Lamento muito ter de escrever isto. E lamento-o por dois motivos essenciais:
1. Pelo respeito que me merece o cargo de Presidente da República Portuguesa, independentemente de quem conjunturalmente o ocupa;
2. Qualquer cidadão me merece respeito e consideração, que não recuso.
Portugal, todavia, merece-me ainda mais respeito e consideração e encho-me de temor pela sua integridade e dignidade do conjunto dos seus cidadãos. Da geração actual. E das vindouras.
Quanto maior e mais elevado o cargo, maior também a responsabilidade de quem o ocupa e mais inconcebível a ilicitude de a alijar.
Aqui chegados, cumpre perguntar:
Será que um qualquer pé descalço, analfabeto, ignorante e boçal, conseguiria cumprir menos os deveres do cargo do que o actual titular de Belém?
Para resolução da gravíssima situação económica, financeira, social e política em que o País está mergulhado, de concreto que fez Aníbal Cavaco Silva, que qualquer sem abrigo e sem preparação não tivesse sido capaz de fazer?
Será que o Presidente se considera desonerado dos deveres do cargo por ter de salvaguardar a reeleição para um 3º mandato e, portanto, há que não fazer ondas, como já antes, em devido tempo, não fez? Se assim é, que haja alguém que o elucide de que tal esforço não valerá a pena. É mesmo um desperdício de tempo e de feitio, mesmo para alguém com o seu feitio.
Em Belém – nesta precisa hora – necessitamos de ter alguém sem estados de alma nem calculismos, alguém que, com experiência, coragem e determinação, pondo os interesses do País à frente de tudo o mais, actue em conformidade com as exigências da Pátria e o faça a tempo, a horas. Na medida certa.
Repito: lamento ter de escrever isto. Mas não o fazer, seria violentar a minha consciência de cidadão português amargurado por ver o País – ancião de quase nove séculos, outrora respeitado no concerto universal – trilhar caminhos bem escusos e ser motivo de galhofa do mundo em redor, sem que alguém se levante e, imponente e inamovível no propósito, se apresente a indicar-lhe a direcção correcta e justa, a direcção necessária.
E a primeira dessas pessoas tem de ser – não pode escusar-se a ser – o Presidente da República. Para isso o é. Para agir. A tempo, a horas, a propósito. Na medida justa.
O País precisa de acções. Está saturado de palavreado oco e gongórico, que o vento leva e, mesmo que não levasse, nada criaria porque mais infértil do que solo improdutivo de deserto calcinado.
Como é que ainda suportamos tal despautério?
Que mais será preciso para que a revolta nos tome? Não a que conduz à violência sem sentido e causadora de ainda maiores males, mas a revolta tranquila, de gente que sabe ter a razão do seu lado e não está disposta a continuar a dar respaldo a quem a ele não faz jus e deixa que seja submetida a sucessivos ultrajes e ignomínia.
A revolta tranquila dos cidadãos. Tranquila, mas exigente; tranquila, mas sem conceder tréguas; tranquila, mas, de uma vez por todas, definitiva!
Ruben Valle Santos
5 Abril 2011
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