
Vejamos, pois:
(…)
A ignorância que a maior parte dos ocidentais revela a respeito da China tem uma atenuante: fomos apanhados de surpresa. Tudo se passou a uma velocidade alucinante. Ainda há 20 anos, Xangai era uma cidade decrépita e estagnada o aspecto dos seus edifícios poucas alterações sofrera desde a Segunda Guerra Mundial, as ruas apinhadas de bicicletas e riquexós a motor ofereciam uma paisagem de Terceiro Mundo, e fazer compras em qualquer grande armazém era uma experiência frustrante, dada a escassez de produtos e a indiferença das empregadas. Bastou fazer saltar a “rolha” do maoísmo, que contivera infinitas energias ocultas, para permitir que o milagre acontecesse. A disciplina e a obediência dum povo para quem o trabalho continua a ser uma bênção; o lendário talento comercial que o comunismo não conseguira suprimir e que permanecia bem visível na diáspora de Hong Kong e Macau, Taiwan e Singapura, São Francisco e Carpi; a parcimónia das famílias e os inesgotáveis fundos de poupança; o respeito confuciano pela instrução: tudo isto permitiu a ocorrência do milagre chinês, aquele “grande salto em frente” que Mao Tsé-Tung não conseguira dar. Hoje Xangai possui um comboio de alta velocidade a que nem a Itália se pode dar ao luxo; o ritmo de construção de novos arranha-céus é tal que, quem se ausentar por seis meses, quando regressa fica desorientado e aturdido com as mudanças. Por entre a explosão deslumbrante das vitrinas, o consumidor é senhor absoluto e desfruta de uma qualidade de serviço sem comparação no Ocidente. A atmosfera vibra de entusiasmo. A China tem consciência de que se encontra no centro do mundo, mostra-se confiante no futuro, e quem lá vive não tarda a deixar-se contagiar pelo seu optimismo tenaz.
Vimo-nos forçados a habituar-nos aos milagres asiáticos: o do Japão, a Coreia do Sul, Hong Kong e Singapura são países que demonstram que sabem queimar as etapas do desenvolvimento. A China, porém, constitui um caso particular e de dimensões tais que a sua descolagem gera choques sem precedentes. Estamos a assistir a um daqueles movimentos sísmicos que alteram o curso da história humana. À medida que se transformar a si própria a uma velocidade inaudita, a China transforma inevitavelmente todo o planeta. Nunca, no mundo contemporâneo, um país emergente deteve semelhante poder para perturbar as relações das forças económicas e os equilíbrios diplomáticos e militares. Nunca se vira nascer do nada, em escassos vinte anos, uma nova classe média urbana de 200 milhões de pessoas dotadas dum poder de compra “ocidental”. A China é a única potência que desafia a influência dos Estados Unidos, e não apenas na Ásia, mas também na América Latina e na África. (Está a começar a fazê-lo também na própria Europa, como bem sabemos…, nota minha). É o país que, tendo acumulado 600 mil milhões de dólares de reservas monetárias, exercita um poder crucial sobre o mundo financeiro de Washington. Os norte-americanos foram os primeiros a compreendê-lo.
(…)
O texto é bem elucidativo do que aí vem. Permiti-me colocar em bold algumas passagens, por as entender de importância vital para o desenvolvimento de qualquer sociedade humana e bem assim, ilustrativos da dimensão e velocidade da transformação que está a ser operada.
Por hoje, ficamos por aqui.
O tema é, porém, inesgotável, pelo que a ele voltarei.
…
7 comentários:
A China vai-se tornar em 2020 uma mega potencia naqual vai rivalizar com os EUA, mas a China tem bastante problemas que sao desconhecidos ou ignorados pelos os ocidentais, e' um pais com 1.5 bilioes de habitantes, a grande maioria vive na probreza total e so' mesmo a chamada disciplina oriental consegue fazer com que eles trabalhem em situacoes de escravatura, e depois temos que ver que para a China se tornar numa potencia economica vai ter que abrir mais cedo ou mais tarde as fronteiras `a liberdade de expressao e ai vai começar o problem, ou seja a China vai ter a tendencia a se dividir ja' que tem povos que se odeiam como os chineses do norte que odeiam os chineses do sul, Tibete, povos que fazem fronteira com o Afeganistao e India, etc.
O maior problema que a China vai enfrentar vai ser o problema da energia e as mudanças climaterias, no primeiro caso e' o ouro negro que ja' começa a faltar e no segundo caso esta' na poluiçao naqual todos nos somos testemunhas na mudança climateria com as temperaturas a aumentar e os gelos dos polos e Gronelandia a derreter naqual vai provocar em poucos anos mais desastres ecologicos e o aumento do nivel das aguas que vao simplesmente mudar os mapas do mundo, se a Katrina foi um exemplo naqual milhares de pessoas ficaram sem casas agora imaginem a tragedia que se vai dar na China e na India com centenas de milhoes de pessoas a terem que evacuar.
Hello, Slanwar!
Abraço para ti.
O que dizes não deixa de ser verdade, realmente.
