Os portugueses têm de salvar-se de si próprios, para salvarem Portugal

sexta-feira, 31 de julho de 2009

2457. O que éramos e o que somos

Já alguma vez se deu ao trabalho de pensar no que éramos em 1979 e no que estamos transformados em 2009?

Não?

Pois bem, a seguir ficam enumeradas várias situações-tipo e as respectivas reacções em cada um daqueles anos.

* * *

O fim das férias

Ano 1979:
Depois de passar 15 dias com a família atrelada numa caravana puxada por um Fiat 600 pela costa de Portugal, terminam as férias. No dia seguinte vai-se trabalhar.
Ano 2009:
Depois de voltar de Cancún de uma viagem com tudo pago, terminam as férias. As pessoas sofrem de distúrbios de sono, depressão, seborreia e caganeira.

Chega o dia de mudança de horário de Verão para Inverno


Ano 1979:
Não se passa nada.
Ano 2009:
As pessoas sofrem de distúrbios de sono, depressão e caganeira.

O Pedro está a planear ir aos pássaros depois das aulas. Assim que entra no colégio mostra ao João a navalha com que tenciona fazer uma fisga


Ano 1979:

O director da escola vê, pergunta-lhe onde se vendem, mostra-lhe a sua, que é mais antiga, mas que também é boa.
Ano 2009:
A escola é encerrada, chamam a Polícia Judiciária e levam o Pedro para um reformatório. A SIC e a TVI apresentam os telejornais à porta da escola.

O Carlos e o Quim trocam uns sopapos no fim das aulas


Ano 1979:

Os companheiros animam a luta, o Carlos ganha. Dão as mãos e acabam por ir juntos jogar matrecos.
Ano 2009:
A escola é encerrada. A SIC proclama o mês anti-violência escolar, o Jornal de Notícias faz uma capa inteira dedicada ao tema e a TVI insiste em colocar a Moura Guedes à porta da escola, sob forte chuvada, a apresentar o telejornal.

O Jaime não pára quieto nas aulas, constantemente a interromper e a incomodar os colegas


Ano 1979:

O professor manda o Jaime ir falar com o Director e este dá-lhe uma bronca de todo o tamanho. O Jaime volta à aula, senta-se em silêncio e não interrompe mais.
Ano 2009:
Administram ao Jaime umas valentes doses de Ritalin. O Jaime parece um zombie. A escola recebe um apoio financeiro por ter um aluno incapacitado.

A jogar à bola, o Luís parte o vidro dum carro, lá no bairro dele.

Ano 1979:

O pai desafivela o cinto e dá-lhe umas nalgadas. O Luís passa a ter mais cuidado. Cresce normalmente, vai à universidade e converte-se num homem de negócios bem sucedido.
Ano 2009:
Prendem o pai do Luís por maus-tratos a menores. Sem a figura paterna, o Luís junta-se a um gang de rua. Os psicólogos convencem a irmã de que o pai abusava dela e metem-no na cadeia para sempre. A mãe do Luís começa a namorar com o psicólogo. O programa da Fátima Lopes mantém durante meses o caso em estudo, bem como o "Você na TV" do Manuel Luís Goucha.

Enquanto pratica atletismo, o Zéquinha cai e arranha um joelho. A professora Maria encontra-o sentado na berma da pista a chorar. Abraça-o para o consolar
Ano 1979:
Passado pouco tempo, o Zéquinha sente-se melhor e continua a correr.
Ano 2009:
A Maria é acusada de perversão de menores e é despedida. Confronta-se com 3 anos de prisão. O Zequinha passa 5 anos de terapia em terapia. Os pais processam a escola por negligência e a Maria por trauma emocional, ganhando ambos os processos. Maria, no desemprego e cheia de dívidas, suicida-se atirando-se de um prédio. Ao aterrar, cai em cima de um carro, mas antes, a meio do trajecto, ainda parte uma varanda, com o peso do corpo a cair. O dono do carro e do apartamento processam os familiares da Maria por destruição de propriedade. Ganham. A SIC e a TVI produzem uma telenovela baseada no caso.

Um menino branco e um menino preto andam à batatada por um ter chamado "chocolate" ao outro

Ano 1979:
Depois de uns socos esquivos, levantam-se e cada qual vai para sua casa. No dia seguinte estão na maior brincadeira.
Ano 2009:
A TVI envia os seus melhores correspondentes. A SIC prepara uma grande reportagem dessas com investigadores que passam dias no colégio a averiguar factos. Emitem-se documentários sobre jovens problemáticos e ódio racial. O governo oferece um apartamento à família do miúdo preto.

Um puto faz uma asneira na sala de aula


Ano 1979:
O professor espeta-lhe duas caroladas bem merecidas. Ao chegar a casa o pai dá-lhe mais duas porque "alguma deves ter feito..."
Ano 2009:
O professor pede-lhe desculpa. O pai pede-lhe desculpa e corre a comprar-lhe uma Playstation3.

* * *

Para terminar, permita-me que lhe apresente sentidas condolências.

Cortesia de Luísa Castanheira
...

quinta-feira, 30 de julho de 2009

2456. O desrespeito de Sócrates...

Para além da falta de respeito que desde sempre Sócrates tem revelado pelos portugueses, a recente medida eleitoral que anunciou de criação de uma conta bancária em nome de cada criança a nascer, no valor de 200,00€, que ficará intocada até que o "beneficiário" atinja os 18 anos, é afronta sem nome à inteligência dos eleitores.

Repare-se apenas nisto:

Mesmo que a conta vencesse juros à razão de 10% ao ano, coisa que, como todos sabemos, não acontece nem de perto nem de longe - e mesmo que acontecesse seria muito mau sinal, uma vez que indiciaria que a inflação entraria de novo nos valores assassinos da primeira metade dos anos 80 do século passado, de má memória, já que ela, a inflação, iria roer toda e qualquer possível economia pessoal, criando milhares de pobres acrescidos aos já existentes - ao fim dos tais 18 anos, os iniciais 200,00€ valeriam cerca de 1.100€. Ora, o que é que se comprará a com 1.100€ daqui a 18 anos?

Vejamos:

Actualmente, um telemóvel médio custa cerca de 100€. Logo, com os 200€ da "oferta" socratina, compram-se dois telemóveis.

Mutatis, mutandi, daqui a 18 anos dois telemóveis custarão cerca de 1.100€. Daqui se infere que Sócrates está a oferecer dois telemóveis a cada bebé que nascer.

FENOMENAL !!!

Mas ainda não acabou a generosidade!

É que o "sortudo" só poderá levantar esses dois telemóveis médios... quando fizer 18 anos...

Se entretanto não morrer ou não emigrar de desgosto por viver num país com tal gente, entrará no reino dos "sortudos", com pais tansos...


Mas, tenha calma que ainda não acabou a saga do benemérito Sócrates.

Vimos já que, afinal, o "sortudo" - que ainda é nascituro - não virá a ter sorte nenhuma, pois os pais estão a ser fortemente embarretados pelo primeiro-ministro.


No entanto, isto é como que um negócio a longo prazo.

