Os portugueses têm de salvar-se de si próprios, para salvarem Portugal

quarta-feira, 31 de janeiro de 2007

838. Inútil e incapaz?

Se te entrar a depressão por te achares inútil e incapaz, recorda-te de que um dia foste o vencedor de uma tremenda corrida contra 200 a 500 milhões de adversários.

Quem é o inútil e incapaz?
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837. O amor é cego?...

... Então o aconselhável é apalpar, não é?
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836. A nossa pátria é a língua portuguesa


Corre por aí um convite à recolha de assinaturas de subscrição da seguinte petição:

Official Petition Promoted By The C.U. Portuguese Speakers Society Against the Closure of Portuguese course at Cambridge University.

Diz respeito à decisão da Universidade de Cambridge de encerrar os estudos de língua e cultura portuguesas.

Seria grave se fosse apenas isto. Mas é pior. Fundamenta-se a decisão nos problemas financeiros do Estado Português, cuja contribuição é de 30.000 €!

Claro que, não sendo necessário dizer mais nada, imagina-se logo o que é que acontece. Estamos em maré de encolhas… Ora, quem encerra maternidades e centros de saúde, por maioria de razão deixa que estas coisas aconteçam…

Chegámos à triste indigência... e não apenas económica.

O número de assinaturas vai agora em cerca de 1075. Mas são precisas mais, para que o encerramento não se torne irreversível.

Trata-se de um esforço que temos que fazer, já que outros, com maiores responsabilidades, a isso parecem escusar-se.

Tal como Fernando Pessoa, também nós temos que assumir que “a nossa pátria é a língua portuguesa”. Porque o resto, cada vez mais é dilapidado.

Então, defendamo-la, a nossa pátria, a língua que falamos!

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terça-feira, 30 de janeiro de 2007

835. Será verdade?

Consta por aí que que a Educação Sexual em Portugal está limitada a algo no género de, terminado o acto, dizer-se para o(a) parceiro(a):

- Obrigado, querido(a)!
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834. Como Berra o Boi






Ora experimente ir ler este texto no Berra-Boi, de Francisco Costa Afonso.
E, depois de o ter lido, releia-o.
Vale a pena.
Por vezes vale a pena ler na blogosfera.
Se vale!...
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segunda-feira, 29 de janeiro de 2007

833. Ainda o caso do aeroporto da Ota (5)

(continuação do post 832 e final do Resumo)

Entretanto…

Chegou-me a notícia de que NAER pensa encomendar um estudo para avaliar a possibilidade de construir uma terceira pista na Ota. Qualquer técnico com um mínimo de conhecimentos sobre aeroportos que saiba minimamente ler uma carta topográfica, descobre, imediatamente, que uma terceira pista não pode ser transversal às já previstas e, para ser paralela, se for a Oeste, obrigará a um desmonte gigantesco de rochas, e se for a Este, será construída, exactamente, sobre o leito da referida ribeira e a linha prevista para o TGV.

Penso poder afirmar que, hoje, a NAER não sabe, ainda, como pode ser construído o aeroporto na Ota.

Este texto já estava praticamente terminado e pronto para ser enviado, quando li no Sábado, no jornal o "Público", um texto com o título: "Governo vende mais de 50 por cento da ANA para atrair privados para a Ota".

O governo está muito mal informado. É vítima de uma campanha de desinformação conduzida pelo MOPTC para impor, sem estudos de qualquer espécie, ou, mais exactamente, contra as indicações de todos os estudos, uma solução contrária aos interesses do país, que o atrofia e diminui, e que hoje tem como principal suporte a teimosia e o capricho de um ministro que se esforça por criar situações irreversíveis, e que recentemente disse: "O novo aeroporto de Lisboa vai ser feito na Ota e ponto final." (Em Setembro, em Macau. E como acrescentou que o processo já estava decidido desde 2000, a responsabilidade nem seria dos actuais ministros).

Mas a notícia do "Público" tem algo mais. Mostra o ânimo leve com que os ministros desinformados aceitaram, no fundo para não se opor à teimosia e capricho de um colega, a transferência para entidades estranhas, não se sabe ainda quais, da efectiva soberania nacional sobre um dos sectores mais importantes para o nosso futuro: o controlo e a possibilidade de termos uma política para os nossos aeroportos. É isto que significa a privatização de mais de 50% da ANA, aceite para atrair privados dispostos a construir o aeroporto da Ota.

Se o processo for para diante, os futuros governos portugueses terão menos poder que o actual. Não poderão decidir sobre uma política aeronáutica. Terão só que se preocupar com os encargos financeiros que resultem dos acordos feitos (eventualmente mal feitos) pelos governos anteriores.

Mas o processo ainda está no início. O que se vai ver, a partir de agora, é até que ponto o governo estará disposto a ceder na defesa dos interesses nacionais para atrair privados dispostos a construir um aeroporto na Ota.

Este processo terá, assim, de ser muito melhor acompanhado e analisado pelos ministros, pelos outros órgãos de soberania, e pelos cidadãos em geral, porque o país é nosso, da colectividade, e se não temos cuidado, fica-nos muito pouco dele.

Aos deputados e à Comunicação Social acho que pode ser feito um pedido especial:

Interessem-se por este assunto, informem-se, informem, apresentem críticas e opiniões próprias, oiçam as alheias.

(a) António Brotas

* * *

Aqui fica, pois, a transcrição integral do resumo.

Outros dados foram referidos pelo ilustre Professor no decurso da palestra. Apenas serviram para reforçar o que aqui fica já evidenciado de forma iniludível: o projecto de construção do novo aeroporto de Lisboa (NAL) está, como em tantas outras situações tem acontecido, a ser conduzido com uma ligeireza e falta de sustentação alicerçada em estudos correctos e fiáveis tais, que já só não nos causa qualquer espanto, por tantas terem sido as situações similares ocorridas no passado.

Aí está, pois, mais um desastre em perspectiva, um outro elefante branco - que para o país é bem negro!... - na economia portuguesa, no desenvolvimento de Portugal.

É sabido que ao cidadão comum pouco é possível fazer para evitar estes atentados contra os interesses gerais do país. No entanto, algo se pode fazer e ninguém deve furtar-se a isso:

Esse algo é dar notícia, a mais ampla difusão possível deste e de outros documentos que esclareçam a opinião pública, na tentativa de levá-la a constituir-se forma de pressão social legítima e com força necessária para obrigar a que os governantes se capacitem - de uma vez por todas - de que governar é gerir bem e com critério os recursos públicos, em prol do bem da comunidade de todos os portugueses e não apenas de alguns privilegiados, só porque munidos de meios que lhes possibilitam obter vantagens, quase sempre de forma pouco clara e justa.

E, por agora, fiquemos por aqui.

...

832. Ainda o caso do aeroporto da Ota (4)

(continuação do post 831)

De novo a Ota e a ligação ao Caminho de Ferro

Um novo aeroporto de Lisboa terá de ser construído, mas não há qualquer urgência em decidir a sua localização nos dois ou três anos mais próximos. O que nos interessa é poder construí-lo de um modo progressivo, com custos iniciais baixos e com grandes possibilidades de expansão, o que é impossível na Ota, onde a construção demorará bastante mais tempo do que num outro lugar.

Numa nota anterior, defendi que, sem qualquer receio de atraso, devíamos dedicar o ano de 2007 a estudar os impactos ambientais e os problemas relacionados com a construção do aeroporto da Ota.

Numa outra nota, tinha chamado a atenção da NAER para o problema da consolidação dos terrenos sobre o leito de ribeiras, enumerando três soluções, e dizendo que os Aeroportos de Paris, consultor da Naer, deviam ser interrogados sobre qual a solução que preconizavam, ou, então, se assumiam a responsabilidade, de dizer que a terraplanagem podia ser feita com a simples transferência do "tout venant" de um lado para o outro. Num email que me enviou em 16 de Janeiro, a NAER transmitiu-me que : "se encontrava a analisar e a preparar as respostas para as questões colocadas".

Sem estas questões serem esclarecidas é absolutamente impossível saber como pode ser construído um aeroporto na Ota.


A prioridade dada à linha Lisboa/Porto, que não corresponde a nenhuma necessidade económica imediata do país, tem que ver, obviamente, com o aeroporto da Ota.

A RAVE/REFER tem revelado uma quase ânsia em criar situações irreversíveis. Assim, mandou fazer o projecto de troço de Pombal a Alenquer, com passagem pela Ota, da linha de Lisboa/Porto sem saber (como não sabe ainda) como é que esta linha entrará em Lisboa. O estudo (que teremos de pagar) deste troço foi entregue em Setembro no Instituto do Ambiente, para efeito da sua avaliação ambiental, o que nos termos da legislação obriga a uma consulta pública. Pedi para o ver e disseram-me que só estaria para consulta pública um mês depois. Um mês depois, informaram-me que tinha sido retirado por dois meses pela própria REFER e já me chegou a informação de que foi depois retirado por tempo ilimitado.


