Os portugueses têm de salvar-se de si próprios, para salvarem Portugal

quarta-feira, 24 de junho de 2009

2357. Autoeuropa (opinião)

Em dia de S. João uma estória de traição

O título é um pouco exagerado, como se diz dos publicitários. Por outro lado, em dia de S. João o tema também corre o risco de ser pouco popular e ainda muito menos santo, mas se as notícias não escolhem hora, os comentários também não podem perder o pé.

Claro que nesta quadra de santos populares o pé deveria fugir-me mais para o bailarico, mas acontece que me fugiu para esta estória de muito pouco amor e solidariedade em tempo de crise.

Para quem não está familiarizado com o assunto, a Administração da Autoeuropa tinha chegado a um pré-acordo com a Comissão de Trabalhadores da empresa para salvaguardar o emprego a 250 funcionários contratados a prazo, o que implicava o corte no pagamento de trabalho extraordinário realizado em seis sábados por ano. Esta medida abrangia os trabalhadores que já tivessem beneficiado de mais de 22 dias anuais pagos sem produção.

Este pré-acordo foi alvo de um referendo interno na Autoeuropa e para enorme surpresa da Administração da Autoeuropa e da Comissão de Trabalhadores, a solução foi rejeitada, ainda que por pequena margem.

Em consequência do falhanço do acordo, os 250 trabalhadores em causa poderão vir a ser dispensados a todo o momento.

Ficamos todos a saber que na Autoeuropa de Setúbal há 1381 trabalhadores para quem a solidariedade é uma palavra vã. 1381 profissionais que não estão dispostos a abdicar de umas migalhas para que 250 dos seus colegas possam ter o pão do-dia a-dia.

A Autoeuropa está onde está graças ao esforço de milhões de portugueses. Se veio para cá e cá continua é porque este Governo, bem como os anteriores, fizeram das tripas coração para a obter e para que cá continuasse, mesmo em tempos de enorme crise no sector como aquela que atravessamos. Quem diz o Governo, diz todos nós, porque se trata dos impostos pagos pelos contribuintes de todo o país, que foram solidários com o problema de desemprego que afligia toda a região de Setúbal nessa época. Quem é que não se lembra das manifestações em que se falava de fome e se empunhavam bandeiras negras?

Pois estes 1381 trabalhadores, que escaparam da miséria e estão melhor na vida graças a isso tudo, que estão fartos de ganhar horas extraordinárias pagas a mais de 200% e já beneficiaram de muitos dias pagos sem trabalharem (ainda que aí a culpa não seja deles) não foram capazes de acertar uma pequena redução no pagamento de algumas das suas horas extraordinárias, que permitisse salvar o emprego a 250 dos seus colegas.

Extraordinária é esta estória de verdadeira "traição", que me choca particularmente em dia de S. João. Um feriado que se segue a uma noite de rusgas populares e festa garantida até às tantas, em que milhares de portuenses e forasteiros dão as mãos e comungam de uma alegria de viver solidária que nem umas marteladas nem o cheiro a alho porro é capaz de estragar.

Já uma estória destas, onde não deve ter faltado a mãozinha da CGTP, deixa muito a desejar.

JN 2009.06.24 (coluna de opinião)

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