Portanto, se o "sortudo" nada ganha, a não ser o engano em que os pais podem cair, quem ganhará com a negociata?


Pois bem:

1º ganhador - o próprio Sócrates, se os eleitores forem tão pouco inteligentes como ele pensa que são e o mostra, e nele votarem;


2º ganhador - a banca, já que o dinheiro estará em seu poder durante 18 anos, dele se servindo para os seus próprios negócios, que irão render muito mais do que os impossíveis 10% ao ano das contas que fiz acima.
Diga-me cá:

O dito cujo está ou não a gozar com o pagode?

Por estas e por outras em que se revela o desprezo que o homem tem pela inteligência dos eleitores, afirmo que Sócrates goza de forma indecente com a boa fé dos portugueses.

Por estas e por outras afirmo que é bom que os portugueses pensem maduramente se estão realmente tão faltados de inteligência como Sócrates acha que estão que não vêem isto que se mete pelos olhos dentro e estarão, mesmo assim, dispostos a continuar a dar-lhe o voto, para que a falta de vergonha continue à custa de todos.


Está percebida a bela marosca socratina?

Corra a votar no homem, que ele bem merece...

E se você nele votar, merece também. Sem qualquer dúvida...

2455. Insólito...

... é dar comigo frequentemente a interrogar-me sobre se muitas absolvições por falta de provas, a que tanto se assiste por esse mundo fora, não ficam a dever-se a justo receio de que os absolvidos, se condenados, abram a bocarra de tal modo que os estragos produzidos sejam arrasadores.

Não estão em causa os julgamentos. Evidentemente que, sem provas, não há juiz no pleno uso das suas faculdades que se meta a condenar seja lá quem for.

Este não é uma república das bananas, pois não? Ou é?
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segunda-feira, 27 de julho de 2009

2454. Quem está a mentir?

Louçã afirmou (1-vez-1) que Sócrates tentou aliciar Joana Amaral Dias, do BE, para as listas do PS e que, nessa tentativa, nem resistiu a traficar influências, oferecendo lugares apetecíveis, à disposição dos detentores do Poder.

Sócrates (por si mesmo e por mais três portas travessas, portanto em 4-desmentidos-4) afirma que é mentira, que não fez nada disso.

Como é evidente, não sei quem fala verdade e quem mente com todo o descaro. No entanto, tendo em atenção

* que um apenas disse o que disse uma só vez e nem teve a preocupação do outro em repetir, à saciedade, a sua versão

* que a quem mais interessa que se pense que a "verdade" do outro é mentira não é a Louçã

* o passado de ambos na preservação das realidades

confesso que me inclino para confiar a Louçã o meu parecer de que é ele quem, uma vez mais, não falta à verdade.

Mas o derradeira circunstância que me leva a tal inclinação é a de que Miguel Vale de Almeida, convidado por Sócrates, está nas listas do PS.

Ora, Miguel Vale de Almeida estava em situação muito semelhante à de Joana Amaral Dias, ou seja, ambos eram do Bloco de Esquerda e estavam um tanto de as candeias às avessas com Louçã, o que era razão para convir muito a Sócrates "sacá-los" da influência do BE e apresentá-los como troféus da guerra em que está metido com Louçã.

Segundo Louçã, Joana Amaral Dias foi convidada por Sócrates, tal como Miguel Vale de Almeida; segundo Sócrates, é mentira que Joana tenha sido por si convidada. Façamos contas: 2+2=4, portanto, rebéubéubéu, pardais ao ninho!...

Não sei quem está, uma vez mais, a faltar a verdade, mas lá que me inclino para que não seja Louçã, lá isso...

E por que é que assim penso? Porque, como diziam os antigos romanos - sábios nessas coisas -, a melhor forma de chegar à verdade em determinadas circunstâncias em que era necessário saber quem teria sido o autor do "delito", consistia em começar por perguntar: cui prodest? ou seja, a quem aproveita? E, já agora, a quem aproveita o quê? - perguntará você que me lê: o delito, o delitozinho, está bem de ver.

Topa?
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domingo, 26 de julho de 2009

2453. "O estado da governação"

Sob o título "O Estado da Governação - uma avaliação da acção governativa durante a legislatura de 2005-2009", o Compromisso Portugal procedeu a uma análise profunda e muito fundamentada da actuação do governo Sócrates ao longo dos 51 meses decorridos entre a posse e Junho passado.

Sem estultas e enganosas propagandas, sem subterfúgios, sem dolo, aí está a análise que era preciso que fosse feita, para sabermos com o que nos defrontamos e qual os verdadeirtos méritos e deméritos do actual governo.

Não se trata apenas de mero laudo discursivo. É, isso sim, um documento de altíssimo valor, em que a acção do governo é passada a pente fino, ponto por ponto, área por área. O resultado, a despeito de toda a a descarada propaganda socrática, é desastroso.

Atente particularmente no anexo final dp documento, no qual estão plasmados os sucessos e insucessos de todo o desemnpenho goivernativo, com a enumeração dos objectivos proclamados e o grau em que fora, ou não, alcvançados.

Trata-se de um documento impressionante. E histórico.

Deixo aqui a transcrição das conclusões e o link para o próprio documento que, como disse, é de leitura obrigatória para quem pretenda manter-se a par das realidades a que o PS socrático conduziu o País, certamente com muito indesejáveis reflexos no futuro próximo. Chamo uma vez mais a atenção para o anexo, que é de uma clareza indesmentível e, portanto, de inviável contraditório, porque a realidade é insusceptível de ser contraditada.

* * *

VI Conclusão


1) Qual a pegada histórica do XVII Governo Constitucional?


O Governo mostrou intenção de efectuar mudanças, iniciou alguns processos de reforma relevantes, mas ficou bastante aquém dos seus objectivos em áreas fundamentais.


O Governo falhou em áreas como:

1) o relançamento sustentado e estrutural da economia e sua competitividade (independentemente da crise internacional);

2) a reforma e modernização da administração pública;

3) a reforma da justiça;

4) e a melhoria da qualidade ambiental, sustentabilidade e coesão territorial.

Também demonstrou dificuldade em criar um enquadramento favorável à actividade empresarial e o seu intervencionismo terá agravado ainda mais a promiscuidade entre política e negócios.

O Governo foi bem-sucedido na contenção dos custos da Segurança Social (embora através de uma reforma paramétrica e punitiva para os pensionistas) e na resposta à crise financeira internacional (se bem que com um reconhecimento tardio).


O Governo merece ainda uma nota positiva em áreas como:

1) o esforço de consolidação orçamental (só marginalmente positivo porque este esforço, independentemente da crise, foi atenuado nos últimos anos e deu-se fundamentalmente pelo aumento da carga fiscal e redução do investimento público, para além de que a despesa pública estrutural corrente primária aumentou mesmo entre 2005 e 2008);

2) o esforço de modernização e inovação (se bem que o Plano Tecnológico tenha perdido consistência, tornando-se em parte uma chancela para qualquer programa correlacionado e muitas vezes com efeitos duvidosos);

3) o modo como terminou com alguns tabus na área da educação (por exemplo, o da avaliação e progressões automáticas) e como alterou o sistema de gestão das escolas (no entanto, a “guerra da avaliação” foi mal conduzida e a alteração da gestão pouco profunda, continuando por esclarecer quem tem a “ownership” da gestão das escolas e sofrendo ainda estas de pouca autonomia);

5) o programa Novas Oportunidades (a ideia é de louvar, mas a forma da sua concretização deixou bastantes dúvidas);

6) algumas medidas sociais, se bem que ainda não estejam enquadradas num novo modelo social;

7) a aposta nas energias renováveis, embora a relação custos/benefício ainda não seja clara.