No documento de "Orientações estratégicas para o Sector ferroviário", divulgado pelo MOPTC, pode ser visto num pequeno esboço o traçado da linha TGV para o aeroporto da Ota. Esta linha, ao contrário das indicações iniciais, não passa no aeroporto, mas nela está prevista uma estação dita da Ota (a 7 km da povoação da Ota), onde descerão os passageiros vindos de Lisboa pela linha TGV, para tomar um outro transporte ferroviário para o aeroporto. A linha TGV que ladeia o aeroporto passa na extensão de talvez 4 km, sobre o leito de uma ribeira. A avaliar pelos estudos até agora divulgados, o acesso ferroviário ao aeroporto da Ota será, assim, péssimo e caríssimo.

(continua no post 833 com Entretanto)

831. Ainda o caso do aeroporto da Ota (3)

(continuação do post 830)

O planeamento dos Caminhos de Ferro

A história do planeamento dos Caminhos de Ferro portugueses na última década é, basicamente, a história de três batalhas, ou talvez quatro, em que duas foram ganhas e outras estão em curso.

Em 1998, ou 99, o então ministro, Jorge Coelho, criou um organismo, a RAVE, para estudar a futura rede portuguesa de comboios de alta velocidade (vulgo TGV). Foi algo feito com antecedência, o que é raro. A RAVE, presidida pelo Dr. Manuel Moura, elaborou um projecto que foi posto em discussão, como estava previsto desde o início, por despacho do ministro Ferro Rodrigues, que entretanto substituíra Jorge Coelho.

Neste projecto, que ficou a ser conhecido pelo projecto do "pi" deitado, foi previsto que haveria uma linha Norte/Sul, da fronteira do Minho ao Algarve e duas linhas transversais de ligação a Espanha, uma de Aveiro a Vilar Formoso e outra de Lisboa a Badajoz. A linha Norte/Sul passaria na Ota, por exigência imposta pelo governo desde o início. Este projecto que, foi apresentado e discutido diante de técnicos em todas as Comissões de Coordenação Regional, foi vítima, na Comunicação Social, de violentos ataques, com argumentos ao nível da indigência que o bloquearam durante dois ou três anos.

Foi dito, por exemplo, que para poupar dinheiro devia haver, em vez das duas ligações transversais a Espanha, uma só, no centro do país, ou seja, mais ou menos da Ota a Cáceres. Surgiu assim o projecto do "T" deitado, sem nenhum estudo de engenharia, em que se faria passar uma linha sobre uma das regiões mais acidentadas do país e que nunca passou de alguns riscos sobre o papel.

A batalha do "T" deitado contra o "pi" deitado, que fez o país perder a oportunidade de oiro para ter créditos da CE, só terminou nas vésperas da Cimeira Ibérica de 2003, quando o Engenheiro Carmona Rodrigues, ministro das Obras Públicas por um curto período, viu com um bom senso de engenheiro que o projecto do "T" deitado era um verdadeiro disparate.


O projecto do Dr. Manuel Moura, bloqueado durante um período em Portugal, teve, no entanto, influência em Espanha.

A primeira linha de bitola europeia em Espanha tinha sido a linha de alta velocidade de Madrid a Sevilha. O governo espanhol planeou, em seguida, construir mais linhas de bitola europeia, não unicamente para a alta velocidade, mas também para comboios de baixa velocidade, destinadas, sobretudo, a permitir o trânsito de mercadorias de França para os portos espanhóis do Mediterrâneo. Mas estas linhas eram caras. Planeou, então, construir as novas linhas de bitola europeia só do lado Leste da Península, continuando a Galiza, a Estremadura, a região de Salamanca, e naturalmente também Portugal, com bitola ibérica.

Utilizando uma tecnologia desenvolvida em Espanha, propôs-se construir perto de Medina del Campo uma estação com intercambiadores, para os comboios vindos de Madrid mudarem o afastamento das rodas quando seguissem para Oeste e para Norte. Contra este projecto, que as votava ao subdesenvolvimento e isolamento ferroviário, protestaram as regiões vizinhas de Portugal, exigindo ligação ao projecto português da RAVE, conseguindo assim linhas de bitola europeia para todo o território espanhol.

Nem sempre estamos em atraso. Sucede, porém, que depois de ganha a batalha dos intercambiadores em Espanha, ela começou em Portugal, com o projecto, quase delirante, de uma linha de Lisboa ao Porto, com uns troços de bitola ibérica e outros de bitola europeia, ligados em duas ou três estações com intercambiadores. Esta linha só veio a ser definitivamente posta de lado pelo actual governo socialista. Foi uma vitória, mas que levou tempo.

Em oposição ao governo anterior defensor da linha com intercambiadores, o actual governo socialista defende uma linha TGV toda em bitola europeia de Lisboa ao Porto, mas entendeu dar-lhe prioridade. Esta linha será um dia construída, mas o dar-lhe prioridade, agora, adia para calendas gregas a linha de Aveiro a Vilar Formoso, fundamental para todo o Norte e Centro do país, e em que os espanhóis então muito interessados. Nas vésperas da recente Cimeira Ibérica, José Sócrates percebeu que Portugal tinha, também, de dar prioridade à linha de Lisboa a Madrid por Badajoz. O comunicado conjunto dos dois países falou, assim, desta linha e a linha de ligação à Galiza, mas foi omisso sobre a linha de Lisboa ao Porto. O problema, que esteve debaixo da mesa. Ficou para a Cimeira de 2007.

Um outro problema é o da travessia do Tejo e da entrada dos TGV em Lisboa. Os estudos técnicos necessários para se avaliar a viabilidade e custos das diferentes hipóteses ainda não foram feitos. A proposta apresentada no documento: "Orientações estratégicas para o Sector ferroviário", que MOPTC divulgou em 28 de Outubro (e pode ser visto no site:
www.moptc.pt ) não parece realista.

Até 2005, o Ministério e defendeu a construção de uma ponte para o Barreiro destinada aos comboios para Badajoz, para o Algarve, para o Porto e para a Ota. Depois, a partir de 2006, considerou que teria de haver uma segunda entrada a Norte de Lisboa, para os comboios para o Porto e para a Ota. Ora, uma linha que chegue perto da Ota pode, com custos diminutos, atravessar o Tejo e seguir para Badajoz. Desaparece, assim, a principal justificação para a ponte para o Barreiro. Não parece que país possa suportar, em simultâneo, estes dois investimentos em Lisboa, e que acabam por servir mal a cidade.

No dia 6 de Março, a Secretária de Estado Ana Vitorino vai falar na Sociedade de Geografia sobre a ponte do Barreiro. É uma boa ocasião para ouvirmos falar um governante sobre estes assuntos.

(continua no post 832 com De novo a Ota e a ligação ao Caminho de Ferro)

830. Ainda o caso do aeroporto da Ota (2)

(Continuação do post 829)

O que fez entretanto a NAER.

Abriu um concurso para escolha de um consultor, tendo seleccionado os Aéroports de Paris (ADP), que indicaram três possíveis implantações para o NAL e elaboraram uma lista de estudos que teriam de ser feitos para avaliação do seu impacto ambiental. Estes estudos parciais, que foram coordenados pelo Professor Santana da UNL, constituíram os EPIA (Estudos Preliminares de Impacto Ambiental) que, apesar de terem sido apresentados só em duas sessões públicas, no Carregado e no Pinhal Novo, foram a base de um processo de Avaliação do Impacto Ambiental, ordenado pela ministra Elisa Guimarães Ferreira, em que uma Comissão de Avaliação (CA) elaborou um parecer de que transcrevo o ponto 6:

"6 – Com base neste procedimento e com a informação disponível, permitiu à CA, em termos comparativos, considerar que as alternativas de localização propostas apresentam impactos negativos significativos. No entanto, a localização do NAL na Ota é menos desfavorável que em Rio Frio (orientação E/O e N/S), por esta apresentar graves condicionantes que podem por em causa a sua sustentabilidade ambiental. "

No ponto 7a a CA recomenda ainda que : " ….logo após a decisão sobre a localização do NAL, sejam iniciados estudos de base, no sentido de apoiar tecnicamente as fases subsequentes do processo de avaliação…"

Sobre este documento a Ministra Elisa Ferreira, exarou o despacho: "Visto. Concordo. 99.07.05" e, pouco depois, apareceu na televisão a excluir a hipótese do Rio Frio com os argumentos do risco do choque das aeronaves com aves e da salvaguarda dos aquíferos da península de Setúbal.

