Os portugueses têm de salvar-se de si próprios, para salvarem Portugal

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2007

855. Resposta a Daniel Oliveira

Ao texto que inseri no post 853. Aborto livre: resumindo, entendeu Daniel Oliveira responder pela forma que a seguir transcrevo, ipsis verbis:

Podíamos perder muito tempo aqui para debater a sua argumentação. O exemplo que escolheu, o da Bélgica, seria um bom começo. É o segundo país do Mundo com menos abortos por mil mulheres férteis. Uma tragédia, como vê. O primeiro é a Holanda. Poderia discutir consigo porque é assim nestes dois países e noutros dois (Cuba e Roménia), com legislações quase iguais, é exactamente ao contrário. Podia também dizer-lhe que os exemplos que escolheu para mostrar que aborto sobre quando despenaliza são os que tem. Na Áustria, Alemanha, Dinamarca, Finlândia, Itália, Noruega e Suécia desceu (números do OMS). E que podemos debater números e acreditar nuns e noutros, mas a seriedade deste debate exige que não sejamos selectivos nos exemplos que escolhemos.


Podia depois falar-lhe do número de mulheres que morrem ou ficam estéreis ou têm problemas de saúde graves por aborto clandestino, coisa que por essa Europa fora é impensável. Mas desta parte suponho que não vale a pena falar.
Alguém que se refere a uma conhecida jornalista como «namorada do 1º ministro» mostra o respeito que tem pelas mulheres.

Já agora, o sim e o não é à despenalização do aborto, não é ao aborto. É só para ajudar. Não vá o senhor chegar ao boletim de voto e julgar que se enganou.”

* * *

Tendo em atenção a importância do que está em jogo, decidi que a resposta deveria aparecer em aberto, em post, e não apenas em comentário, por norma escondido.

Ela aí fica, portanto:

* * *

Viva, Daniel Oliveira!

Suscitou-me, creia, um sorriso – não cometerei a indelicadeza de dizer-lhe que complacente – a circunstância de ter verificado que, tendo eu referido 10 pontos no apanhado/resumo que fiz de vários posts que aqui fui deixando, o meu caro ignorou todos os restantes, os mais importantes, os realmente importantes, por sinal, e pegou apenas no que tinha relevância menos notória, precisamente porque tratava de números.


Como sabemos, os números têm importância muito relativa quando são os princípios da Ética e da Moral que estão em discussão. A esses números atribuo, pois, o valor que eles efectivamente têm, isto é, o de meros faits divers, já que estão contidos no subjectivismo que sempre aparece nestas questões e que serve para distrair as atenções do fundamental. Confesso que, se fosse hoje, talvez nem a eles me tivesse referido, porque não interessam mesmo.

Acontece até que os elenquei, porque os havia metido em outro post anterior, o 849. Argumentário pelo Não – outra achega
que, como poderá conferir, é mera transcrição minha de escrito de outrem.

Mas, confesso, jamais me passou pela cabeça que o meu caro iria neles pegar, pois que valem tanto quanto aqueles que o Daniel, e os que consigo estão, apresentam a par e passo, ou seja, nada por que valha a pena perder meio minuto.

Curiosamente e para minha estupefacção – ou talvez não… – sucedeu que o Daniel se agarrou a essa parte, esquecendo - certamente por não ter lido… –, os restantes pontos do post que comentou, onde tinha muita matéria para abordar, mas que preferiu ignorar. Como se ela não existisse. E como ela existe!... Nesse post e mais nos


* 815. É malhar em ferro frio, mas…

* 816. Este homem
* 826. Três razões médicas
* 845. A ética do Sim
* 846. A má consciência do Sim
* 847. Cai por terra outra falácia do Sim
* 848. Continuemos a falar com clareza
* 852. Quer parar por um momento e reflectir?

Efectivamente, nos restantes pontos, em qualquer deles e no seu conjunto, tinha matéria para um compêndio e, no entanto, imagine que não disse uma misérrima palavra! Eu sei que toda aquela matéria constitui algo que lhe causará muitos e terríveis incómodos, mas – que diabo, Daniel! – ao menos um paragrafozito, um mero período que fosse, sei lá, talvez uma meia frase, um subentendido, mesmo um mal-entendido... Mas não. Nada. Rien du tout.