Em resumo, ao fim de quatro anos e meio, o XVII Governo Constitucional, apesar do seu ímpeto reformista inicial, não terá feito muito melhor do que os antecedentes para contribuir para a resolução dos nossos problemas estruturais e preparar o País para os desafios futuros que permitam sustentar um caminho de desenvolvimento com maior coesão social. Infelizmente, é improvável que este Governo tenha deixado na história do País uma marca à altura da situação preocupante em que vivemos.

Dificilmente se poderá dizer que o País está agora em melhores condições de vencer os desafios futuros do que estava no início de 2005.


Basta constatar o continuado atraso nas reformas estruturais e a situação muito grave de indicadores como o PIB Potencial (reflectindo a nossa falta de competitividade e produtividade), as responsabilidades líquidas face ao exterior que representam já cerca de 100% da nossa economia e traduzem o nosso elevadíssimo endividamento externo, o peso elevado da despesa pública e da dívida pública, directa e indirecta, face ao PIB, o nível relativo de qualificação dos nossos cidadãos, para verificarmos como estamos condicionados em muitas das opções que poderemos tomar e os extraordinários desafios com que nos confrontamos.

Recentemente, a OCDE previu para Portugal, no período 2011-2017, a mais baixa taxa de crescimento médio anual do PIB, quer no quadro da Zona Euro, quer no conjunto da OCDE (1,5% para Portugal versus 2,3% para a Zona Euro e 2,7% para o conjunto da OCDE).


2) As grandes opções.


Portugal enfrenta desafios muito sérios, dos mais sérios que alguma vez teve de enfrentar nas últimas décadas. Por isso, é muito preocupante que, como no caso do XVII Governo Constitucional, continue a faltar, ao nível dos principais responsáveis e decisores políticos, um projecto integrado de transformação efectiva do País e uma firme determinação de assumir as reformas estruturais que nos permitam ultrapassar as principais carências e criar condições para uma maior realização e felicidade de todos os cidadãos.


As opções parecem ser claras:

a) ou recuamos para o estatismo do PREC de 1975, como parece desejar a ala esquerda do PS e os partidos à esquerda deste, nacionalizando empresas e actividades e agravando o peso e a intervenção do Estado - com todas as consequências negativas que daí advirão, nomeadamente um grande declínio económico (e a decorrente impossibilidade de manter uma protecção social significativa), mas também a restrição das liberdades e capacidade de iniciativa dos cidadãos;

b) ou mantemos a atitude tendencialmente imobilista adoptada pelos últimos governos do País, fazendo alguns ajustamentos pontuais, mas sem alterar nada de muito estrutural e condenando-nos assim à subida gradual do peso do Estado, à promiscuidade entre a política e os negócios, e a um empobrecimento progressivo face aos países mais desenvolvidos, como tem acontecido nos últimos anos;

c) ou avançamos para um projecto de transformação da nossa sociedade, através de verdadeiras reformas estruturais, com dois objectivos ligados entre si: por um lado, qualificar e habilitar os cidadãos para assumirem responsabilidades e explorarem oportunidades de realização pessoal e profissional; por outro lado, criar um modelo económico-social que seja eficaz na protecção social e generoso na qualidade e abrangência dos serviços públicos, e que assente numa economia com capacidade para criar riqueza e emprego qualificado.


É esta terceira opção que o Compromisso Portugal, ao longo da sua existência, tem defendido. Uma opção que, como tentámos evidenciar em muitos trabalhos,7 permitiria a Portugal atingir:

a) um Estado mais sustentável, mais forte, mais independente e mais focado nos seus atributos essenciais, abstendo-se, fora casos excepcionais, de intervir directamente nas actividades empresariais;

b) uma sociedade de igualdade de oportunidades para todos, com uma rede de protecção social clara e eficaz, com serviços públicos abrangentes e de qualidade (dos quais o Estado seria garante, mas não necessariamente prestador);

c) um quadro institucional e social propício à iniciativa dos cidadãos e das suas organizações, com a regulação e a supervisão necessárias para assegurar a concorrência e prevenir o abuso de posições dominantes.


Acreditamos que este seria o projecto político capaz de criar mais riqueza, de sustentar um modelo social de qualidade e abrangente, e assim alcançar mais coesão social.
Toda a mudança envolve um risco. Mas na actual situação do País, os maiores riscos estão associados à regressão estatizante ou à manutenção do actual trajecto de declínio relativo.
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sábado, 25 de julho de 2009

2452. A "boca" da semana

... e dizia há bocado, numa das estações televisivas do país, um representante de um organismo ligado ao turismo, referindo-se à circunstância de cerca de 25% dos portugueses terem já cancelado as férias anteriormente programadas para o estrangeiro, com receio da gripe A, o que está a causar prejuízos consideráveis ao sector:

- Se não vem depressa uma vacina para os jornalistas, isto vai ser um descalabro...
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2451. Um voto = 30.000 €

José Saramago, Nobel da Literatura, anunciou esta sexta-feira o apoio à recandidatura do presidente da Câmara Municipal de Lisboa, António Costa (PS), nas eleições autárquicas com data marcada para 11 de Outubro.

«Espero que seja presidente por muitos anos mais. Espero que isso aconteça. Oxalá! Mas é preciso fazer com que isso aconteça. As coisas não acontecem por si mesmas. É preciso fazê-las acontecer», revelou José Saramago citado pela agência Lusa.

O escritor elogiou ainda o «magnífico trabalho» de António Costa à frente da autarquia.

José Saramago fez as declarações na Câmara de Lisboa durante a assinatura de um protocolo para a produção de um filme sobre a relação entre José Saramago e Pilar del Rio, que tem como título provisório de «União Ibérica». A Câmara de Lisboa vai apoiar com 30 000 euros a produção do documentário sobre a relação entre o Nobel da Literatura José Saramago e a mulher, Pilar del Rio.

Na cerimónia de assinatura do protocolo, Saramago agradeceu ao presidente da autarquia, António Costa, a sua «boa vontade» relativamente ao filme.

Cortesia recebida de J.F.Faria, oir email


* * *

Sabe o que significa tudo o que acaba de ler?

Apenas isto:

o "voto" de Saramago - que nem vota em Lisboa - em António Costa vai custar à Câmara Municipal de Lisboa uns módicos 30.000 €, por um filme cujo conteúdo não interessa a nenhum lisboeta nem sequer a meia dúzia de portugueses.

Assim são geridos os dinheiros da edilidade lisboeta. Assim, como dizem os cartazes de Costa, "Cumprimos. Casa arrumada" (?!?!?!). Quem é que quer mais do mesmo?