Quase imediatamente a seguir, o Ministro João Cravinho aprovou a localização do NAL na Ota.

Ora, eu analisei o estudo sobre os choques com aves feito por docentes da Universidade Nova de Lisboa que esteve na base da intervenção televisiva da Ministra e enviei-lhe, em 19 de Julho, uma carta manuscrita, com 14 páginas, em que lhe disse que este estudo estava grosseiramente errado, e lhe pedi para nomear dois peritos da sua confiança para analisar o trabalho inicial e a minha crítica. Não tive resposta. Escrevi também a carta que (...) foi publicada no "Público" em 28 de Julho.

Nos 5 ou 6 anos que se seguiram, em matéria de localização do NAL, quase nada se passou. De facto, em 1999, o governo bloqueou a construção do NAL no Rio Frio, mas não conseguiu arrancar com a sua construção na Ota, porque as dificuldades e contra-indicações desta localização crescem dum modo incontrolável sempre que se tentam dar passos para a sua concretização.
(...)
Passarei assim para 2007. Mas, antes, tenho de falar dos Caminhos de Ferro.


(continua no post 831 com O planeamento dos Caminhos de Ferro)
...

829. Ainda o caso do aeroporto da Ota (1)

Como ficou prometido e sem comentários, por desnecessários, aqui fica, dividido em quatro partes atendendo à sua extensão, o esboço/resumo de uma intervenção do Professor António Brotas, em 25 de Janeiro de 2005, no “Clube Setubalense”, acerca do

LIVRO NEGRO
DO AEROPORTO DA OTA


Antecedentes:

1997/98. O governo decidiu que o NAL (Novo Aeroporto de Lisboa) seria na Ota ou no Rio Frio e criou uma entidade a NAER para estudar o assunto. (Estas duas hipóteses teriam sido escolhidas após estudos anteriores, que nunca tive ocasião de apreciar, que teriam levado à eliminação de todas as outras hipóteses. De facto, o governo de Marcelo Caetano já tinha escolhido o Rio Frio. O que o governo de Guterres fez foi voltar a considerar a hipótese da Ota inicialmente posta de lado).

Os encontros promovidos pelo Técnico e pela SGL

Num dia de 1997, num encontro no Técnico, sentei-me ao lado do Eng. Nuno Pedro da Silva, Secretário da Sociedade de Geografia de Lisboa, que não conhecia. Comentámos o assunto e considerámos que a escolha da localização do NAL era, exactamente, o tipo de assunto em que a Universidade, no caso o Técnico, e a SGL podiam dizer uma palavra. Contámos com o apoio do então Presidente do Técnico, Professor Diamantino Durão, e do Presidente da SGL, Almirante Sousa Leitão, de quem me lembro ter ouvido dizer que "a aventura da Geografia tinha deixado de ser a da descoberta geográfica para passar ser a da Organização do Território".

Organizamos, assim, em 1998 e 1999, três encontros, em que participaram várias dezenas de técnicos, que foram muito interessantes e tiveram bastante impacto (no primeiro encontro, que durou dois dias na sala Portugal da SGL, estiveram cerca de 250 pessoas) mas a que a imprensa praticamente não se referiu e a que não compareceu nenhum deputado.

Nestes encontros, não foram votadas conclusões, mas foi neles mais do que evidente que a Ota era uma hipótese liminarmente a pôr de lado e que, se viessem a surgir elementos contra Rio Frio, que parecia uma aceitável solução, o NAL seria na margem esquerda.

Assim, numa carta aberta ao Eng. Guterres publicada no jornal "Público", em 26/6/99, escrevi: "Acho que lhe devo dizer que a construção do futuro aeroporto na Ota é uma decisão em absoluto errada, altamente gravosa para o país, o que com o tempo se tornará cada vez mais evidente".
...
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(continua no post 830 com O que fez entretanto a NAER)
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domingo, 28 de janeiro de 2007

828. O juramento de Hipócrates

Eu, solenemente, juro
. consagrar minha vida a serviço da Humanidade.
. Darei como reconhecimento a meus mestres, meu respeito e minha gratidão. Praticarei a minha profissão com consciência e dignidade.
. A saúde dos meus pacientes será a minha primeira preocupação.
. Respeitarei os segredos a mim confiados.
. Manterei, a todo custo, no máximo possível, a honra e a tradição da profissão médica.
. Meus colegas serão meus irmãos.
. Não permitirei que concepções religiosas, nacionais, raciais, partidárias ou sociais intervenham entre meu dever e meus pacientes.
. Manterei o mais alto respeito pela vida humana, desde sua concepção.

. Mesmo sob ameaça, não usarei meu conhecimento médico em princípios contrários às leis da natureza.
. Faço estas promessas, solene e livremente, pela minha própria honra.

...

827. Aeroporto na OTA?!

Ota. Se este aeroporto vier a ser construído será certamente a maior construção da Europa em leito de cheias. Mas convém dizer mais o seguinte: a cota dos terrenos é de cerca de 5 metros acima do nível do mar e a cota prevista pelos ADP Aeroports de Paris para a plataforma do aeroporto é de cerca de 30 metros.
(…)
Convém perguntar aos Aeroports de Paris, que ganharam o concurso para assessorar a NAER (Novo Aeroporto de Lisboa), qual é a solução que preconizam.
(…)
A entrada dos TGV pelo Norte de Lisboa para irem à Ota e ao Porto é igualmente caríssima e tem grandes inconvenientes ambientais.
(…)
Quais, das futuras linhas de bitola europeia, deverão ser linhas TGV, isto é, linhas que permitam a circulação de comboios com velocidades até perto de 350 km/h?
(…)


* * *

Estas foram algumas das perguntas essenciais deixadas pelo Professor jubilado do Instituto Superior Técnico António Brotas quando, em 25 de corrente, 5ª feira passada, deu uma conferência no Clube Setubalense, subordinada ao tema “O Livro Negro do Aeroporto da Ota e o TGV”.

Na verdade, ao pretender-se implantar um aeroporto em terreno com desnível de 30 metros e alagadiço (actualmente está coberto por imenso lençol de águas de muitos metros de altura, provenientes das últimas chuvas), sem qualquer tipo de consistência o que obrigaria a uma obra de engenharia monumental, para durar não mais do que 20 anos, os governos que nos desgovernam têm vindo a dar, vezes sem conta, provas de teimosia sem nexo e verdadeira indiferença pelos destinos do país.

Só a compactação dos terrenos seria uma obra gigantesca! E o aeroporto ficaria sem possibilidade de futuras ampliações, por falta de espaço disponível. Daqui se retiram algumas certezas:

A primeira é a de que construir um aeroporto na Ota é um louco desperdício de meios e uma fonte de gastos perfeitamente inúteis;

A segunda, a de que tudo parece favorecer apenas alguns interesses não muito claros, já que a posse dos diversos terrenos não se mostra à luz do dia, antes se faz representar por empresas do tipo off-shore, assessoradas por sociedades de litígio legal;

Finalmente, por agora, a de que a tal plataforma giratória para voos intercontinentais, em compita com Madrid (Portugal tem uma situação privilegiada no que concerne às ligações com África, América do Sul e até mesmo Central e do Norte) com a consequente entrada de capitais no país, com que se tem alegre e descuidadamente, se não com sofisma, acenado ao Zé Povinho, não passa de puro engano, pois que na Ota tal é absolutamente inviável, não terá a mínima possibilidade de vir a acontecer, por completa ausência de condições no terreno e até climatéricas, atendendo à orientação dos ventos dominante na zona.

Esperemos pelos capítulos seguintes desta saga. Ainda tudo vai voltar à estaca zero, por força das circunstâncias (porque as circunstâncias, como é sabido, têm muita força…). Entretanto, avultadíssimas verbas terão sido, entretanto, deitadas para o escoadouro das águas das cheias, pluviais e do Tejo, na Ota. Que importa isso, não é verdade?

A despeito de tudo quanto fica dito, não obstante a solução ser impraticável, imagine-se: a decisão já foi tomada!

Faltou dizer ainda o seguinte: não são apenas os interesses por detrás do cortinado já referidos a fazer a sua pressão; o lobby dos autarcas da região é igualmente muito pressionante.

O Professor António Brotas teve oportunidade de distribuir alguma documentação sobre o assunto, documentação que demonstra o que tem sido dito ao público e dele escamoteado, acerca do assunto, desde 1998, na qual se inclui uma planta topográfica do local da “futura” implantação do NAER, através da qual se prova que só muito dificilmente o aeroporto virá a ser uma realidade, em face dos obstáculos com que se defronta.

