Os portugueses têm de salvar-se de si próprios, para salvarem Portugal

domingo, 1 de julho de 2007

1164. Os responsáveis


António Costa prepara-se para, com uma perna às costas, sem mérito especial e com enorme ajuda do governo do senhor Pinto de Sousa (o próprio Costa se encarregou já de o confirmar, propalando aos quatro ventos que o Governo o vai ajudar a pagar as dívidas da CML), vencer as próximas eleições na autarquia de Lisboa, em 15 do corrente.

Mas as ajudas que recebe não são apenas as que virão do governo, que mais para a frente se verão quais serão, na totalidade. Não são apenas essas, nem sequer são essas as decisivas para o resultado final.

Porque o facto decisivo para aquela que se prefigura como a fácil vitória de Costa é da total e exclusiva responsabilidade de Carmona Rodrigues e/ou Fernando Negrão, a ambos se podendo associar por inteiro Luís Marques Mendes.

Esta circunstância - já intuída de há muito - recebeu plena confirmação na última sondagem, publicitada há dois dias.

Nela se prevê a vitória de Costa com um total de 33% dos votos, seguido de Fernando Negrão com 18% e Carmona Rodrigues com 17,5%. Ou seja, mesmo descontando a aleatoriedade destas consultas de intenção de voto (cada qual encomenda as que mais lhe convêm), conclui-se que, sendo como os resultados apontam, o pleno dos votos de Negrão e Carmona - ainda que perdendo volume percentual por estarem divididos - ultrapassa o de Costa.

Acontecerá assim, muito previsivelmente, aquilo que acima ficou dito, ou seja, a tremenda responsabilidade de Negrão e Carmona na circunstância de o esforço dos eleitores de um e de outro resultarem infrutíferos, por falta de senso político e noção da responsabilidade cívico-eleitoral de ambos.

Movimentando-se em campos que se sobrepõem, os dois candidatos "assassinam-se" mutuamente e oferecem a Costa aquilo que ele jamais pensou vir a conseguir. A ele e também a Pinto de Sousa, que, assim, se vê livre de um concorrente dentro do seu próprio partido, em 2009.

Mais:

O senhor Pinto de Sousa consegue, por artes mágicas de adversários inábeis e pouco despertos para as realidades da vida, livrar o corpo da vergastada de terceira e retumbante derrota consecutiva (presidenciais e legislativas regionais foram as primeiras) após ter sido, ele próprio, eleito com ajudas imensas e pouco curiais, em Fevereiro de 2005.

Aqui se pode, por conseguinte, aquilatar do enorme serviço que aqueles senhores estarão a prestar ao PS de Pinto de Sousa - curiosamente PS também ;-) - e, consequentemente, o tremendo desaire que irão oferecer em bandeja de lata ferrugenta aos respectivos eleitores.

Lógico seria que fossem sopesados os pratos dos prós e contras da atitude que se impõe que seja tomada, mas que não o será, como bem sabemos.

E que conteriam esses pratos? Bem, enquanto que num estaria o "sacrifício" de um qualquer dos referidos candidatos, no outro estaria o interesse de Lisboa, dos lisboetas e, em primeiro plano, o dos respectivos eleitores.


Nada disso, o sacrifício de um, porém, irá acontecer, pelo que a vitória de Costa se ficará a dever ao enorme demérito político e de cidadania daqueles seus adversários e não a mérito próprio.

E assim anda a política - pequenina, pequenina - deste nosso Portugal.

Falta referir o terceiro responsável pela patética vitória de Costa.

Luís Marques Mendes é responsável também neste caso e talvez seja mesmo o primeiro deles, pela política que tem conduzido - melhor dito, pela política por que se tem deixado conduzir - não só em todo o processo autárquico lisboeta (e de longa data), mas relativamente a toda a actividade do próprio Partido Social Demcrata. A continuar assim, o partido tenderia a desaparecer, não fora o núcleo duro dos seus eleitores, que, haja o que houver, não o deixa tombar abaixo dos 30%, a não ser episodicamente, como aconteceu em 1985, com Cavaco, que, ainda que abaixo daquela fasquia, venceu as legislativas.

Aqui ficam, pois, apontados. Para a posteridade. Para todos os efeitos da posteridade, incluindo a conferência, em 15 do corrente, do que agora fica dito.