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2450. O "coligatório"

À atenção dos lisboetas, principalmente dos que se preparam para depositarem os seus votos em favor de Costa/Roseta ou vice-versa.


Nem a própria Helena Roseta deve ter-se apercebido bem do quanto acertou quando, à sua recente "amigação" com António Costa, para concorrerem à Câmara Municipal de Lisboa, fez questão de não chamar de coligação, mas sim de espécie de "coligatório".

Ou seja, preferiu chamar-lhe uma coisa que não existe.

Ora, nada mais adequado como nome para algo que não existe do que um termo que ele próprio também não existe.

Se existissem - o termo e a conjunção de esforços - seriam algo pouco produtivo, para não dizer mesmo meramente destrutivo. Porquê? Porque tem como única finalidade tentar destruir a possibilidade de Pedro Santana Lopes vencer o prélio por Lisboa. O que é efectivamente muito pouco e realmente destrutivo. Por outro lado, é o "coligatório" do medo do desemprego. Será que Lisboa não merece mais do que objectivo tão pífio, tão pessoal, tão interesseiro?

No entanto, por mais que procuremos, na realidade nada mais contempla, como a seguir se explicita.


Confrontados com a terrível - para eles, evidentemente - possibilidade de Santana Lopes vencer as eleições autárquicas em Lisboa, reeditando assim magnífico êxito anterior, aqueles "novíssimos e mútuos amigos", postos perante a dura realidade de ficarem completamente "desempregados", engoliram os sapos que a cada um couberam e tentam agora dar a entender que uniram o que jamais unido esteve, o que jamais unido poderá estar.

É sabido que o programa que Helena defende para Lisboa está muito mais próximo do que defende Pedro Santana Lopes do que o que Costa segue. Entre os projectos de Roseta e de Costa vão léguas e léguas de interposição. Tantas que mais propriamente deles se poderá dizer que são diametralmente opostos.

Ora, assim sendo, como compatibilizar um e outro, de forma a que o "coligatório" - que é apenas negativo como só não percebe quem, além de "ceguinho", seja destituído de outras faculdades também - se torne positivo para a cidade de Lisboa?

É evidente que não há a mínima possibilidade de aquilo resultar. E não resultará, não apenas pela circunstância de as linhas mestras de ambos os programas serem diametralmente opostas, não. Não resultará também pela incompatibilidade de idiossincrasias entre os cabeças de lista.

São ambos bem conhecidos. E de tal forma que toda a gente está cansada de saber que nem Roseta é mulher para aguentar a mínima contrariedade sem partir a louça toda e cortar cerce relações, "abandonando o lar", como já tantas e tantas vezes fez ao longo destes trinta e tal anos, em que se amancebou e desamancebou com este e com aquele, ao sabor dos mais variados apetites de ocasião, como se sabe igualmente que Costa não é homem que se vergue a qualquer ditame, por mais enfeitado que se apresente. Como é que uma "mancebia" destas pode não terminar em muitos gritos, choros, ódios, ruidoso espalhafato e cenas canalhas, com o custo das favas a ser apresentado aos lisboetas?

À mínima contrariedade - e elas vão começar a aparecer na semana seguinte às eleições, Helena Roseta irá bater estrondosamente com a porta, abandonando Costa à sua sorte. É fatal como o Destino. É o que ela sempre fez; é o que sempre fará. Está-lhe na massa do sangue. É superior à vontade da própria utente. Quanto maior for a instabilidade, mais Helena Roseta se sentirá no seu elemento, viva, enfim.

Estão, pois, lançados todos os dados para um previsível e violento confronto, com declarações sobre declarações de incompatibilidade de feitios e práticas e inevitável completa impossibilidade de coabitação, a ser marcado para de seis meses a um ano após eleitos, no caso de vencedores da disputa eleitoral.

* * *

É acerca desta certeza que os lisboetas devem ponderar até ao momento em que depositem o voto, lá para Outubro.

É que, para além da incompatibilidade de programas, a incompatibilidade de feitios é um mare nostrum de intransponível afastamento. E não é verdade que, neste caso, os contrários se atraiam. Repelem-se. Violentamente. Di-lo a política, pela impossibilidade de fusão de projectos, tal como o diz - e decerto ainda mais assertivamente, tendo em atenção as já faladas idiossincrasias - a impossibilidade de cada um deles em pessoalmente abdicar de algo de seu para encontrar o parceiro a meio caminho. E, sobretudo, di-lo a história de ambos, com especial relevo para a de Helena Roseta, que, no panorama político português não tem quem lhe faça frente em instabilidade psíquico-política.

Os lisboetas estão, pois, obrigados a reflectir bem antes de se sentirem tentados a entregarem-lhes os votos.

Se, mesmo depois de avisados, persistirem na insanidade, faltar-lhes-á qualquer resquício de legitimidade para lamentações futuras.


Os eleitores, todos os eleitores, têm que aprender a assumir-se como cidadãos conscientes e lúcidos que efectivamente devem ser, abandonando a muleta do alijamento do peso de responsabilidades próprias para ombros alheios. Atitude do maior civismo, aliás.
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sexta-feira, 24 de julho de 2009

2449. Sindicato dos Magistrados do MºPº

Por se me afigurar de extrema relavância para a compreensão do que nos bastidores da Justiça se passa, particularmente no que concerne à investigação criminal de certos casos, de que a opinião pública não chega a tomar o conhecimento, deixo abaixo a transcrição de alguns parágrafos bem elucidativos, coinstantes do Editorial de 20 de Julho corrente, publicado no site do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público, a que cheguei através de um link do blog "Do Portugal Profundo", de António Balbino Caldeira

Se ler com a necessária atenção, certamente que se apresentarão ante si desvendados em parte alguns dos mistérios para os quais até agora não encontrara explicação plausível.

* * *

Um ano em balanço - perigosamente à beira do abismo

Quase em férias, impõe-se um balanço sobre o último ano na vida judiciária em geral e do Ministério Público em particular.

Infelizmente, esse balanço não pode ser positivo.

Apesar do esforço e dedicação dos magistrados, prestados em ambiente hostil, o aumento da qualidade e celeridade da Justiça não foi o desejável. Foi um ano difícil para todos aqueles que defendem um Ministério Público autónomo, ao serviço da Justiça, dos Cidadãos e de Portugal.

Alguns aspectos merecem destaque.

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Ataque à autonomia dos magistrados do Ministério Público: o caminho para a transformação do Ministério Público num serviço do Procurador-Geral da República

Aquando da “reforma do mapa judiciário”, foram feitas alterações ao Estatuto do Ministério Público (EMP), algumas delas claramente violadoras da autonomia do Ministério Público consagrada na Constituição da República. Aprovadas apenas pelo PS, o seu autor moral – disse-o um membro do Governo em directo na RTPN, disseram-no em audiência aos dirigentes do SMMP membros do Grupo Parlamentar do Partido Socialista (PS) – foi o Procurador-Geral da República.

Felizmente, na sequência de petição assinada por 1200 magistrados do Ministério Público, todos os partidos no Parlamento – com excepção do PS – pediram já ao Tribunal Constitucional a fiscalização dessas normas.