Infelizmente, não me foi possível receber essa documentação, à excepção de uma fotocópia da planta topográfica, em mau estrado, mas que, mesmo assim, não resisto a revelar aqui.

Tive, porém, oportunidade de falar pessoalmente com o ilustre catedrático e aguardo a chegada de mais documentação, de forma regular, de que darei notícia à medida que for chegando ao meu poder.

Isto porque o assunto é mesmo muito sério e, consequentemente, a todos interessa.


click na imagem, para ampliar

Nesta imagem se pode ver a planta topográfica da zona de "implantação" do NAER (novo aeroporto de Lisboa).
A azul a elevação que se encontra no enfiamento da actual pista.
(Era sobre esta pista que inicialmente se pensava construir as novas. Verificada a impossibilidade, em virtude da existência da elevação - por lapso indicada como tendo a cota de 30 metros, o que não corresponde à verdade, uma vez que a cota de 30 metros é a da actual pista, sendo a de 5 metros a dos terrenmos circundantes, pelo que o desnível é de 25 metros, cujo efeito pode ser avaliado na foto que segue.
A verde a actual pista.
A vermelho o enfiamento projectado da que se pretende agora corrigir, mas sem quaisquer estudos.
A Aéroports de Paris limitou-se a traçar na planta duas linhas alternativas, sem cuidar de proceder a quaisquer estudos no terreno...

click na foto, para ampliar

Foto Heli Tours no site "Pelicano - aviação ultraligeira" - http://www.pelicano.com.pt/zp_ota.html

......

sábado, 27 de janeiro de 2007

826. "Três razões médicas..."

1 – Uma mulher normal, com uma gravidez normal e com um feto, em desenvolvimento, normal, não é uma pessoa doente. (…) Portanto, destruir um feto em desenvolvimento não é um acto médico (…). Nenhum Médico o pode praticar em circunstância nenhuma.

2 – E se a mulher grávida pedir o abortamento ao Médico, invocando motivos sociais ou económicos e declarando que não pode suportar mais o estado de gravidez e que quer que o seu filho seja retirado do útero e morto? O Médico (…) não pode dar satisfação ao seu pedido porque a função que lhe cabe desempenhar como Médico e a sua competência específica só podem estar ao serviço do diagnóstico e tratamento de doentes.
(…)
3 – O Médico não pode praticar o abortamento não só por estas duas razões, (…) (ele) sabe que esta intervenção abortiva sobre o corpo da mulher grávida, além de provocar, (…) a morte do feto, tem riscos importantes para a mãe, tanto no acto de fazer o abortamento como no futuro, no que se refere à sua saúde geral e à sua saúde sexual.
(…)
Cabe ao médico, contudo, acolher as mulheres que se fizeram abortar (…), tratar as alterações patológicas de que sofram, físicas e/ou psicológicas, e promover a informação necessária para que aquela pessoa não volte a encontrar-se na situação que a levou a fazer-se abortar.

***

Em “Três razões médicas para ser a favor da Vida e contra o aborto”, no site A Aldeia, o médico Daniel Serrão aponta mais razões por que o aborto não deve ser liberalizado, como se pretende com a consulta referendária que aí vem.

Para além das razões abundantemente apresentadas pelos opositores ao aborto livre, estes são três motivos diferentes e igualmente ponderosos, agora relativamente à profissão médica e sua deontologia.

Trata-se de um outro aspecto que interessa ter presente, este da deontologia médica (relembre-se o juramento de Hipócrates - aqui, aqui e aqui), porque, para que o aborto se concretize, nas condições que estão preconizadas, é necessário que o médico se disponibilize para ser um elemento essencial em todo o processo.

Em conclusão, diremos, mais, que estas são outras três razões para que não poupemos esforços no sentido de levar ao abortamento, este sim, da institucionalização de um crime contra o normal e justo desenvolvimento da vida humana em geral, e sua preservação, logo um crime contra a Humanidade, ela própria, como é o aborto humano sem razões médicas inafastáveis que o justifiquem.

sexta-feira, 26 de janeiro de 2007

825. Uma razão extremamente válida

Já imaginaram a miséria que é ter um filho porque não se teve dinheiro para pagar um aborto?
Fernanda Câncio, namorada do primeiro-ministro.
Transcrito do site Assim não.




* * *
...
...
...
Por acaso já, sim.
Já imaginei a miséria que realmente é...
A miséria e não só...
...

824. Pensamento alheio

Nada na Humanidade me surpreende tanto como os homens.

Perdem a saúde para juntar dinheiro
e depois perdem dinheiro para recuperar a saúde;

Por pensarem ansiosamente no futuro,
esquecem o presente de tal forma,
que acabam por não viver nem no presente nem no futuro;
...
Vivem como se nunca fossem morrer...
... morrem como se nunca tivessem vivido.
...
Dalai Lama
...

823. Pensamento alheio

Quem sabe se todas as ciências, sem a ciência do Bem,
não seriam mais nocivas do que úteis?
Sócrates
(o outro, o que, infelizmente, há muito se foi...)
...

quinta-feira, 25 de janeiro de 2007

822. "O Beijo"

O Beijo
Auguste Rodin (1840-1917)
1886
Museu Rodin, Paris
...
Click na foto, para ampliar

quarta-feira, 24 de janeiro de 2007

821. Vêm aí os chineses... (6) - Alibaba.com



Continuamos com Federico Rampini, em “O Século chinês”.

(…)
No hipermercado (…) hard-discount Costco, há um televisor de ecrã gigante em oferta especial a 229 dólares, e é possível levar para casa um leitor de DVD por 99 dólares. As marcas são a holandesa Philips e japonesa Sony, mas a Holanda e o Japão têm pouco que ver para o caso: ambos são «made in China». No Wal-Mart, o rei das grandes superfícies americanas, os preços reduzidos têm uma única explicação: 80 por cento dos produtos são oriundos da China.

A 9960 quilómetros de distância de Santa Barbara, vive Ma Yun, também conhecido por Jack Ma. A avançada arrebatadora dos produtos chineses sobre os consumidores ocidentais exerce sobre ele um efeito particular. Sentado em frente do seu computador em Hangzhou, cidade costeira nas imediações de Xangai, Ma Yun está a receber diariamente 100 000 dólares de lucro líquido, domingos incluídos.


Tinha 34 anos em 1999, quando inventou o site que hoje em dia faz tremer o eBay, o Yahoo, a Amazon: Alibaba.com é a página virtual na qual 7 milhões de importadores de duzentos países do mundo «encontram» e fazem diariamente negócio com 2 milhões de empresas chinesas.

A portagem é modesta: 5000 dólares por cabeça todos os anos. No Alibaba.com um comerciante italiano ou espanhol pode consultar e comparar entre si as diversas opções de máquinas de lavar loiça, de trens de cozinha ou de calças de ganga “made in China”, para depois seleccionar a sua preferida e efectuar a compra sem necessidade de enfrentar as dispendiosas transferências intercontinentais. Existe até um fluxo de empresas ocidentais que, através do Alibaba-com, deslocalizam a sua inteira produção para a China.
(…)

Creio que qualquer comentário ao que fica transcrito é perfeitamente dispensável, se não redundante, pelo que me fico por aqui. Até uma próxima vez. Em breve.

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segunda-feira, 22 de janeiro de 2007

817. Hong Kong by night

O esplendor asiático
Em primeiro plano, Hong Kong (a ilha), depois o porto de Aberdeen
e, finalmente, ao fundo, Kowloon, no continente.
Vista tomada do Victoria Peak
Click na foto, para ampliar
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domingo, 21 de janeiro de 2007

816. Este homem...


Este homem andaria por aí a dar uma excelente prova de maturidade, de responsabilidade, de visão de profundidade, em direcção ao futuro e prosperidade do País, se fizesse campanha no sentido de incentivar os casais portugueses a terem mais filhos, pois que, a continuar-se com a taxa de natalidade actual, em 15 anos viveremos com as calças completamente nas mãos e num país de velhos, debatendo-se com sérias dificuldades quanto a subsistência e preservação da raça.

Mas não, este senhor, em vez de apelar ao sentido humanista e generoso do povo que governa – aos tropeções e arrogantemente autoritário – não faz tal campanha.

Muito pelo contrário, anda num proselitismo que, ao fim, se resume a um incentivo a que os casais portugueses não tenham mais filhos, e se, por acaso, se virem na situação de estarem para tê-los, deles se livrem urgentemente e pelo modo mais cobarde e irresponsável que se conhece: o aborto discricionário, sem razões médicas justificativas.


