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quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

1965. Freeport - Tio explica "luvas"

Tio de Sócrates explica queixa sobre luvas

Júlio Monteiro chamado a explicar "e-mail" do filho a Charles Smith com "conhecimento" ao então ministro
00h30m
CARLOS VARELA, NELSON MORAIS E NUNO MIGUEL MAIA

Alguns dos principais envolvidos no caso Freeport já estão a ser ouvidos pelas autoridades. O tio de José Sócrates terá explicado os contornos do contacto, em 2002, de Charles Smith com vista a um pedido para uma reunião com o então ministro.

De acordo com informações recolhidas pelo JN, Júlio Monteiro explicou pela primeira vez à Polícia Judiciária (PJ) e procuradores do Ministério Público os contactos com Smith e as queixas deste relativamente a um alegado pedido de luvas de "quatro milhões" (de contos ou euros) em luvas, apresentado por advogados não identificados para a viabilização do empreendimento.

O tio de Sócrates terá então explicado aquilo que já disse em várias entrevistas: ficou escandalizado e disponibilizou-se a arranjar uma reunião com o sobrinho, então ministro do Ambiente. Depois disso, nada mais soube.

Júlio Monteiro não foi confrontado com dados financeiros nem supostas entregas de dinheiro por parte do inglês, seu vizinho no Algarve, citado - numa gravação oculta existente num processo a correr em Inglaterra -, como tendo dito que distribuiu quatro milhões de euros em subornos por vários intervenientes no processo de licenciamento.

Terá, no entanto, sido confrontado com o conteúdo de uma mensagem de correio electrónico enviada pelo seu filho, Hugo Monteiro, a Charles Smith, a propor serviços de marketing e promoção do Freeport. Em causa está o facto de o filho de Júlio Monteiro ter enviado o "e-mail" com "conhecimento" ao seu primo José Sócrates, com um seu alegado endereço electrónico. A par disso, no conteúdo da mensagem era recordado o papel na intermediação para a reunião com Sócrates.

Para já, as autoridades estão a apurar os contornos desta e de outras mensagens, detectadas nos discos duros dos computadores dos visados por buscas. Hugo Monteiro - neste momento na China, em alegada aprendizagem de artes marciais - também será ouvido sobre esta matéria.

Numa altura em que ainda decorrem, na PJ, perícias de análise de fluxos financeiros e bancários e ainda se aguarda pela chegada de dados bancários provenientes de Inglaterra, Júlio Monteiro foi ouvido apenas como testemunha.

Nos últimos dias terão sido também ouvidos Charles Smith e Manuel Pedro, os sócios da Smith & Pedro, empresa consultora do Freeport, de Inglaterra, para a construção do empreendimento "outlet". As inquirições terão decorrido no Montijo e no Algarve, onde residem.

A estação televisiva Sic noticiou ontem que o caso já tem arguidos constituídos, mas nenhuma das fontes contactadas pelo JN confirmou essa informação.

À saída da inquirição do tio de José Sócrates, no Tribunal de Cascais, o advogado Sá Leão revelou-se surpreendido com a "falta de conteúdo" do processo e lançou a suspeita: "Quem ficou com o dinheiro foi quem o trouxe de Inglaterra", disse, vincando que Júlio Monteiro não é considerado suspeito. "Não há a mínima hipótese de vir a ser constituído arguido", garante.

Entretanto, a sociedade de advogados Vieira de Almeida anunciou um processo contra o jornal "Correio da Manhã", alegando que uma notícia sobre alegados pagamentos de 6,5 milhões de euros do Freeport, e indícios de uma "complexa operação", é "grave e difamatória". "Todos e quaisquer pagamentos recebidos [...] se destinaram a liquidar honorários ou a constituir adiantamentos de despesas [...] pagas em nome do cliente, como foi o caso da compra do terreno onde se instalou o outlet, no valor de 5,860 milhões de euros (mais sisa)".
JN
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