Num momento em que se impunha alterar o EMP para resolver os problemas e bloqueios existentes, modernizando e reorganizando o Ministério Público, as alterações feitas, para além de inconstitucionais, só os agravaram. O Ministério Público continuará incapaz de fornecer resposta adequada às exigências que a moderna sociedade lhe faz. As carreiras continuarão bloqueadas e os magistrados sem perspectivas de as revitalizar.

Os que hoje subitamente defendem (?) a especialização são os mesmos que no ano passado impediram a aprovação das propostas do SMMP que a consagravam e incentivavam.

Foram essas alterações que criaram no Ministério Público um verdadeiro sistema “feudal”, com condes, duques e marquesas, cada um dono da sua “quintinha”, onde não entram os mais bem preparados, mas apenas quem é convidado; onde não vigora o princípio constitucional do concurso, assente no mérito e na formação, mas sim a confiança pessoal, o “amiguismo”.

(...)

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Governamentalização da investigação e informação criminal

No último ano, assistimos a uma perigosíssima governamentalização da investigação e informação criminal. Através de vários diplomas – Lei de Segurança Interna, Lei de Organização da Investigação Criminal e a Lei do Sistema Integrado de Informação Criminal –, o Governo e o PS a atribuíram ao Secretário-geral do Sistema de Segurança Interna (SG-SSI) e ao Gabinete Coordenador de Segurançaque dependem directamente do Primeiro-Ministro funções de coordenação da investigação criminal e poderes de organização e gestão administrativa, logística e operacional dos serviços, sistemas, meios tecnológicos e outros recursos comuns dos órgãos de polícia criminal, incluindo o Sistema Integrado de Informação Criminal. O Governo chegou até a pretender colocar na dependência do SG-SSI a Interpol e Europol (e se isso tivesse sucedido, pense-se no que poderia acontecer num caso como o do “Freeport”), acabando por consegui-lo relativamente ao Gabinete SIRENE (e, quanto a este, note-se que a esmagadora maioria da informação que por ali passa é exclusivamente de interesse para a investigação criminal). Sendo o Ministério Público quem, nos termos da Constituição e da lei, dirige a acção penal e a investigação, a ele deveria caber a gestão do Sistema Integrado de Informação Criminal. Nunca a um órgão do Governo.

(...)

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2448. Alegre e o saldo

"[Saio] Fiel à democracia, ao socialismo e ao povo".
Poeta Alegre, no último dia na Assembleia
citado pelo Público


* * *

Mas, depois de milhentos rapapés e ratatés e olés e "larga-me que vou a ele", mas... "afinal não vou..." e "sei muito bem o que quero", mas... "talvez não saiba..." e "quero comer o bolo mas também o quero inteiro..." sais também de espinha direita e voz cavernosa para impressionar o assombrável pagode, não é verdade?

E, já que te vais, façamos as contas:

Que saldo deixas, após os 34 anos como deputado?
Ubi est?
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2447. Ai os "insiders"! - segundo José Miguel Júdice

A falta de clarificação de regras e condicionalismos
mata a transparência e, com isso, favorece os insiders.

José Miguel Júdice
citado pelo Público

* * *

E quem é que ganha com "a falta de clarificação de regras e condicionalismos", ó José Miguel, quem é? Já agora: conheces algum insiderzito, conheces? Aponta lá só um, hein? Para a gente ficar saber...
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quinta-feira, 23 de julho de 2009

2446. Outro primeiro-ministro que eu preferia...

... seria aquele que não permitisse que alguém do seu governo realizasse negócios vergonhosos como o dos contentores de Alcântara.

Esse, sim, era um primeiro-ministro que eu preferia.
...

2445. Um primeiro-ministro que eu preferia




Ainda está para nascer um primeiro-ministro que tenha feito melhor no défice

Sócrates, o presunçoso





* * *


Ainda que isso fosse verdade - e todos bem sabemos que não é, mas podemos fingir que não sabemos - entre vários tipos de primeiros-ministros eu preferia um que
:

- Confrontado com alegações públicas de práticas muito pouco condizentes com a condição de cidadão exemplar, menos ainda, claro, de governante, viesse à praça pública esclarecer tudo de tal forma que não mais restassem quaisquer dúvidas quanto ao seu comportamento passado e presente, para que ficasse toda a gente descansada quanto a práticas futuras.

Mas, mais ainda, que:

- Confrontado com suspeições existentes em organismos portugueses e estrangeiros, neles se apresentasse requerendo ser ouvido para esclarecer tudo de uma vez, de forma a que não restassem quaisquer dúvidas quanto ao seu comportamento passado e presente, para que ficasse toda a gente descansada quanto a práticas futuras.

E, mais ainda que:

- Se necessário, requeresse mesmo a sua constituição como arguido, para que mais eficazmente pudesse defender-se.

Isso, sim, era o que eu preferia.

O défice ficaria para segundas núpcias, pois que, mais tarde ou mais cedo, haveria de ir ao lugar. O resto é que seria muito difícil de corrigir.
...

2444. Parece ter sido ontem...

... mas já lá vão

23 Jul 2004 - 23 Jul 2009
...

2443. CNN Breaking News

Thirty people, including two mayors,
arrested in federal probe of public corruption in New Jersey,
prosecutors say.


Trinta pessoas, incluindo dois presidentes de câmara, presas no decurso de investigação federal por corrupção em New Jersey,
informam os acusadores públicos.


* * *

Ah! Como é diferente o amor em Portugal!...
...

2442. As "festas da gripe"

Parece que a última moda em festas de desocupados, está nas "festas da gripe A".

Em que consistem?

Em parties a que comparecem uns quantos infectados com a gripe A e uma multidão de não infectados.


Qual o objectivo?

Que os infectados contagiem os não infectados.

Por que motivo?

Na tentativa de que todos se imunizem, enquanto o caso não atinge proporções realmente graves.

* * *

O mundo, meus senhores, está cheio de mentecaptos.

Os cretinos nem sequer parecem ver que, com tal prática de perfeitos idiotas, estão a fazer com que a maleita se espalhe a velocidade supersónica, podendo este comportamento cretino provocar que o vírus adquira mutações tais que, quando a vacina chegar, tenha que ser deitada para o lixo, por já não fazer qualquer efeito, tendo que se regressar ao ponto de partida, se ainda for possível.

Só se vê uma solução para tais idiotas. Apanhá-los nas tais festarolas e fechá-los todos lá dentro, a sete chaves e à sua sorte, até que a coisa passe de vez.
...

segunda-feira, 20 de julho de 2009

2441. O país de criminosos

"Neste sítio (muito mal frequentado, digo eu)
um ministro pode ir para a rua por um par de cornos infantis
ou por uma piada de mau gosto.
As roubalheiras, os negócios escuros, os compadrios,
a corrupção a céu aberto e o tráfico de influências,
não só são tolerados como premiados nas urnas".

António Ribeiro Ferreira, jornalista, "Correio da Manhã", 20-07-2009,
citado pelo Público


* * *

Esta é a triste realidade, nua e crua. Tudo o resto são meras fantochadas, para engrolar o zé pagode.