Um proselitismo de morte, um proselitismo que leva à desumanização dos cidadãos é o que este homem anda a fazer. Impante, como se estivesse a fazer obra grande e louvável!

Imagine-se que nem se apercebe do mal que está a fazer ao país, actualmente como para o futuro. É que não se trata de um cidadão qualquer, nem sequer de um político qualquer, nem sequer ainda de um qualquer ministro. Está investido do cargo de primeiro-ministro!...

O aborto a pedido. O destroçar – literalmente falando e para não usar termo mais forte, mas verdadeiro e talvez a necessitar de ser dito... – de um ser humano, para evitar que nasça e cause “incómodo” à putativa mãe, ao putativo pai, ao putativo governante. É o que este homem anda a apregoar e a defender. Não é outra coisa. Apenas isto. Não vale a pena tentar iludir os factos.

Ora, um governante deste jaez não faz jus ao respeito dos cidadãos, porque não promove a vida, tão somente a morte. E, para cúmulo, dos mais fracos, dos sem defesa.


Um governante deste gabarito deve ser destituído do lugar que ocupa, porque o ocupa indevidamente, por muito formalmente democrática que tenha sido a sua investidura.

Um homem destes, alcandorado ao lugar em que se encontra, envergonha-nos sem medida, como cidadãos. É uma afronta sem nome. Muita gente ainda não se apercebeu disso, mas tempo virá em que as coisas se tornem mais evidentes e, então, toda a gente perceberá.

Um homem destes não é cidadão que mereça exercer um cargo de governação de uma junta de freguesia, quanto mais a de um país com quase nove séculos.

Falta-lhe preparação, falta-lhe postura - e não só de Estado -, falta-lhe a noção da profundidade, espacial, mas principalmente histórica, do país que afirma governar, falta-lhe, acima de tudo, a razão, a legitimidade - a legalidade tê-la-á, mas esta qualquer um a pode obter, mesmo sem que a ela faça jus, pois basta que resulte de um equívoco - para se sentar onde se senta.

Constitui tarefa impostergável dos cidadãos – e dos políticos em primeira análise – a de criarem condições para o desbancar do trono de morte em que se alapardou.

Para que Portugal volte a ser um país digno do respeito alheio.
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815. É malhar em ferro frio, mas...


Para mim é simples. Entendo que os valores ético-morais de preservação da vida humana, qualquer que ela seja, são valores inamovíveis, que não podem ser relativizados, ou seja, prezar-se e defender-se a vida, sim, mas apenas em determinadas circunstâncias.

Ora, entendo que a vida humana - seja ela qual for, insisto - não é adjectivável. Trata-se de um valor absoluto, não relativizável, como disse acima. É mesmo peremptório.

Além disso, o facto de se continuar a praticar o aborto clandestino não é fundamento que "autorize" a que se legalize qualquer prática abortiva de cariz necessariamente arbitrário; também o homicídio, o simples roubo, o ainda mais simples furto, a mais ligeira contravenção rodoviária continuam todos a verificar-se também clandestinamente e clandestinamente vão continuar a dar-se, pois que não será - não poderá ser - autorizada a sua legalização.

Há, na argumentação do SIM demasiadas contradições insanáveis.
E nem seria necessário que houvesse tantas.

Bastaria uma para que o princípio do in dubio pro reo, que é um princípio inafastável do são Direito Penal - que, afinal, apenas não é aplicado a um ser que, por ainda não dispor de autonomia e estar completamente indefensável, porque quem mais o deveria defender é precisamente quem mais o ataca, não deve ser esquecido, incapaz de manifestar a sua vontade - sim, bastaria essa salvaguarda, que é oferecida a qualquer homicida do tipo serial killer, para que não fosse trucidado, não apenas nos direitos que lhe assistem, como, pior, muito pior, nas próprias entranhas.

Assim o entende mesmo a nossa Constituição, na parte em que é, na verdade, um documento notável, ao decretar que a vida humana é inviolável. E acrescenta que, pelo facto de a vida humana ser inviolável, em caso algum haverá pena de morte. E não a haverá, mesmo que legalmente decretada, por tribunais, quanto mais, por maioria de razão, não a poderá haver, partida de mera vontade arbitrária de uma pessoa, a putativa mãe, anormal e exclusivamente a putativa mãe.

Quanto à questão da vida, do início da vida, os especialistas são hoje já unânimes em concordar que, logo que o espermatozóide alcança o óvulo, a vida está iniciada, pois estão lá - e reunidos e interagindo - todos os elementos, requisitos e características necessários a que ao novo ser seja conferido tudo aquilo que ele será no futuro, sob o ponto de vista biológico e até filosófico.

Ora, assim sendo, resta averiguar em que momento o espermatozóide chega ao óvulo, o perfura e ao seu interior acede. Aqui, variam as opiniões entre 4 - dizem uns - e 5 - outros afirmam. Dias? Não, apenas horas, contadas do momento da união sexual, terminado no orgasmo e ejaculação.

Em face destas circunstâncias, como é que se pode hesitar sequer?

Sou decididamente pelo NÃO.


A benefício de quem assim quiser, aconselho vivamente a ler a extensa e variada literatura técnica e de outra índole, constante do site A Aldeia, no que reporta ao aborto.

Acho que é elucidativo, exaustivo e sem prosélitas inflamações, sempre prejudiciais a uma serena apreciação das circunstâncias e da pesagem isenta da argumentação pró ou contra.
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814. Vietnam e Cambodja


Vietnam ...
...
Talvez...
...
...
...
Angkor Wat
Cambodja
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813. Leia este artigo e... chore

Sim, leia no "Jornal de Negócios" o artigo Somos todos infractores fiscais, de Eduardo Moura, e... chore. Talvez alivie um pouco. Ou, então, mais eficaz, desate à

porque isto não vai lá de outra maneira..

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sexta-feira, 19 de janeiro de 2007

812. Nada há a fazer...

… eles são assim mesmo.

Isentos e sempre com a preocupação de não misturar alhos com bugalhos. Por isso os aprecio tanto!…

Maria José Morgado defende que aborto ilegal gera corrupção

"O aborto ilegal é um negócio que produz dinheiro sujo." A frase é de Maria José Morgado, procuradora-geral adjunta, ontem numa conferência parlamentar do PS intitulada "Sim à despenalização da interrupção voluntária da gravidez (IVG)". A magistrada responsável pelo acompanhamento do processo do Apito Dourado foi ao Parlamento alertar para a necessidade da mudança na lei penal. Uma mudança que, vencendo o "sim" no referendo, irá constituir-se como uma "descriminalização relativa e limitada por um período temporal" [até às dez semanas], assumiu. (…)
Diário de Notícias – 18 Janeiro 2007

Aí está. A magistrada do MºPº mais badalada de há anos para cá, o protótipo do que deverão ser os magistrados do “Ministério Público”, a magistrada modelo. O cadinho onde deveriam ser moldados todos os “manos pedros – e as manas, claro… - cá do burgo, aí está a mostrar o caminho que todos os comparsas e colegas devem seguir.

Curiosamente, quando o actual PGR a chamou para o lugar que agora exerce, com todas as parangonas e panegíricos que tivemos oportunidade de apreciar, comentei para amigos meus:

- Vão ver que, não tarda nada, a senhora está a misturar a função que deve exercer com toda a isenção, com política de capela da mais restrita e parcelar opção!...

Por que disse eu isto? Porque sou adivinho? Não!...

Era fatal como o destino, fatal como o destino foi.


Que querem? Eles são assim… Nada há a fazer… Capazes de se servirem de todos os meios.

E previsíveis. Sempre previsíveis. Absolutamente incapazes de, ao menos uma vez, não o serem…

811. Aniversário

Hoje, a Isabel e eu fazemos 36 anos de casados.

Embora sabendo que vai parecer démodé, nada in, provinciano, bacoco e pacóvio, atrevemo-nos a dizer isto:

- Ainda não nos cansámos. E no horizonte nem se prenuncia que venha a acontecer. Está visto , somos uns palermas.
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quarta-feira, 17 de janeiro de 2007

810. Senhor ministro, é uma anedota?


O Ministério da Saúde concluiu que foi correcto o socorro prestado a um homem vítima de acidente, na zona de Odemira, que viria a falecer, a semana passada, afastando a hipótese de realização de um inquérito.

"Concluiu-se que as intervenções do INEM, através do CODU [Centro de Orientação de Doentes Urgentes], a acção do Centro de Saúde de Odemira e o acolhimento no Hospital de Santa Maria foram correctos e cumpriram as normais e orientações de serviço", anunciou, em comunicado, o Ministério da Saúde.