* * *

No caso de surgir algum rasgo de senso comum na actuação dos referidos três senhores - do que muito se duvida porque não se lhes vislumbra rasgo, golpe de asa e desprendimento para tal -, que os leve a conversarem e a ajustarem posições, com o tal "sacrifício" de um deles, é por demais evidente que o sacrificado teria que ser Fernando Negrão.

Mesmo descontando outras razões, igualmente muito ponderosas, avulta a do assombrosamente fraco conhecimento que tem revelado da causa autárquica em geral, mas principalmente da lisboeta, cujo ácume se verificou no já célebre episódio daquilo que, em desespero de causa, se tenta agora apresentar como mera e natural gaffe resultante de confusão de siglas, mas que todos quantos tiveram oportunidade de ouvir com atenção e não são tolos, sabem bem que se tratou de algo bem mais grave e penoso. De uma total confusão de propostas, só possível por nítida e incompreensível ausência de estudo de dossiers, aliada a débito de um conjunto de banalidades inconsequentes e introduzidas à pressa e descuidadamente no discurso oficial do candidato.

...

8 comentários:

Isabel Magalhães disse...

Caro Ruben;

Subscrevo, e digo mais; folgo muito de saber que há mais quem pense como eu.

Duas candidaturas a dividirem votos na mesma 'area' vão dar a vitória ao Sr. Costa do PS e ao sr. P.S.

Fica a pergunta: O que é que andam a fazer à minha cidade?

Continuação de um bom domingo.

[]

I.

Ruvasa disse...

Viva, Isabel!

Esta é uma das razões por que, em 1989, depois de 12 anos de trabalhos esforçados na política, sem exigir um cargo só que fosse e sem ter ganho um único tostão com a política - muito pelo contrário tendo gasto algum dinheiro -, mandei tudo à fava e virei costas a essa malta.

Desde então, vou fazendo a "minha" política, aplaudindo se entendo que há algo para aplaudir, batendo forte e feio, se acontece o contrário. Infelizmente, não tenho podido dispor de oportunidades para aplaudir. A tal malta não não a mínima chance...

[]

Ruben

Anónimo disse...

Pois eu cá vou votar no Ruben! ;-)

Beijinho

Ruvasa disse...

Viva, MJoão!

Se votasses no Ruben Valle Santos estavas garantida; votando no Ruben de Carvalho, enfim...

Ele e os amigos dele andam lá há dezenas de anos (desde que saiu de lá o Abecassis...)e o estado em que aquilo está deve-se a todos, não somente a estes últimos.

Enfim!... Não comer queijo e essencial.

Felizmente, não tenho esse problema, ou seja, de ter que votar em verso neles todos...

Deixa que aproveite o ensejo para aqui deixar duas quadras. Pode ser que alguém as ache suficientemente boas para deixar no boletim. Ora, vamos lá:

LISBOA, CIDADE ANTIGA
ÉS MEU BERÇO DE EMBALAR
ENSINA-ME UMA CANTIGA
DAS QUE TU SABES CANTAR

UMA CANTIGA BONITA
DAQUELAS DE ENFEITIÇAR
E DEPOIS TODA CATITA
MANDA-OS TODOS... BUGIAR!

Beijinho

Ruben

Ruvasa disse...

É evidente que o Negrão, pela mão do "pequenino", ainda por cima, veio atrapalhar o PSD. Por isso, ele devia desistir.

Resta saber se os "socratinos" pagavam as tais «dívidas» da CML se qualquer deles ganhasse.

Assim, o Costa vai fazer figura à conta do Estado, o que é ilegal.

Isto está a ficar bom!

Abraço

TR

Ruvasa disse...

Viva, TR!

Claro! Mas com eles tudo vale, tudo está certo. Não estamos já cientes disso?

Abraço

Ruben

Agnelo Figueiredo disse...

Subscrevo na totatlidade. Com uma pequeníssima precisão. É que, por mim, não há hesitação quanto ao primeiro responsável pela futura derrota: Marques Mendes.

Abraço

Ruvasa disse...

Viva, Agnelo!

Não discordo, até porque o chefe da tropa e sempre o primeiro responsável... ou irresponsável.

Abraço

Ruben