Há por aí tipos que já deviam estar acusados e condenados em vários processos crime e não só não o estão, como nem sequer o virão a estar, por força da protecção de associações secretas, ditas de bem fazer, mas verdadeiramente criminosas, de cumplicidades também elas criminosas e de cobardias igualmente criminosas.

A realidade mais dura ainda é que somos um país de criminosos. Os que actuam e os que pactuam.

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domingo, 19 de julho de 2009

2440. A maior das crises

Muito se escreve e baboseia acerca da grave crise mundial, de conjuntura, e, cá entre nós, dessa e ainda da endémica nossa, de estrutura.

No entanto, ninguém fala, baboseia, ou tenta tratar de uma terceira crise que nos afecta de forma particularmente grave e que, afinal, é a raiz de todos os males dos portugueses, porque é a crise mais profunda e prolongada que alguma vez nos perseguiu e que, uma vez aqui instalada, teima em não nos abandonar.

Sim, para lá da conjuntural crise mundial e da estrutural nossa, o que mais nos deprime e diminui, não permitindo que a nossa sociedade avance e se coloque ao lado das mais avançadas desse mundo, é a crise de valores, ou, melhor dito, a crise da ausência de valores por que nos batermos ou, pior ainda, se possível, a de nos batermos por valores completamente errados.

E essa provém, única e exclusivamente, da falta de instrução e mais, da completa ausência de cultura que por aí se vê.

Para a combater, é preciso privilegiar-se a educação, com meios e gente que saiba o que faz e para onde devemos ir, não com aprendizes de feiticeiro, eles próprios pouco instruídos e ainda menos cultos.

Mas o mal tem que se atacado já e com toda a determinação. Se não possível com portugueses, então com "instrutores" importados. Assim ou assado, o que não é possível de tolerar é que as coisas se mantenham como estão.

Nesta perspectiva, há que repudiar a simples hipótese de sermos governados por gente que se apresenta com habilitações que efectivamente não tem e bem assim com uma falta de cultura que todos os dias exibe urbi et orbe com a auto-satisfação do completo ignorante que, por nem sequer saber que não sabe, ufano pesporra e se arroga de direitos e saberes que não pode ter.
...

quinta-feira, 16 de julho de 2009

2439. Exposição "Portugal e o mundo"

Na tarde de ontem, logo após o almoço, resolvemos cá em casa, sair e dar um salto a Lisboa, expressamente para ver a Exposição "Portugal e o Mundo nos séculos XVI e XVII".

Se bem o pensámos, melhor o fizemos. Sim, porque nós somos mesmo assim. Basta que subitamente se nos meta na cabeça ir aqui ou ali ou mais além, quase tão subitamente lá estamos a caminho.

Por vezes, por motivos fúteis ou sem outra razão que a de nos apetecer. Desta vez, porém, o motivo era mesmo ponderoso. E nem sequer na altura, embora assim o julgando, desconfiávamos do quão ponderoso realmente era!

Fomos até ao Museu Nacional de Arte Antiga, onde a exposição decorre e, uma vez lá, extasiámos. Aliás, em cerca de 12 meses, é a a segunda vez que nos acontece. A outra foi, em 2008, a exposição itinerante do Hermitage, de S. Petersburg, que aconteceu poucos meses antes das nossas férias no Báltico, em Moscovo e na cidade do Neiva. E se então valeu bem a pena, até porque nos preparou para o tremendo choque que foi a entrada na casa-mãe, perante tanta beleza e História extraordinariamente bem preservadas, também desta vez não ficámos defraudados.

A exposição "Portugal e o mundo..." (Encompassing the globe), que integra no seu comissariado científico Jay A. Levensson (director do departamento internacional do Museum of Modern Art, MoMA, de Nova Iorque), Jean Michel Massing (Professor do Departamento de História de Arte da Faculdade de Arquitectura e Artes Decorativas da Universidade de Cambridge), Julian Raby (director da colecção nacional da América de arte asiática, sediado na Freer Gallery of Art do Instituto Smithsonian, de Wahsington), Nuno Vassallo e Silva (vice-director do Museu Calouste Gulbenkian) e outros nomes de vulto da museologia e das artes decorativas, e no comissariado executivo Teresa Pacheco Pereira e Paulo Henriques, o último conservador do MNAA e a primeira conservadora-assessora do mesmo museu, onde é responsável pelo Departamento de Téxteis, acaba, no fundo, por evidenciar o conceito de globalização, de aldeia global, nascido no século XVI, através da acção dos Navegadores Portugueses, contrariando, deste modo, uma certa ideia feita - contra a qual me tenho batido de há anos a esta parte - de que tal conceito é recente e de origem além-atlântica.

A exposição foi, pois, inicialmente concebida para ser mostrada nos USA, assim se dando, de forma diversa da que é habitual, a conhecer os feitos do povo que maior preponderância teve no desenvolvimento do conhecimento das mais longínquas regiões do globo e seus habitantes, tendo sido depois decidido que o seria também em outros pontos do mundo, a começar pelo nosso País, afinal o grande homenageado por ela.

Inicia-se com um mapa-múndi, segundo a visão ptolomaica, o qual é da autoria do florentino Arrigo de Federico Martello e datado de 1490, antes, portanto, da chegada de Colombo à América do Norte, da de Vasco da Gama à Índia e da de Cabral às terras de Vera Cruz.

Seguem-se-lhe outro planisfério, da autoria de Francesco Rosselli, igualmente de Florença,este datado de 1508, portanto incluindo já também aqueles territórios, e o denominado mapa completo do mundo, ao jeito do encompassing globe, desenhado por Francesco Cambina, em Nanquin, onde decorria a dinastia Ming, isto já em 1639.

O percurso da exposição dá depois a conhecer uma sucessão de objectos e documentos, tais como a célebre Custódia de Belém, cuja foto ilustra este post, de ouro e esmalte, feita em Lisboa em 1506, uma belíssima Cruz Processional, de prata, feita no Porto em 1547, ambas ladeando os Painéis de S. Vicente, de Nuno Gonçalves, de 1470, tapeçarias, estatuetas, cofres, peças várias de marfim e toda uma miríade de verdadeiros tesouros alusivos ou ligados à saga dos Descobrimentos, feitos nos mais diversos pontos do mundo.


A proveniência destas peças de altíssimo valor é, também ela, dos mais diversos detentores, espalhados pelo globo, em colecções oficiais e particulares, com especial relevo para as cidades de Lisboa, Porto, Coimbra, Évora, Veneza, Florença, Bruxelas, Viena de Áustria, Copenhaga, Londres e diversas cidades da Alemanha, bem como de S.Petersburg, do Hermitage, na Europa, S. Paulo, no Brasil, e Goa, na Índia.

É, na verdade, uma extraordinária exposição que não deve ser perdida, já que dificilmente será possível reunir de novo um tal acervo de História e Arte, tão ligadas ao nosso passado.

A mostra decorre de 15 de Julho a 11 de Outubro.


Até aqui, tudo bem, havendo apenas motivos para referências elogiosas, bem merecidas, aliás.