O ministro da Saúde, Correia de Campos, determinou "que não há lugar a procedimento de inquérito", uma conclusão divulgada no final de uma reunião entre representantes de entidades envolvidas no socorro à vítima do acidente de viação, destinada a analisar as formas de melhoria do desempenho da rede de urgência/emergência do Alentejo. (…)
Site da RTP

Depois de se ler isto, apenas uma afirmação se pode fazer:

- Senhor ministro, é uma anedota, não é verdade?

Efectivamente, aquilo que o senhor afirmou, fê-lo com intenções humorísticas, de anedota, no estilo do “Portugal no seu melhor”, não foi? Só pode ter sido.

Então o senhor ministro afirma que tudo correu bem, todos os procedimentos de toda a gente foram correctos e um homem em estado, pelos vistos gravíssimo, levou sete-longas horas-7 (!!!) a chegar de Odemira ao Hospital de Santa Maria!

Dizer uma coisa destas, senhor ministro, só de anedota, melhor dito, por anedota.

Senhor ministro: de burro, o homem teria demorado menos a chegar ao destino. Seguramente.

Mais uma vez a culpa vai morrer solteira. Isto está a assumir foros de escandaleira de gravidade extrema e sem remédio.

Será que o senhor, ministro que nos trata da saúde, não “alcançou o alcance” das suas palavras?

É que, se todos procederam correctamente, “cumprindo as normais orientações de serviço”, pelo que, em sua avisada opinião, não há razão para se apurarem irregularidades nos procedimentos, então, senhor ministro que nos emociona a cada dia que passa, então é porque as normais orientações de serviço não são mesmo normais. Porque não é normal que um sinistrado grave - e mesmo em risco de vida - demore 7 (sete, senhor ministro!!!) horas a chegar de Odemira a Lisboa, neste "quintaleco" que, territorialmente, é o país em que vivemos e que V.Exa e tantos outros, anterior e actualmente, governaram e governam mal e descuidadamente.

E se, mesmo assim, o senhor entende que é tudo normal, então não sei que lhe diga mais. Francamente, não sei...

Dê-lhe as voltas que quiser, mas não há dúvida que alguém não cumpriu as normais orientações de serviço. Não sei quem, mas alguém o fez, certamente.

E se não foram os variados socorristas, então, pelo menos, foi o senhor ministro ou, não o tendo sido também, foi alguém do seu governo que não cumpriu o seu dever, não tendo fornecido aos diversos serviços as orientações correctas e, essas, sim, normais. Sim, porque quaisquer orientações que não vão no sentido de assistir integralmente e com urgência um sinistrado daquela gravidade, de modo a dar-lhe possibilidade de continuar a viver, são orientações anormais, anormalmente decididas. E têm que ser banidas dos canhenhos governamentais.

Só por anedota, senhor ministro, o senhor pode ter dito o que disse. Só por anedota. E o assunto não se presta a anedotas. Não concorda?

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809. Vêm aí os chineses… (5) – A intérprete de Deng

在这里,我再度是
(Aqui me tem de novo)

A descrição de Federico Rampini deixa-nos, mesmo àqueles que foram prestando alguma atenção ao despertar chinês, verdadeiramente perplexos. Lendo agora isto e rememorando o que in loco foi visto recentemente, não canso de me confessar estupefacto e... expectante!

Rampini, novamente:

(…) A 7 de Dezembro de 2004, a IBM, a multinacional norte-americana que, mais que qualquer outra, associamos à informática, vendeu, por 1,75 mil milhões de dólares, toda a sua actividade no sector dos computadores pessoais a uma empresa estatal chinesa, a Lenovo. Um dos símbolos do capitalismo americano e da tecnologia passa de facto a estar sob o controlo do partido comunista de Pequim. É uma viragem que teria sido impensável ainda há poucos anos. Vem confirmar a ascensão económica chinesa e as transformações nos equilíbrios de forças da economia global. É uma época que chega ao fim. A IBM, de acordo com uma sondagem da Business Week, é a terceira empresa americana mais conhecida no mundo inteiro depois da Coca-Cola e da McDonald's. (…) Ainda que não tenha sido a IBM a inventar o computador pessoal, foi esta a impô-lo nos mercados mundiais como um produto de massas, inaugurando a era da informática difundida a partir de 1981.
A empresa de Pequim que conquistou a IBM - e cuja designação original era Legend - é já hoje em dia o primeiro produtor de computadores na China e em toda a área do Pacífico asiático. o grupo chinês saltou para o terceiro posto mundial, atrás das norte-americanas Dell e Hewlett-Packard-Compaq. O presidente da Lenovo, Yang Yuangqing, declara: «Nós não vamos ficar por aqui, não nos contentaremos com o terceiro lugar.»
Numa primeira análise, a operação representa até uma espécie de deslocalização às avessas. Estamos habituados a que as multinacionais dos países ricos, para reduzir os custos, descentrem a actividade e os postos de trabalho para a China. Desta feita, a multinacional chinesa assume a seu cargo 10 000 funcionários da IBM, dos quais 4000 trabalham já em instalações chinesas, enquanto 2500 se encontram em território dos Estados Unidos, e os restantes, espalhados pelo resto do mundo. O emprego daqueles 2500 norte-americanos depende agora das decisões tomadas por Pequim. É possível que um dia a empresa dirigida pelo partido comunista tenha de anunciar despedimentos e negociar no papel de patrão com os sindicatos da América capitalista.
(…) Um outro sinal dos tempos é visível na ausência de resistência na América. Nos anos 80, quando o Japão estava forte e as suas multinacionais invadiam os Estados Unidos através da compra da Columbina e do Rockfeller Center, difundiu-se a psicose do «perigo amarelo». E, no entanto, o Japão, por muito competitivo que fosse então no plano industrial, do ponto de vista político, era um estado-vassalo, que contava com a frota militar dos Estados Unidos nos seus portos. A China não é certamente um satélite, pelo contrário, a administração Bush considera-a um rival estratégico. Por que motivo o governo dos EUA não procurou impedir a operação?
Antes de mais, porque a entrada da China na competição mundial transformou os computadores num objecto de uso quotidiano, produzidos em larga escala e cujas margens de lucro são arriscadas: como tal, a lógica económica incita a indústria americana a evitá-los. Para além disso, as regras da OMC dificultariam um veto político e a China poderia retaliar contra as multinacionais norte-americanas que investem no seu território, desde a Microsoft à General Motors. Por fim, a China possui um formidável poder contratual em relação a Washington: no final de 2004, o seu Banco Central acumulou 600 mil milhões de dólares de reservas monetárias, dos quais 200 mil milhões em Títulos do Tesouro dos EUA. Pequim é o banqueiro dos Estados Unidos.
Para além da neutralidade de Bush, surpreende a ausência de reacções negativas por parte da opinião pública norte-americana. Não se registaram sinais de alarme nem no mundo político, nem no sindical. No dia seguinte ao anúncio, entre os meios de comunicação social destaca-se um The New York Times muito positivo que traz como título «Uma ponte entre duas culturas», sublinhando, em tom satisfeito, que a Lenovo se prepara para transferir o quartel-general dos seus computadores pessoais para Nova Iorque (embora continue a manter as suas sedes estratégicas de Pequim e Hong Kong), e cita um economista que considera a operação «um sinal encorajador da criação de laços cada vez mais fortes entre a China e os EUA».