Como eu gostaria que o Daniel alinhavasse um comentário, por exemplo ao ponto 10, aquele que refere que, do vosso ponto de vista, a solução dos alegados problemas de uma mulher grávida passa pela morte, por si própria decretada, do ser humano que traz dentro de si.

Na senda da sua posição, Daniel, também eu poderia dizer que podíamos perder muito tempo aqui para debater a sua argumentação. Mas não. Não poderemos… E sabe porquê? Porque ela não existiu. E não existiu porque não existe mesmo. Como acabou de se ver, ela, a sua argumentação, é apenas e somente um deserto. E, como sabemos, deserto é deserto. Nele nada se cria, nada se transforma, tudo se mata, tudo morre. Digo bem, tudo se mata e tudo, por conseguinte, morre. Tudo. Nada subsiste.

Quanto ao número de mulheres que morrem, ficam estéreis ou têm problemas de saúde graves, não seria mais correcto deixar-se de falácias, porque o assunto
é sério e não se compadece com pilhérias?

O Daniel não tem nada para me dizer acerca do assunto, contrariamente ao que afirma. Sabe porquê? Porque, tal como eu e tal como qualquer cidadão comum, o Daniel nada sabe sobre a questão. Não há quaisquer dados fiáveis. Dados, há apenas os vossos que, como muito bem sabe, são falsos, porque inventados ao correr de insónias a que nem o “serenal”, pelos vistos, põe termo. Mas isso não é conhecimento. É obscurantismo de Middle Age. Em que o Daniel e muitos que o acompanham andam mergulhados e em que pretendem mergulhar incautos, não é, Daniel? É como a história, por ustedes sempre tão propalada, dos 20 e tal mil abortos clandestinos anuais em Portugal. Clandestinos! Que método usam para a respectiva contagem? O da adivinhação? Obscurantismo de novo?! Ora, discutam, sim, mas numa base de seriedade, valeu?

Já agora, a título de esclarecimento: quem está equivocado, ou quer equivocar alguém, não sou eu. Será talvez o Daniel ou quem alinha pelas suas posições.

É que, sabe?, o sim e o não, não são à despenalização do aborto, são ao aborto, ele mesmo. E ao aborto livre. O que está em questão é o aborto livre, arbitrário e patrocinado e pago pelo Estado até às 10 semanas. E apenas por agora! Lá mais para diante, logo se verá…, não é, Daniel? Por isso, deixe-se de habilidades. E, se nelas quiser persistir, então engendre-as com alguma sabedoria. Canhestramente é que não. Fica mal colocado e afasta quem ainda o possa levar a sério. Sem necessidade.

Certamente que sabe o que é eufemismo. E sofisma também. Tuteia-os, não? Muito pelo contrário, gosto de chamar às coisas o nome que as coisas têm. Não gosto de as encapotar e menos ainda aprecio que alguém me julgue básico a ponto de acreditar em primarismos como esse que o Daniel ensaiou. Está habituado – mal, evidentemente… – a tratar com gente pouco lida e pensada? Ou talvez se trate de pecha atávica.

Pode ter a certeza de que, chegado ao boletim de voto, não me enganarei. Melhor: não deixarei que me enganem. Nem o Daniel nem quantos, alegre, descuidada e prazeirosamente, talvez, mas irresponsavelmente decerto, alinham no tremendo embuste que está armado.

Mas, quer saber mais uma coisa que lhe digo, esta agora para rematar?

Desta vez pode ter a certeza de que o Daniel, e outros como o Daniel, quando a votar, lançarão os boletins de voto nas urnas. Desta vez, sim, com toda a propriedade, se poderá dizer que os estarão a fechar nas urnas. Realmente! Daí, aliás, não viria grande mal ao mundo, não fosse a lamentável circunstância de nelas não enterrarem apenas os boletins de voto.

Did I made myself clear enough?


* * *

NB.-
Nota final e em footnote, porque o assunto não faz jus a outro relevo:

A senhora em causa foi apresentada urbi et orbe como namorada do noss’primêro, coisa que, aliás, me surpreendeu. Palavra! Foi assim que tive conhecimento da sua existência que, antes, ignorava por completo.

Quanto ao respeito que tenho pelas mulheres, concordo consigo: debato-me com um sério problema quanto ao respeitar mulher – ou homem – que faça uma afirmação como a que ela fez. Deixou-me estupefacto, siderado! Jamais imaginaria que alguém fosse capaz de a proferir. Mas foi...

...