Porém - o maledetto porém, que nunca falha... - não é possível escamotear dois aspectos muito negativos verificados in loco e um terceiro na Net:

Lamentavelmente, a exposição não tem um simples catálogo, sequer, que oriente os visitantes acerca dos motivos e finalidade do evento e bem assim do que foi a gesta dos Descobrimentos e do conceito de aldeia global.

Porque, deve ser notado, a exposição não foi levada a efeito apenas para os conhecedores, que serão os que menos delas precisam. Foi-o certamente e em primeiro lugar, para o grande público. E este necessita, quando menos, de uma pequena bengala, sem o que corre o sério risco - que é certo - de ver e, afinal, de lá sair sem efectivamente ter visto seja o que for de valia. No decurso da visita que fizemos, ouvimos comentários completamente abstrusos de gente interessada mas sem saber realmente o que estava a ver. O que numa exposição destas se aprecia não é o mesmo que se aprecia numa montra de uma qualquer
fashion boutique.

Não parece que seja assim que se deva promover a cultura dos portugueses e o conhecimento da sua História.

Tem, sim, um roteiro, calhamaço de 360 e tal páginas, que adquiri, muito interessante realmente mas ao preço de 40€, valor que, cá fora, no comércio normal, teria considerado insuficiente para pagar tal preciosidade, mas que, ali, no principal Museu do País, constitui uma aberração, já porque se trata de um livro que deve ser considerado de estudo, já porque é inadmissível que um Estado que é capaz de subsidiar em milhares de milhões de euros bancos privados e outros, incompetentemente geridos ou geridos com dolo, não revele iguais preocupações com a transmissão de saber aos cidadãos, em acções que lhe ficariam muitíssimo mais baratas e com bem melhor aproveitamento, sem desperdícios criminosos.

Não parece que seja assim que se deva promover a cultura dos portugueses e o conhecimento da sua História.

O terceiro apontamento é relativo à divulgação da Exposição, no site do Museu. Simplesmente não existe. Não há a mínima referência e, neste aspecto, o site está mesmo desactualizado desde 7 de Junho passado, dia em que terminou a exposição temporária que precedeu a actual. Lamentável! A este propósito, enviei já esta manhã, um email ao MNAA fazendo o reparo. Aqui fica o texto:


Bom dia!

Venho felicitar-vos pelo extraordinário evento que constitui a realização da Exposição em epígrafe.

È pure…

Venho igualmente, agora sabendo-me embaraçado por ter que referi-lo, dizer-vos que considero inusitado, eufemismo de que me sirvo na tentativa de evitar ferir susceptibilidades, que o site do MNAA seja completamente omisso acerca dela – como se nada tivesse que ver com a sua realização – e esteja mesmo completamente desactualizado desde que encerrou a anterior, passados que são 40 dias, embora a sua actualização, neste pormenor – que efectivamente é um “pormaior” – não faça “perder” a qualquer informático de meia tigela mais do que 5 minutinhos, ou seja, tanto ou menos tempo do que o necessário para a toma de uma simples “bica”!

Repito: inusitado e só possível em Portugal.

Não resisto a acrescentar: lamentável!

O que revela de amadorismo e de outras qualidades - que não refiro expressamente pelos mesmos motivos que deixei assinalados acima - dificilmente aceitáveis é o que certamente VVExas estarão já a cogitar.

Apresento cumprimentos


Para terminar, uma nota agradável. Após a visita e porque eram já horas, decidimos lanchar no Museu e, embora já o tendo feito anteriormente, perdemo-nos um pouco e estávamos sem saber por onde seguir para lá chegar, pelo que perguntámos a uma senhora que acabava de acompanhar um estrangeiro à porta.

A forma como nos atendeu é, na verdade, digna de realce, pela delicadeza de trato e deferência com que se prontificou a elucidar e acompanhar duas pessoas que jamais vira. Levou-nos por corredores e galerias até que , tendo reconhecido o local, manifestámos já não precisarmos de mais indicações.

Este simples facto, afinal tão natural, não mereceria referência, não fora a circunstância de ser completamente inusitado em serviços públicos portugueses (temos encontrado atitudes destas por esse mundo fora, a última das quais em Setembro do ano passado, no Latvijas Nacionalais makslas muzejis, em Riga e, mais tarde, no Hermitage) e mais ainda por termos constatado que a senhora, que não conhecemos, não parecia tratar-se de alguém com a missão específica de relações públicas do museu. Pelo discurso e assuntos abordados e pelo modo como os funcionários do museu a encaravam com deferência, ficámos com a sensação de que se tratava de Teresa Pacheco Pereira, a conservadora-assessora do MNAA, embora não tivesse havido ocasião para apresentação formal.

De qualquer modo, fosse ou não fosse, o que verdadeiramente conta é o modo extremamente cortês e deferente, sem as arrogâncias e superioridades que por aí tanto se vêem, como tratou dois simples visitantes, vulgaríssimos de Lineu. De assinalar, na verdade, pelo que fica o registo.
...

2438. O que fazer no avião...

Imagine que vai numa viagem de avião. Imagine mais: que o vizinho do lado é um chato de morte.

Já imaginou?

Então, uma vez que está já desesperado, sabe o que deve fazer para se livrar do chato?

Não?! Então, tome nota:

1. Tire o laptop da mala;
2. Abra-o devagarinho, muito calmamente, suspirando mesmo;
3. Ligue-o;
4. Assegure-se de que o gajo está a ver tudo;
5. Ligue à Internet;
6. Feche os olhos. fique assim um instante, após o que abra os olhos e dirija o olhar para o céu, como se pedisse ajuda;
7. Respire profundamente e... abra o seguinte site:

8. Observa a expressão facial do gajolas.

Que tal, hein?

* * *

Esta táctica pode usá-la em qualquer momento, de qualquer dia, de qualquer mês, de qualquer ano.

No entanto, especialmente para as viagens das férias deste Verão, há uma solução mais rápida e igualmente eficaz.

Inesperadamente, sem que o chato se aperceba do que está a acontecer,

1. levante a cabeça
2. franza o sobrolho
3. abra a boca
........ e, subitamente,
4. dê um enorme

espirro!

Primeira parte por cortesia de Tira Nódoas
...



quarta-feira, 15 de julho de 2009

2437. Tertúlia Virtual - 15 Julho 2009


A minha pátria é a língua portuguesa

Fernando Pessoa



* * *


A frase de Pessoa, nascida de um incontível impulso, decorrência longínqua da leitura de um dos magnificentes textos de Vieira, o jesuíta que manipulava a língua mãe como ninguém mais após si, resume bem todo o sentimento que a bela língua portuguesa desperta em quem a conhece, a cultiva, tenta que não seja deturpada.


Porque deturpar não é acrescentar-lhe novos termos, novas cambiantes, novos significados e amplitudes, novas profundidades espacial e temporal, o que só a enriquece. Deturpá-la é pretender, consciente ou inconscientemente, amputá-la da sua riqueza, da sua tremenda expressividade, do seu inigualável humanismo.