(…) A história da Legend-Lenovo, e a personalidade dos seus dirigentes, ilustra a estrepitosa transformação ocorrida na China.
(…) Todavia, uma vez abertas as fronteiras, a Legend suporta magnificamente o choque da concorrência. Escolhe o slogan: «It's cheap, it works, and it's Chinese» (é barato, funciona e é chinês).
(…) Actualmente a Legend detém o primado absoluto, com 28 por cento dos computadores vendidos na China. Dell, IBM e HP não chegam, todas juntas, a metade das suas vendas.
(…) Uma outra consequência surpreendente deste acontecimento é que a dirigente mais poderosa do grupo Lenovo é uma mulher de cinquenta anos, Ma Xuezheng, directora financeira, responsável pela cotização na Bolsa de Hong Kong e das relações com os investidores estrangeiros. A sua biografia é um exemplo da atribulada história chinesa. Em 1976 - o ano da morte de Mao e o momento em que é assinalado o fim da Revolução Cultural – Ma Xuezheng consegue obter a licenciatura na Escola Normal de Pequim apesar da crise do sistema universitário provocada pelas campanhas dos Guardas Vermelhos contra a «cultura burguesa».
Durante aqueles anos de isolamento para a China, vai para Inglaterra estudar a língua e a literatura inglesas. Regressada à pátria, entra na prestigiada Academia das Ciências Sociais e torna-se intérprete dos dois líderes políticos fundamentais na história das últimas décadas: Deng Xiaoping e Hu Yaobang. O primeiro é o homem das reformas, que abre a China à economia de mercado. O segundo, secretário do partido entre 1980 e 1987, possui ideias tão democráticas que simpatiza com os primeiros movimentos de contestação estudantil; em 1987, é obrigado a demitir-se e quando morre, em 1989, o seu funeral é a faísca que faz explodir o movimento da praça Tien’anmen. O trágico 1989 é o ano em que Ma faz a mesma escolha que muitos jovens da sua idade: abandona o mundo da política e dedica-se aos negócios. Ma e a sua geração estão a atingir metas que teriam deixado estarrecido até mesmo um visionário como Deng: agora os gestores e os engenheiros da IBM recebem ordens da sua antiga intérprete.
(…) Um mês decorrido sobre a operação Lenovo na América, é a vez de o magnata Li Ka-shing de Hong Kong causar furor em Paris: compra a Marionnaud, a maior cadeia de perfumarias da Europa, com 500 lojas em França e outras centenas de pontos de venda espalhados pela Itália e a Espanha, a Suíça e a Áustria.
(…) o governo de Pequim encara-o (a Li Ka-shing) com benevolência, e esta China capaz de comprar empresas desperta a imaginação dos franceses. A operação Marionnaud acabou por ir parar à primeira página do diário francês Le Monde, até porque o preço causou celeuma: quase mil milhões de euros. Um preço excessivo, no parecer de muitos especialistas. A confirmação de que, para os grandes grupos chineses, os recursos financeiros não constituem um obstáculo.
A indústria francesa, habituada como a italiana a lamentar-se da concorrência desleal do «made in China», vê-se obrigada a rever os seus preconceitos: a China já não se contenta em ser a fábrica do planeta, o exportador de bens de baixo valor acrescentado. Chegou a hora das multinacionais chinesas. (…) Aos franceses que inventaram os «campeões nacionais» - grandes empresas a serem mantidas com recursos estatais, porque determinam a competição global - causa uma certa impressão vê-las tornar a surgir em Pequim. O senhor Li Dong-sheng, de 47 anos de idade, presidente da Ta, é também membro do Congresso Nacional do Povo. A convivência entre política e negócios é passível de ser criticada... desde que nos esqueçamos de quantos présidents-directeurs-généraux parisienses das indústrias pública e privada iniciaram a respectiva carreira nos gabinetes ministeriais.
Tendo em conta que a China é a segunda potência económica atrás dos Estados Unidos - se convertermos o PIB em paridade de poder de compra -, no futuro, o «lugar» das multinacionais chinesas no mundo não será marginal. Antes de ter lançado os seus campeões na campanha de aquisições no estrangeiro, Pequim acolheu as empresas estrangeiras em sua própria casa. 59 por cento das exportações chinesas são realizadas por grupos estrangeiros. Para um país desta dimensão, trata-se dum grau de abertura sem precedentes.
Seguramente, nem o Japão nem a Alemanha, nem a França nem a Itália, países com uma tradição capitalista mais antiga, alguma vez deram mostras do pragmatismo que tiveram os chineses ao deixar-se primeiro «colonizar» pelas multinacionais para depois aprender com elas e transformarem-se em seguida em conquistadores.

(...)

Aqui está o pé em que as coisas actualmente se encontram. Mas há mais, muito mais. E 2008, podem crer, vai ser o ano das surpresas em catadupa.

很快,我将跟你一起,再次
(Em breve estarei consigo uma vez mais)

Nb.- A foto foi recolhida no interior da gruta das Flautas de Cana, em Guilín.

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808. "Vacina para o cancro II"

Sob o título Vacina para o cancro II, escreve Diogo Alvim, em Blogadíssimo:

E agora, sem ser em pergunta para os médicos, pergunto mais aos Senhores Ministros da Saúde e das Finanças.

Nas notícias da Lusa, pude ler mais sobre esta vacina e dizia lá o seguinte: "O cancro do colo do útero mata uma mulher a cada dois minutos - uma por dia em Portugal - e destrói a vida sexual, familiar e social das sobreviventes deste carcinoma. Portugal tem a mais alta incidência da Europa deste cancro, cuja principal causa é o vírus HPV, registando 900 novos casos por ano e mais de 300 casos mortais."

Também é dito que a vacina deve ser tomada em três doses e que cada dose custará cerca de €160,00 e que o Estado não comparticipará tal vacina. Eu até compreenderia se me dissessem que o Orçamento de Estado está depauperado e que estamos na miséria, logo o Estado não pode comparticipar nem que seja com 20% ou 30% da vacina. Mas a sério que, depois de ter sido dito que caso o Sim à liberalização do aborto ganhe, o Estado está disposto a comparticipar os abortos, eu já achava que estavamos a nadar em dinheiro.

Como contribuinte, e já que o dinheiro é escasso, prefiro que o Estado comparticipe uma vacina 100% eficaz que pode salvar a vida a 300 pessoas por ano e a saúde de outras 600 que não morrem, a que comparticipe a morte de uma vida humana absolutamente inocente e dotada de um DNA diferente dos seus Pais.


Não podia estar mais de acordo com Diogo Alvim. Direi mesmo mais: é uma vergonha o que se passa actualmente em Portugal. Nunca a demagogia foi tão infrene - e tem-no sido muito ao longo de muitos anos - e jamais os valores morais e éticos tão trucidados.

Vão-nos valendo alguns Alvins que por aí andam. Alerta e com noção do valor da ética social.
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terça-feira, 16 de janeiro de 2007

807. "A aldeia"

Se tem genuíno interesse em se documentar acerca da formação da vida humana, início do novo ser, etapas do desenvolvimento intra-uterino, aborto e tantos outros temas relacionados com o assunto, aconselho vivamente a que visite o site A aldeia. Para aceder, click na imagem.

Além do tema acima referido, outros há com evidente interesse, dispondo de abundante informação especializada, recolhida em diversificadas fontes.

Independentemente da posição que tem sobre o assunto do aborto, uma visita ao site só lhe trará benefícios, pela exaustiva informação que ali poderá colher.

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806. Vêm aí os chineses… (4) – Fórmula Um

您好跟每个人
(Boa tarde a todos)

Reporto-me, como sempre, a Federico Rampini, correspondente em Pequim do jornal italiano La Repubblica:


(…)
“A corrida de automóveis mais importante da história”. Assim definiram os dirigentes da Mercedes o Grande Prémio de Fórmula Um disputado em território chinês. Não pela emoção do resultado (…) mas (…) pelo “início de uma nova era”.


A 26 de Fevereiro de 2004, a F1, o desporto que exprime todos os excessos da sociedade consumista estreou-se no coração do novo capitalismo global (….) em Xangai, a sedutora capital dos negócios e da moda na nova China pós-comunista.

(…)
O novo circuito de Xangai-Jiading – uma obra no valor de 300 milhões de euros – foi concebido pelo especialista alemão Hermann Tilke, possui uma estrutura futurista com o formato de uma asa de 140 metros de comprimento (…). É a cenografia do espectáculo que o canal de televisão estatal chinês CCTV transmitiu para o maior número de ecrãs do planeta: a população de 1,3 mil milhões encontra-se agora praticamente toda “catodizada”. Na China, o rosto de Michael Schumacher sorri nos cartazes ao longo das auto-estradas (…).

“A aquisição de automóvel é o símbolo de estatuto desta geração da China, com o boom da economia e da difusão do bem-estar material em massa, tornámo-nos os novos adeptos do volante”, afirma Yu Zhifei, gerente do Shangai Internacional Racing Circuit.

(…)
Se bem que seja verdade que na China o rendimento médio ainda não ultrapassa os 1000 euros por ano, entre os 1,3 mil milhões encontram-se 200 milhões da classe média urbana que podem aspirar ao automóvel e 20 milhões de neoburgueses com um nível de vida elevado, mesmo segundo critérios ocidentais.

(…)
A Ferrari inaugurou o showroom de Xangai no início de 2004 com a intenção de abrir uma rede de concessionários em mais 12 cidades, dentro de ano e meio. A BMW revela uma informação surpreendente: as suas viaturas 760Li de 12 cilindros, o topo da gama alemã, vendem-se mais na China do que em qualquer outro país do mundo. As séries 3 e 5 têm uma saída tão grande que a casa bávara as fabrica aqui. E, não menos importante, impõe aos seus fornecedores de componentes que se mudem com ela para a China. (…) Um outro nome célebre nas viaturas de luxo, a Cadillac (…), prevê que dentro de cinco anos um quarto das suas vendas a nível mundial será efectuado na China. (nota: e Rampini esqueceu-se de falar na Buick, cuja frota na China, a nível de monovolumes, é assombrosa!...)

