O preito devido a Sócrates
O engraçado de tudo isto - se é que existe alguma graça nesta história, é que, excepção feita a dirigentes do PSD, que sempre disseram que precisavam de conhecer as contas, os restantes partidos aos costumes vinham dizendo rigorosamente "nada".
Significativamente, depois da chegada do FMI e do BCE, apareceu já Anacleto Louçã, todo pomposo, gongórico e conspirativo, "as usual", a reivindicar a necessidade de uma auditoria às contas.
Mais vale tarde do que nunca, caro Anacleto! Vamos lá então exigir essa auditoria.
Mas não vamos sem antes aqui ficar bem claro que parece que os partidos estão a começar a seguir as nossas pisadas.
Porque fomos nós, as gentes do Facebook, os primeiros a reivindicar a clarificação do estado das contas. E, durante quase mais de duas semanas estivemos sozinhos nesta empresa.
Vêm agora os da 25ª hora.
Mas ainda bem que vêm. Serão bem recebidos, apenas se lamentando que não tenham tido a iniciativa, como lhes competia em primeira mão. Mas, pelo menos, começam a reconhecer a razão que nos assistia. E assiste.
Uma outra nota, de enorme importância:
Alguém precisa de maior prova do que esta para afirmar, sem receio de desmentido, que a cidadania participativa, a Democracia Directa, vigilante da Democracia representativa parlamentar, é mais necessária do que nunca? E que dá provas insofismáveis de ser eficaz?
Alguns cidadãos mais cépticos - talvez por muito desenganados ou pouco habituados a intervir activamente nos problemas da sociedade e sua resolução - poderão supor que a nossa acção não produz efeitos ou, se produz, eles são negligenciáveis.
Puro engano!
Que seja anotado que eles, os políticos da nossa praça, também vêm à Net - ao Facebook e outras redes - e começam a sentir a força dos cidadãos, em bloco, expressa de forma reivindicativa e sem berrarias ululantes. Mas exigente. De pessoas que, sabendo quais os deveres que têm, que cumprem, não abdicam de ver respeitados os direitos que lhes assistem e constitucionalmente lhes estão formalmente assegurados, mas na prática, sempre negligenciados.
E, sentindo-o e porque não são desprovidos de inteligência, vão dando os primeiros passos para se chegarem à realidade, vindo ao nosso encontro. Para se "salvarem", porque, se o não fizerem, mais cedo ou mais tarde - e cada vez é "mais cedo" do que "mais tarde" - tramam-se a sério e de uma vez por todas.
O que se requer da nossa parte é firmeza e persistência. Está nas mãos dos Homens darem ao Mundo a via adequada para percorrer; está nas nossas mãos darmos a Portugal a esperança no futuro de que tão necessitado está.
E ninguém de entre nós, nenhum Português, está isento desta tarefa. Porque ela é de todos e a ela fugir é atitude criminosa, por hipotecar o futuro dos que nos seguirão.
Amanhã, num futuro mais ou menos longínquo, seremos apenas uma recordação. Que pode ser boa ou má, dependendo unicamente de nós próprios. Mas se nenhum de nós será vivo eternamente, a Pátria queremos que o seja. Tem de o ser. Contribuiremos com o nosso quinhão para que o seja.
É esta imensa benesse - a de termos finalmente interiorizado a necessidade de intervirmos decisivamente na vida da sociedade em que estamos inseridos, portanto, da necessidade da verdadeira cidadania - que o vilarista nos deixa. Foi ele e os seus governos, com a prática autoritária, embusteira e destruidora da sociedade portuguesa que desde sempre assumiu, que levou que acordássemos. Esperemos que a tempo.
- Devemos-te, pois, ó Sócrates um enorme agradecimento um verdadeiro preito de homenagem. Que humildemente deves aceitar, mesmo que, como certamente será o caso, não percebas o enorme serviço que prestaste a Portugal e aos Portugueses!
Ruben Valle Santos
Setúbal
13 Abril 2011
(Texto publicado também no Facebook, na página da Auditoria Imediata às Contas do Estado)
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