (trata-se de uma forma de expressão que é igualmente força... muita força... - e vão já ver porquê...) à obra de Deana Barroqueiro, "D. Sebastião e o vidente", ou seja, um calhamaço de 640 páginas de uma escrita necessariamente - tanto quanto me parece - intrincada e redundante que deixa qualquer pobre de Cristo que ao fim chegue, completamente exaurido. Como é que não terá chegado Deana?!...
Não quero, com isto, dizer que não gostei do livro e que, portanto, o desaconselho.
Não, muito pelo contrário, entendo-o de leitura absolutamente indispensável para a compreensão de uma época da nossa História que, desde sempre, esteve mergulhada em névoa, como o próprio mancebo sifilítico. Rei que, talvez por efeito da doença que o consumia mas certamente pelas várias forças que o empurravam para caminhos escusos e por ausência de outras que o poderiam ter levado por outra senda, mas que não se atreviam a manifestar-se, conduziu o País, sem honra nem glória, antes muita impreparação, aliada a indesculpáveis descuido e ausência de sentido de Estado, a um desastre imenso, com consequências terríveis para a nação, perfeitamente evitáveis e que compulsivamente deveriam ter sido evitadas.
Com Sebastião, Portugal deixou de ser potência mundial e foi decaindo... decaindo sempre até à actual vil tristeza, hoje em dia mal disfarçada com arrogâncias injustificadas, por "vitórias" sobre "vitórias", esperemos apenas que não até à derrota final. Do País, evidentemente, que em outras não ponho grande cuidado. (Pois não é verdade que se considera vitória memorável o simples papel de dactilógrafo daquilo que se diz ser uma espécie de tratado, previamente cozinhado pelos chefs de cuisine? - ou será melhor dizer Küchenchefen?).
Mas regressemos ao que, nesta oportunidade, verdadeiramente importa:
Como se afirma na contra-capa, "O rei mais desejado da nossa história é, apesar de todas as esperanças da nação, um órfão falto de afectos, criado e educado por(...)uma avó sedenta de poder ou o cardeal regente, tornando-se (...)joguete involuntário dos desígnios imperialistas do seu tio, o implacável Filipe II de Espanha".
E, mais adiante:
"Caprichoso e insolente (...) cresce atormentado pelos fantasmas da adolescência (o percalço que, em Almeirim, numa noite de desvario e rapaziada, afinal compreensível, lhe trouxe a doença que nunca mais deixou de o atormentar e tanto poder teve também no desenrolar do acontecimentos), sublimados nos sonhos de glória de mancebo visionário, senhor de um poder absoluto (para que nunca esteve minimamente preparado) que o arrasta ao desastre (...).
Encha-se, pois, de tempo, de coragem para ler aos poucos e ir absorvendo, como que mastigando antes de deglutir, e leia o livro.
Vale a pena. Até mesmo pela dificuldade. Livro ligeiro não dá luta, que é, afinal, o melhor da leitura.
* * *
Um dia destes, virei aqui falar de mais obras. Outro livro de J. Rodrigues dos Santos, "O Sétimo Selo", que já li, e "Rio das Flores", de M. Sousa Tavares que estou a fazê-lo.
Enquanto não estiver em condições de tomar semelhante atitude relativamente ao que a mim mesmo devo há anos e anos, somente porque não encontrei ainda a estrutura que mais me parece a adequada e também não venci a tal indolência (ou receio de crítica?), falarei de outros...