Mas o que por lá já se vê, actualmentem que corresponde ao que o jornalista refere (e verás que ele vai aludir a mais condições) é absolutamente assombroso.
Confesso-te que fiquei completamente estarrecido com tudo quanto vi. Com o modo extremamente afável com que fomos recebidos em todo o lado, no à-vontade com que nos deixam andar por onde queremos e fotografar tudo o que queremos (com excepção do Buda de Jade, por razões de preservação), a afabilidade do povo, tanto nas cidades como no campo, tanto a Norte como a Sul.
Não me importo nada de me confessar totalmente rendido. E a classe média chinesa (os tais 200 e tal milhões) vive mesmo bem. Certamente que haverá muitos mais que vivem bem pior, mas o que é certo é que, tendo andado por onde, de Norte a Sul andámos, não vimos miséria, não vimos exclusões sociais. E ninguém nos impediu de ir fosse onde fosse.
Vim de lá de tal modo impressionado, que o referi várias vezes. No Natal, ofereceram-me o livro que tenho vindo a reportar e que me acontece? Simplesmente que o jornalista italiano, que vive lá há bons anos, põe em livro exactamente aquilo que eu fiquei a pensar, pelo que vi, corroborando as minhas impressões.
Na verdade, para mim os chineses vêm mesmo aí. Serão o próximo império. O dos mil anos? Sabe-se lá! Mas, aconteça o que acontecer, eles vêm aí. Aliás, já cá andam.
Como vos é mais fácil ir até lá do que a nós, vai mesmo lá. Ficarás impressionadíssimo com Beijing, com a modernidade da cidade, que daqui por uns 20 a 25 anos, baterá Nova York em qualidade de vida e em riqueza.
Abraço grande e continua a mergulhar, ok?
Estás a viver onde, agora? Da última vez era na Flórida, não?
E o curso? Já acabaste?
Ruben
Ruben,
está a dar na tv-2
um documentário sobre a China actual :-)
Beijinho
Também não tenho dúvida de que a China, para nossa felicidade, vai dentro em pouco retirar aos states o seu poderio arrogante e ganancioso.
Esperemos que as suas políticas sejam de molde a tornar exequíveis as boas relações entre os povos. Bom fim de semana.
Viva, Maria João!
Infelizmente, não vi a tempo o teu post, pelo que não assisti ao programa. Mas a Odisseia, o Travel (com os Globetrekers e o Thirsty Traveller), o People & Arts e outros, passam constantemente programas sobre a China.
Nunca serão demais, para percebermos o fenómeno e, mais ainda, a filosofia que subjaz à sua maneira de viver e de encarar o semelhante.
Há uma coisa em todo o processo que não me deixa muito descansado: são muito afáveis, extremamente trabalhadores e prestativos, mas a vida humana não tem para eles o valor que tem para alguns de nós (e digo apenas alguns de nós porque nem todos temos o mesmo respeito pela vida humana, como é sabido). Ora, isso, deixa-me apreensivo.
Beijinho
Ruben
Viva, Zé Lérias!
Espero o mesmo, apenas com o senão, que é um grande senão, como é sabido, que apontei na resposta que dei à Sulista, imediatamente antes desta. O caso do valor que é atribuído à vida humana, que do meu ponto de vista deve ser preservada a todo o custo e com eles esse apego não se vê tão claramente.
Abraço
Ruben
Viva, Luís!
O teu patrão deve estar a exagerar. Provavelmente é de Taiwan ou, então, não vai à China há já mais de 5 anos.
Andámos por todo o lado que quisemos, fotografámos tudo o que queríamos fotografar, entrámos onde nos deu na real gana e ninguém nos impediu. Ao todo - em 15 dias de estada lá - fardados devemos ter visto para aí uns 50 polícias.
Experimenta o livro de que tenho vindo a falar, Il Secolo Cinese, do Federico Rampini. (Como não sei se está publicado aí - deve estar - envio-te o url da editorial Presença, que o distribui cá: www.presenca.pt.
Mais: o ano passado estivemos no Tibete que, como sabes, está ocupado pelos chineses desde 1959.
Então, no Tibete, fizemos a viagem da fronteira com o Nepal até Lhasa, de jeep (são mais de mil quilómetros) passámos por todo o planalto tibetano, estivemos nas cidades de Zangmhu (fronteira com o Nepal), Shigatse, Gyantse e Lhasa. E aldeias como Shegar e Latze. Mais uma vez falámos com quem quisemos, fotografámos tudo, fomos onde quisemos e não vimos qualquer miséria.
Não há por lá nada que se pareça com a desgraça da Índia ou do Nepal ou mesmo de tantos outros sítios que a gente vê nas TVs ou via cá em Portugal ainda há 20 anos...
E... como bem sabes, de comunista não tenho nada. Não confies muito no teu patrão. Vai lá e logo verás.
Força nesse curso. hei-de ir lá ver o forno.
Pois, eu sei que vives em New Jersey. Enganei-me, por aqui h´+a tempos teres dito que ias à Florida fazer não sei o quê. A propósito: tens visto o Tony Soprano? ;-)
Abraço grande.
Ruben
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