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Convém perguntar aos Aeroports de Paris, que ganharam o concurso para assessorar a NAER (Novo Aeroporto de Lisboa), qual é a solução que preconizam.
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A entrada dos TGV pelo Norte de Lisboa para irem à Ota e ao Porto é igualmente caríssima e tem grandes inconvenientes ambientais.
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Quais, das futuras linhas de bitola europeia, deverão ser linhas TGV, isto é, linhas que permitam a circulação de comboios com velocidades até perto de 350 km/h?
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Estas foram algumas das perguntas essenciais deixadas pelo Professor jubilado do Instituto Superior Técnico António Brotas quando, em 25 de corrente, 5ª feira passada, deu uma conferência no Clube Setubalense, subordinada ao tema “O Livro Negro do Aeroporto da Ota e o TGV”.
Na verdade, ao pretender-se implantar um aeroporto em terreno com desnível de 30 metros e alagadiço (actualmente está coberto por imenso lençol de águas de muitos metros de altura, provenientes das últimas chuvas), sem qualquer tipo de consistência o que obrigaria a uma obra de engenharia monumental, para durar não mais do que 20 anos, os governos que nos desgovernam têm vindo a dar, vezes sem conta, provas de teimosia sem nexo e verdadeira indiferença pelos destinos do país.
Só a compactação dos terrenos seria uma obra gigantesca! E o aeroporto ficaria sem possibilidade de futuras ampliações, por falta de espaço disponível. Daqui se retiram algumas certezas:
A primeira é a de que construir um aeroporto na Ota é um louco desperdício de meios e uma fonte de gastos perfeitamente inúteis;
A segunda, a de que tudo parece favorecer apenas alguns interesses não muito claros, já que a posse dos diversos terrenos não se mostra à luz do dia, antes se faz representar por empresas do tipo off-shore, assessoradas por sociedades de litígio legal;
Finalmente, por agora, a de que a tal plataforma giratória para voos intercontinentais, em compita com Madrid (Portugal tem uma situação privilegiada no que concerne às ligações com África, América do Sul e até mesmo Central e do Norte) com a consequente entrada de capitais no país, com que se tem alegre e descuidadamente, se não com sofisma, acenado ao Zé Povinho, não passa de puro engano, pois que na Ota tal é absolutamente inviável, não terá a mínima possibilidade de vir a acontecer, por completa ausência de condições no terreno e até climatéricas, atendendo à orientação dos ventos dominante na zona.
Esperemos pelos capítulos seguintes desta saga. Ainda tudo vai voltar à estaca zero, por força das circunstâncias (porque as circunstâncias, como é sabido, têm muita força…). Entretanto, avultadíssimas verbas terão sido, entretanto, deitadas para o escoadouro das águas das cheias, pluviais e do Tejo, na Ota. Que importa isso, não é verdade?
A despeito de tudo quanto fica dito, não obstante a solução ser impraticável, imagine-se: a decisão já foi tomada!
Faltou dizer ainda o seguinte: não são apenas os interesses por detrás do cortinado já referidos a fazer a sua pressão; o lobby dos autarcas da região é igualmente muito pressionante.
O Professor António Brotas teve oportunidade de distribuir alguma documentação sobre o assunto, documentação que demonstra o que tem sido dito ao público e dele escamoteado, acerca do assunto, desde 1998, na qual se inclui uma planta topográfica do local da “futura” implantação do NAER, através da qual se prova que só muito dificilmente o aeroporto virá a ser uma realidade, em face dos obstáculos com que se defronta.
Infelizmente, não me foi possível receber essa documentação, à excepção de uma fotocópia da planta topográfica, em mau estrado, mas que, mesmo assim, não resisto a revelar aqui.
Tive, porém, oportunidade de falar pessoalmente com o ilustre catedrático e aguardo a chegada de mais documentação, de forma regular, de que darei notícia à medida que for chegando ao meu poder.
Isto porque o assunto é mesmo muito sério e, consequentemente, a todos interessa.
click na imagem, para ampliar
Nesta imagem se pode ver a planta topográfica da zona de "implantação" do NAER (novo aeroporto de Lisboa).
A azul a elevação que se encontra no enfiamento da actual pista.
(Era sobre esta pista que inicialmente se pensava construir as novas. Verificada a impossibilidade, em virtude da existência da elevação - por lapso indicada como tendo a cota de 30 metros, o que não corresponde à verdade, uma vez que a cota de 30 metros é a da actual pista, sendo a de 5 metros a dos terrenmos circundantes, pelo que o desnível é de 25 metros, cujo efeito pode ser avaliado na foto que segue.
A verde a actual pista.
A vermelho o enfiamento projectado da que se pretende agora corrigir, mas sem quaisquer estudos.
A Aéroports de Paris limitou-se a traçar na planta duas linhas alternativas, sem cuidar de proceder a quaisquer estudos no terreno...
click na foto, para ampliar
Foto Heli Tours no site "Pelicano - aviação ultraligeira" - http://www.pelicano.com.pt/zp_ota.html
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4 comentários:
Tenho bastantes fotos deste assunto..se quiseres..e tão lá no bloguito num post deste mês ;-)
Beijinho
Viva, Maria João!
Já tinha visto.
Esta abordagem é vinda de outro lado, de um catedrático que pegou no assunto em 1998, quando, pela primeira vez (governo Guterres) se virou o azimute para a Ota.
Vou ficar à espera de mais elementos, que me foi prometido que viriam de forma regular.
É que relativamente a este assunto, todos os esforços serão poucos. Parece haver muitos interesses escondidos. Interesses contra os quais também luta a Alambi. Mesmo porque os planos oficiais (que no site "alambi são mostrados) não respeitam a verdade dos factos, uma vez que apresentam completamente alterada a topografia da zona. Por exemplo, não mostram o monte no enfiamento da actual pista (e que ficava também no da futura, até que alguém chamou a atenção da Aéroports de Paris e esta, sem qualquer estudo nem visão o terreno, se limitou a traçar dois riscos na planta, a alterar a orientação da pista).
É preciso ter em linha de conta que um aeroporto de grandes domensões, placa giratória para voos intercontinentais, é concorrente de "Barajas" e até mesmo dos de "Charles De Gaulle" e "Orly"...
Tudo indica não passar tudo de um embuste. É isso que estou interessado em ver esclarecido.
Beijinho
Ruben
Caro Ruben
Vivemos num País onde os governos não respeitam o dinheiro dos contribuintes,gastando-o a seu belo prazer, sem ouvir os técnicos mais conhecedoras dos problemas ou pelo menos naquilo que normalmente se chama "de contraditório", para poderem tomar as decisões mais acertadas.
Depois, não se percebe não termos decidido mandar avançar os projectos quando a CE subsidiava as obras a 75% (caso de Espanha) e agora talvez se venha a conseguir que a obra seja subsidiada a 25% se...
Um abraço
AAlves
Viva, caro Alves!
Ainda bem que me relembrou dessa, que me passou, quando inseri o post.
Como tenciono voltar ao assunto, logo que receba a documentação prometida, certamete que acabaria por referir esse aspecto da vergonha. No entanto, assim fica desde já dito.
Abraço grande
Ruben
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