Não será da Terra o império que sucederá ao dos Assírios, dos Persas, dos Gregos e dos Romanos, que esses o foram da matéria. Por isso, chegada a sua hora, todos tiveram fim. O Quinto Império será, como preconiza Vieira, o de Cristo e dos Cristãos e não da terra, mas sim do reino dos Céus e, também contrariamente aos outros, eterno.


Porém, haverá um Quinto Império terreno. Há-de ser o da Língua Portuguesa. O império a que comummente nos referimos e bem demonstrativo da capacidade de miscigenação, do cosmopolitismo dos portugueses e seus descendentes e derivados.


Quanto mais e maior consciência da enorme força da Língua Portuguesa houver mais rapidamente ela se afirmará em todo o mundo e se tornará a língua do Quinto Império, o definitivo em termos terrenos.


Porque só a Língua Portuguesa dispõe das características necessárias e suficientes para assumir tal papel de supremacia, com plena aceitação tanto por elites como por camadas mais populares.


Trata-se de uma língua complexa, sim, mas a que, talvez por isso mesmo, não faltam expressões para descrever em termos justos e precisos, qualquer situação de vida, qualquer sentimento, qualquer pensamento, qualquer imaterialidade.


Na verdade, não há língua que se lhe iguale. E essa sua tremenda vitalidade, deve-a, em primeiro lugar, à etimologia latina, a língua das línguas, a língua que, ainda que morta, perdura ad saecula saeculorum. Outras, como o espanhol, o francês, o italiano e o romeno têm também essa derivação, mas a faltou-lhes sempre a disponibilidade, a vontade, a humildade, o cosmopolitismo para se enriquecerem com novos termos e até construções frásicas recolhidas de outras proveniências, bebidas, sem complexos, de até meros dialectos.


São essas suas capacidades de absorção e de subsequente disseminação, aliadas às restantes características anteriormente apontadas, que dela fazem única no mundo, ainda que a não mais falada entre os povos. Por enquanto...


Não tem a capacidade de síntese da língua inglesa em uso americano ou australiano, mas tem, a título de compensação altamente mais favorável, a ductilidade que a torna tão generalizadamente aceitável e de uma riqueza absolutamente inigualável. Não haverá língua no mundo com tamanha diversidade de descrições atinentes a um facto, a uma situação, a uma qualidade, a um sentimento.


No entanto, a Língua Portuguesa só terá toda essa pujança, enquanto for uma forma de expressão livre, não sujeita a baias e regras estultas que apenas terão como resultado amputarem-na de toda a sua inconfundível vitalidade.


Pretender domesticá-la, uniformizá-la, torná-la como as restantes, incapaz de responder às necessidades, anseios e idiossincrasias dos povos que dela se servem para se exprimirem acerca dos mais variados assuntos, é, para além de criminoso, acto de completa estultícia. E mais ainda se a versão que à força se pretende fazer vingar é das que mais – se não mesmo a que mais – se afastam do seu devir etimológico.


O Português que se fala em Lisboa não é precisamente o mesmo que se fala no Brasil, nem o mesmo que se fala em Angola, em Moçambique, em Cabo Verde, na Guiné, em S. Tomé e Príncipe, em Timor, em Macau, no Sudoeste da Índia, no Sudeste Asiático, nas diversas comunidades de falantes da língua portuguesa das mais remotas partes do mundo. Não é, sequer, o mesmo português que se fala no Alentejo ou em Trás-os-Montes ou em Coimbra ou em Faro. Nem o Português do Rio de Janeiro o mesmo que se fala em Fortaleza ou em Porto Alegre ou na Baía ou em Campo Grande ou em Manaus. E, no entanto, nessa diversidade de "Português", se expressam, se explicam, se entendem e até se desentendem entre si inúmeros povos e comunidades disseminados por esta bola em perpétuo movimento em que vivemos.


Todos são a Língua Portuguesa na sua expressão mais universalista. A Língua Portuguesa na sua máxima ductilidade, com o objectivo de servir os povos. E é aí, principalmente aí, que ela é imbatível, não tendo concorrentes à altura. Assemelha-se-lhe um pouco o Espanhol, ou melhor, o Castelhano - já que o Espanhol é língua que não existe ou existiu - mas nem de perto nem de longe com as mesmas características e versatilidade.


E a que se devem essas suas características? Muitos serão os factores que as determinam, certamente, mas despicienda não será a circunstância de o povo que a disseminou pelos quatro cantos do globo ter sido capaz de se integrar tão profundamente com os outros povos que foi encontrando e a que foi aderindo sem complexos e sem peias, par inter pares, como nenhum outro povo "descobridor" o foi. E, por isso, o aforismo de que, tendo Deus criado brancos e pretos, amarelos e vermelhos, o português completou a obra miscigenando o mestiço que está a caminho de se tornar a etnia dominante, por recolher, em si, as características gerais dos povos do globo, em ordem a uma harmonia que se pretende universal.


Na verdade, Pessoa estava certo quando descobriu o belíssimo conceito de que a sua pátria - a nossa pátria - é a Língua Portuguesa.


Pode, a um primeiro e apressado relance, pensar-se que não é assim. Mas bastará um instante de reflexão para, de imediato, se concluir que efectivamente o é e nem de outro modo poderia ser.


Quem é que, vivendo no estrangeiro da Língua Portuguesa ou lá estando de passagem acidental, não teve ainda a percepção de tudo quanto fica dito e mais ainda das potencialidades congregadoras da sua língua materna? Bastará que se passe uma semana sem falar português, sentindo-se efectivamente no estrangeiro, para que, subitamente ouvindo alguém articular a nossa língua, se regressar, de supetão e com uma sensação de indizível aprazimento e conforto, à pátria que nos abençoa.


Na verdade, apenas quem, lá por fora e quanto mais longinquamente melhor, rodeado de gente de outras falas, subitamente ouve linguajar em português, com ou sem sotaque, consegue, em toda a sua extensão, aperceber-se dessa força de união indestrutível que só a língua comum pode proporcionar. Por sentir o recuperar do seu próprio “eu”, da sua intransmissível personalidade, da sua bem marcada identidade face ao mundo em redor. Por regressar à pátria tão amada e protectora, a Língua Portuguesa.


É certo que bandeiras, hinos e outros símbolos artificialmente criados, pretendem materializar uma ideia de nação que se pretende um todo indivisível, uma casa em que todos sentem ter lugar próprio.


No entanto, a nossa pátria, a nossa verdadeira pátria, que ninguém jamais poderá impor e muito menos algum dia destruir, é a Língua Portuguesa. Tudo o mais, embora muito respeitável e de acarinhar sem tibiezas, são meros adereços que nada mais podem fazer do que reforçar a identidade principal.


* * *


O tema mereceria outro tratamento que, todavia, não teria cabimento neste espaço e nesta hora em que apenas se pretende alertar para uma realidade que à generalidade de quem este laudo ler afecta e certamente interessa. Em outra oportunidade tê-lo-á.


* * *


Entretanto, enquanto a hora não chega, veja mais aqui


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(O texto foi actualizado, pelas 10,15 de 16 Julho 2009, com a introdução do parágrafo que tem início em "E a que se devem essas suas características?", que constava do borrão inicial, mas que, por lapso, não foi incluído na versão original do post)

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