(…)
Os investimentos estatais para adequar as estradas não podem deixar de encorajar a tendência da motorização em massa. À China bastaram dez anos para construir a segunda rede de auto-estradas do mundo, depois dos Estados Unidos: 35.000 Kms. Em 2005, o governo de Pequim aprovou um novo programa tricenal (30 anos) para aumentar as auto-estradas até aos 85.000 Kms, incluindo um projecto (nota: politicamente muito controverso…) de um túnel submarino que ligue o país a Taiwan!!!

(…)
Os investimentos na rede rodoviária são elevados, assim como a velocidade a que estão a ser construídas as novas linhas de metropolitano.

Pequim (…) possui uma rede de auto-estradas urbanas que em nada ficam atrás das highways de Los Angeles (…). Em pleno centro da capital não é raro encontrarem-se vias de oito faixas. Pequim acabou agora de construir o seu sexto anel concêntrico de circunvalação urbana e, para as Olimpíadas de 2008, tem projectado o sétimo.

(…)
Depois de anos de aplicação de elevadas taxas aos automóveis de importação, o governo chinês obteve precisamente aquilo que queria: as marcas americanas, japonesas, europeias, para poderem ser competitivas, tiveram de transferir as suas fábricas para a China. Ora, se não conseguem vender no mercado local toda a sua produção, vêem-se obrigadas a exportá-la. Assim, os operários chineses da Audi farão concorrência aos operários alemães da Audi. Para além disso, a China obrigou as multinacionais estrangeiras a aliarem-se aos produtos chineses. Desta forma, foi “treinada” uma concorrência local.(…)
Fim de transcrição

E a China começou já a comprar grandes marcas no estrangeiro. A Sangyong, na Coreia do Sul, e a MG-Rover inglesa, são exemplos. Mas muitos mais há.


Chamo a sua particular atenção para a parte final da transcrição, que sublinhei a bold. Leia e medite. Certamente que chegará a uma conclusão interessante. E tremendamente incómoda.

Entretanto, enquanto isto se vai passando da forma que se relata atrás, que faz a Europa, já “entalada” entre os USA, o Japão e a Coreia do Sul?

Perde-se em tergiversações, na contemplação do próprio umbigo, sem se aperceber de que à sua volta o mundo está em completa e rapidíssima transformação é não é já o mesmo que era aqui há 5-10 anos atrás.


Há uma caducidade mental e incapacidade de acção, mesmo tolhimento de reacção nos políticos e empresários europeus, que não augura nada de bom para a “velha, caduca e decadente Europa”. A breve prazo, muito breve prazo...

Sim, enquanto “lá fora” se trabalha no duro, para conquistar a vida, na Europa vive-se do passado e de questiúnculas estúpidas e sem sentido. Bruxelas e Estrasburgo são hinos à incompetência geral. Que não levam a parte alguma que não seja ao fundo do poço. Lamacento, pútrido, sem vida, repletos de mortos-vivos, que só ainda não são mortos-mortos, por nem terem percebido que já morreram.

Os chineses vêm aí?! Mas eles já estão cá. A cada esquina. Vamos rasgar os olhos também? Só para não destoar…

Este alheamento, esta atitude de tacanhez mental profunda, este “chamberlanismo” comercial, industrial, geral, enfim, reporto-o à Europa.

Quanto a Portugal, nem vale a pena falar. Com as caricaturas de políticos que nos têm governado e continuam, com os empresários de vão de escada que temos, sempre à espera de que alguém faça o que só a eles cabe, com a força de trabalho que também há por aí, que só respeita direitos que ainda nem sequer adquiriu, mas é lesta a enjeitar deveres, o
nosso destino está traçado: já temos os olhos rasgados.

我将回来
(Hei-de voltar)

(espero que antes de que os chineses dominem o mundo…)

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NB.-
A foto, sobre que deve clickar, para ampliar, é uma vista aérea da Praça Tian'anmen (Praça da Paz Eterna).
Do lado esquerdo do observador, o edifício da Assembleia Nacional Popular;
do lado direito, o do Museu Nacional da China;
ao fundo, depois da grande Avenida da Paz Celestial, todo o conjunto da Cidade Proibida e seus telhados de tijolo;
no interior da Praça, o Mausoléu de Mao Dze Dong.
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segunda-feira, 15 de janeiro de 2007

805. A questão é saber…


... como é que alguém, que se insurge frontal e decididamente contra a aplicação da pena de morte, já não o faz contra o aborto e, muito pelo contrário, o aceita e até reclama.

Será que não haverá uma ponta de incoerência e mesmo hipocrisia numa destas atitudes? Ou se defende uma ou a outra; as duas, em simultâneo ou em alternância, consoante interesses escusos e em atitude pouco esclarecida, é que não pode ser.

Há valores que não é possível serem sujeitos ao capricho de conjunturas, por mais ululantes que se mostrem. Porque são valores perenes e incontornáveis, por inamovíveis.

O valor em causa nestas duas situações é um deles. É mesmo o mais importante de todos.

Pretender contrariar isto é oportunismo inadmissível e de abjurar de uma vez por todas. Sem eufemismos.

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Ficamos entendidos, não?

804. Vêm aí os chineses… (3) – A geração Ikea

Prossegue Rampini:

A minha tradutora Zhang Yin passa lá (nos armazéns Ikea de Pequim) todos os fins de semana, com o marido, para decorarem a nova casa. A agente mobiliária Liliana Xu compra lá tudo, até mesmo as toalhas das mãos. Zhimin Ma, funcionária duma multinacional farmacêutica, gastou num armário o equivalente ao que o pai ganha em dois meses. É a geração Ikea de Pequim. Os membros da classe média (nota: mais de 200 milhões – Os USA têm 260 milhões de habitantes...), na faixa dos 30 anos de idade, decoram as respectivas casas apenas ao estilo informal mas sofisticado sueco, de design jovem, madeiras claras e linhas ultramodernas.


(…)
Dado o sucesso, os suecos inauguraram um segundo hipermercado do móvel na capital e possuem outros quatro em Xangai, Shenzhen, Guangzhou (Cantão) e mais dez em construção por toda a China.


(…)
A geração dos pais e das mães que viveram a revolução cultural dos anos 70 – os estudos interrompidos, o trabalho nos campos – ou as esperanças políticas dos anos 80 desfeitas na Praça Tian’anmem consola-se hoje em dia com a prosperidade destes filhos. Zhimin, com duas licenciaturas e fluência em três línguas, trabalha na empresa farmacêutica italiana Bracco e aufere um salário oito vezes superior ao do pai (nota: professor de liceu, residente a 4 horas de Pequim e com um salário mensal de 150€): é o bilhete de entrada no novo mundo do Ikea, das idas às compras aos supermercados Carrefour, Matro, Wal-Mart; dos restaurantes de comida rápida Pizza Hut, KFC, dos cafés Starbucks, dos automóveis Volkswagen (nota: o modelo mais baixo é o Passat) e Buick.

Todavia, mesmo em Pequim, este novo mundo não se encontra ao alcance de todos. O rendimento médio na capital, revelam as estatísticas oficiais, é de precisamente 2500 iuanes (250€) por mês.

(…)
Mas a média estatístuica não passa de uma abstracção, num país que, numa questão de meia dúzia de anos abriu no seu interior desigualdades mais profundas que as existentes na Índia.
(...)

Cabe agora aqui referir que, paredes meias com este trem de vida há em Pequim outro. Aquele que se serve do célebre comércio tipicamente chinês, aos preços chineses habituais. Mesmo o próprio Ikea criou uma secção de objectos ao preço único de 1€, para aqueles que não dispõem do poder de compra acima descrito. Também eles são contemplados e neles se está a incutir o espírito consumista, com vista ao futuro.

Onde antes existia apenas uma classe, a dos chineses comuns, todos por igual, de onde apenas se destacavam os dirigentes políticos, notam-se, agora claramente, três estratos sociais, a saber:


* as grandes fortunas, os multimilionários;
* a classe média – a tal que não existia e tem agora salários da ordem dos 250€ mensais;
* os chineses tradicionais, com os rendimentos abaixo deste nível.

O que não se encontra, nem na China do Norte (Pequim, Xi’an), nem na do Centro (Shanghai), nem na do Sul (Guilin) – é qualquer sinal de miséria como se topa por todo o lado na Índia, no Nepal, no México…


E não se encontra igualmente, o mínimo sinal de restrição de acesso seja a que local for. Impressionante!

Voltarei.